Artigo publicado originalmente em 23/08/2012
Você se considera uma pessoa importante? Olhando pra você mesmo, você reconhece valores que as outras pessoas não notam? Há um mecanismo praticamente desconhecido no universo a que chamamos “humanidade”. Uma pequena parte, uma mínima fração da humanidade é a parte que lhe coube. Trata-se de uma individualização da humanidade que, além de Deus, só você percebe realmente, uma parte que só você acompanha todo o tempo. Essa parte da humanidade é você.
Você tomou conhecimento de si mesmo há alguns milênios. Vem aperfeiçoando essa “consciência de ser” uma reencarnação após outra, cada vez melhorando um pouquinho. Ninguém lhe conhece a fundo, fora você mesmo. Só você conhece suas verdadeiras intenções, os seus desejos secretos, os seus reais anseios. Os seus sonhos, que é claro que você tem, e nunca contou a ninguém. As suas velhas dores, de que você precisa se livrar com coragem. Tudo isso é só você que sabe, é só você que conhece, é só você que sente.
Você é espírito imortal, único, diferente de todos. Não há no mundo ninguém igual a você. Como não gostar de você mesmo? Você sabe como você é especial. Você sabe como tenta fazer o melhor, como gostaria que reconhecessem seu valor, suas qualidades.
Você. Só você? E os outros? Não há ninguém igual a você, mas também não há ninguém igual a nenhum dos outros. Todos são únicos em sua individualidade, e todos são um só em essência, em humanidade.
Você alguma vez já olhou pela janela do ônibus e viu aquele monte de rostos passando, um diferente do outro? Cada um tem sua história, talvez tão rica ou mais que a sua. Não sei se na sua cidade tem trem, mas no vagão de um trem cabe um monte de pessoas. De manhã cedo é um exercício de empatia olhar algumas daquelas centenas de pessoas e imaginar que por trás daqueles semblantes sérios, ou tristes, ou carrancudos, ou debochados, ou assustadiços, há tanta atividade mental e emocional quanto em qualquer um de nós, eu, você…
Todos percebem o mundo, as pessoas, as coisas, conforme seus olhos, conforme seu ponto de vista. Assim como você sabe mesmo é de si mesmo, eles todos também; o que sabem, realmente, é sobre eles próprios. Todos têm a mesmíssima importância que você. Ninguém, em sua essência, é menos ou mais do que você.
É dessa percepção individual que nasce o individualismo. É dessa noção privilegiada de si mesmo que surge o egoísmo. É da identificação com suas idiossincrasias, com suas características próprias, com suas benesses e mazelas que advém o orgulho. O maior dos males.
O orgulho nos impede de notar o outro como uma continuação de nós mesmos. Ou melhor, uma outra parte de nós mesmos. Um outro “eu”. É maravilhoso gostar de si mesmo. Devemos amar a nós mesmos o mais e melhor que pudermos. Jesus nos disse que devemos amar ao próximo como a nós mesmos. É evidente que devemos amar muito ao nosso próximo. E nós somos o parâmetro desse amor. Conforme você se ama, deve amar ao seu próximo. Sua reforma íntima exige isso.
Porque o próximo é um outro você, uma outra versão de você. Mas somos tudo a mesma coisa. A mesmíssima massa humana. Como você respondeu à pergunta lá em cima? Você se acha importante? Tomara que sim. Tomara que você se considere muito, muito importante. E que perceba, e aceite, que os outros são tão importantes quanto você.
Olhe para a primeira pessoa que aparecer na sua frente, qualquer uma. Se você estivesse sozinho numa ilha deserta, como Robinson Crusoé, você não imploraria por ter essa pessoa como companhia?
Quando ocorre uma catástrofe e há desaparecidos, não ocorre uma grande e espontânea mobilização para resgatá-los, mesmo sem saber quem sejam?
É porque as pessoas são importantes, todas elas. Trate-se como tal. Você é uma pessoa muito importante. E lembre-se de que o outro também é importante, e também gosta de ser tratado como tal.