Artigo publicado originalmente em 29/11/2012
Sob o ângulo espírita, percebemos que a família geralmente é um grupo de espíritos ligados por desajustes ou necessidades de aprimoramento, a família é um laboratório de experiências reparadoras.
Você dá o devido valor à sua família? Você gosta dos momentos de intimidade em família? Que bom se as imagens que vêm à sua cabeça são boas; que bom se a ideia que surge em sua cabeça ao pensar na família é uma ideia boa, positiva. A família deve ser valorizada, ela é o seu primeiro núcleo social e espiritual.
Mas a intimidade em família nem sempre é benéfica. Você sabe que a família é um grupo de espíritos ligados por desajustes ou necessidades de aprimoramento, a família é um laboratório de experiências reparadoras. A proximidade entre os membros familiares, o compartilhamento do espaço, o conhecimento aprofundado das pessoas que nos são mais próximas nos possibilita um convívio sem máscaras.
Na vida em sociedade as máscaras são úteis e até necessárias. Ou você acha que pode se mostrar sempre exatamente como você é? Em nosso estágio evolutivo não podemos demonstrar permanentemente o que sentimos e o que pensamos sem ferir as pessoas à nossa volta. Então encarnamos personagens, na melhor das hipóteses não muito diferentes do que somos em realidade
Mas isso é na vida em sociedade, lá fora, na rua, no trabalho, entre colegas e vizinhos. No lar somos mais espontâneos, e quando tiramos a roupa ao chegar em casa tiramos também a máscara. E aí se mostra a face oculta do pacato cidadão. As pessoas economicamente ativas, na maior parte das vezes, passam mais tempo no trabalho do que em casa. E raramente o comportamento é o mesmo nesses dois ambientes, casa e trabalho. O funcionário humilde e cabisbaixo pode ser um pai rigoroso e severo em casa, a executiva exigente de uma organização mostra-se frágil e sem pulso no lar, o chefezinho autoritário não é respeitado por ninguém onde habita.
Mas o lado realmente nefasto das relações domésticas é a intimidade desrespeitosa que se cria com o tempo em muitas famílias. Tratam-se por apelidos pejorativos, procuram defeitos uns nos outros numa disputa baixa e cruel em que a maneira de elevar-se é rebaixando o próximo.
Você já parou pra pensar que não se dá a liberdade de fazer certas brincadeiras com colegas e amigos, mas que faz essas brincadeiras com os familiares? Você percebe que outra pessoa provavelmente se magoaria ou se aborreceria com essas liberdades? Você, que é uma pessoa de boa índole e bons modos, já percebeu que é em família que você se permite eventuais deslizes? Você se dá conta de que em casa você se despe do verniz social que o torna bem aceito pela sociedade e deixa transparecer o que há de podre em você? No entanto, você ama sua família, não ama? As pessoas que você mais ama não são justamente aquelas que fazem parte da sua família?
Se tivéssemos pelos colegas e amigos, se tivéssemos pelas pessoas em geral o mesmo afeto que temos por nossos familiares; e se tivéssemos pelos nossos familiares o mesmo respeito e a mesma noção de distanciamento que temos pelos outros, as relações estariam mais próximas do razoável. Mas o abuso e o desrespeito são mais comuns exatamente para com aqueles que amamos, para com aqueles que nos são mais caros. E aos outros, aos quais respeitamos mais e mantemos um certo distanciamento discreto, raramente dedicamos qualquer sentimento maior do que a simples simpatia.
Talvez a explicação para esse fenômeno seja justamente o fato de que formamos as famílias em busca de reparação de erros pretéritos, como forma de aprendizado conjunto que às vezes vem de milênios! Você sabe que é muito raro o caso de uma família unida unicamente por laços de simpatia e interesse afins.
Mas o conhecimento de que há uma causa milenar gerando efeitos em nosso cotidiano não nos isenta da responsabilidade de tentar, todos os dias de nossas vidas, vencer a nós mesmos. Nós não podemos nos esquecer de que o maior objetivo de estarmos aqui é a tentativa de superação dessas fraquezas que tanto aborrecimento nos causam. E nós já aprendemos que não há fórmula mágica para superar nossa fraquezas. O que há é apenas o bom e velho exercício da tolerância, e do respeito, e da paciência, e do amor, essas coisas todas que já sabemos, mas que precisamos estar sempre lembrando, sempre trazendo à mente, até que, um dia, passem a fazer parte de nossas características de espírito imortal.