Estudo do Evangelho em vídeo, Vídeo

Vida eterna – Espiritismo

Você sabe o que é a vida eterna? Os Evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) nos falam do reino de Deus ou reino dos céus. O equivalente a essas expressões, no Evangelho de João, é “vida eterna”. 

Vida eterna não quer dizer “viver para sempre”. Afinal, a Bíblia também nos fala em “inferno” e “fogo eterno”, o que também seria, de acordo com as interpretações anacrônicas, um tipo de vida eterna. Uma vida eterna de sofrimento, mas mesmo assim uma vida eterna. 

No capítulo 17 do Evangelho de João, descobrimos o que é a vida eterna a que Jesus se refere neste Evangelho. Este é o 31º vídeo desta série de estudos sobre o Evangelho de João, em que analisamos e interpretamos o capítulo 17. Sempre apoiados no texto original grego e em mais de uma dúzia de traduções.

Abaixo você pode ler todo o texto do vídeo.

JOÃO 17

Este capítulo ficou conhecido como “a oração sacerdotal”. Independentemente do nome que tenham dado a esta passagem do Evangelho, nós encontramos aqui importantes instruções de Jesus aos seus discípulos de todos os tempos.

Jesus fala em nome do Cristo que habita em todos nós e fala como nosso irmão mais velho – um espírito incalculavelmente mais velho que nós, que desenvolveu plenamente o Cristo dentro de si e que é o responsável maior pelos espíritos da Terra, o governante da Terra.

  1. Jesus falou assim e, levantando seus olhos ao céu, e disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que também o teu Filho te glorifique a ti;

Vimos no comentário ao capítulo 1 que o “filho” é a creação de Deus. Numa visão antropomórfica, Deus é chamado de “Pai”. Se Deus é o Creador do Universo e Deus é “Pai”, o “filho” do Pai é a sua creação – toda a manifestação de Deus.

Logos, Verbo, Cristo, Filho – todos esses termos exprimem a mesma coisa: a manifestação de Deus no mundo sensível.

O verbo doxazó (δοξαζω) traduzido aqui como “glorificar”, é melhor traduzido nesta passagem como “reconhecer” ou “fazer reconhecer”. Jesus pede a Deus que torne reconhecida a sua creação (as suas creaturas – o “filho do Pai”), para que também o filho (as creaturas de Deus) reconheça ao Pai.

Lembramos que desde o capítulo 13 o Evangelho nos apresenta os discursos de despedida de Jesus. Vamos usar um pouco a razão:

Este Evangelho é atribuído a João, o discípulo de Jesus. João teria escrito este Evangelho mais ou menos uns 60 anos depois desses fatos terem acontecido. Não precisamos acreditar que um senhor de 80 ou 90 anos, como seria o evangelista João na época em que escreveu este Evangelho, lembrasse de todos esses discursos de Jesus, com todas as suas palavras e na mesma ordem em que foram ditos. Não precisamos acreditar na “forma” do Evangelho, que não tem importância nenhuma. O que tem importância é o “conteúdo”, é a mensagem que o Evangelista quer passar para a posteridade.

Aqui há uma condensação dos ensinamentos de Jesus, o resumo de um ensinamento cósmico e eterno. Não podemos restringir este ensino de Jesus ao que estava acontecendo na época, pouco antes da sua morte. Isso seria diminuir Jesus. Este ensino não é para as pessoas, não é para as personagens que interpretamos a cada reencarnação. Este ensino é para o espírito imortal, para a individualidade divina.

Quando o espírito está prestes a perceber e contatar mais profundamente o Cristo que habita dentro de si, ele pede a Deus que seja reconhecido como partícula de Deus que é, como instrumento de Deus, para que seus irmãos de humanidade reconheçam Deus através dele.

  1. Assim como lhe deste poder sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste.

Em 1:14 é dito que o Logos (ou Verbo) se fez carne e habitou em nós. O Logos se fez humano.

O Logos divino, que é a manifestação de Deus, tem poder sobre toda a creação, e, consequentemente, sobre a humanidade. Mas num sentido mais restrito essa afirmação se refere a Jesus. Jesus recebeu a incumbência de conduzir, ao longo de incontáveis milênios, a humanidade de volta a Deus. Saímos de Deus (pois fazemos parte da creação, e toda a creação é de Deus) e voltamos para Deus quando nos conscientizamos da nossa natureza divina e conquistamos o conhecimento íntimo de Deus.

Essa é a origem da palavra religião, do latim religare – a religação com Deus. Só pode ser religado o que já foi ligado e desligou-se. Já fomos ligados diretamente a Deus (pois somos sua essência) e nos desligamos para dar início ao processo de individualização.

Depois de bilhões de anos de evolução ascendente, através dos reinos mineral, vegetal e animal, hoje estamos no reino hominal e rumamos para o que os Evangelhos sinóticos chamam de “reino de Deus” ou “reino dos céus”, e que aqui no Evangelho de João é chamado de “vida eterna”.

A conscientização e a religação com Deus é possível através da sintonia com Deus, da fidelidade e obediência a Deus – ou o que chamamos de “fé”, que não é crença: a crença é apenas um dos atributos da fé.

Aqui nós temos a comprovação de que “vida eterna” não é apenas viver para sempre:

  1. E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.

Não se usava a nomenclatura “Jesus Cristo” no tempo em que Jesus esteve encarnado entre nós. Isso é uma ênfase dada pelo evangelista ao ensino de Jesus.

Jesus disse que é o caminho e a verdade e a vida (João 14:6). Mas ele falou como o Cristo, não como o homem Jesus. Não podemos imaginar Jesus com os nossos personalismos, com as nossas exigências egoísticas e mesquinhas. Dois terços da humanidade não é cristã. E a grande maioria dos que se dizem cristãos só são cristãos da boca para fora.

Não podemos conceber que todos esses espíritos estejam perdidos para sempre porque não conheceram Jesus, ou não aceitaram Jesus, ou não reconheceram Jesus como o seu salvador. O que importa é o que nós realmente somos. E nós externamos naturalmente o que somos através das nossas ações.

Há aqueles que dizem que não são as ações que importam, que nós somos salvos pela fé ou pela graça. Alguns acreditam nisso com sinceridade, outros por comodismo – é mais fácil, não precisa fazer nada. Eles se baseiam em Paulo, não em Jesus. Na verdade não são cristãos, são paulinos. Mas Paulo ao dizer isso não contraria Jesus, apenas explica de acordo com o seu entendimento.

Todos temos vida eterna no sentido de viver para sempre. Somos imortais. Zoe aiónios, traduzido como “vida eterna”, é uma qualidade de vida, é uma vida plena em Deus, uma vida plenamente consciente, sem os intervalos de inconsciência que todos sofremos hoje a cada vez que reencarnamos.

Para conquistar a vida eterna (ou vida plena, ou, como diz Pastorino, vida imanente) precisamos conhecer Deus e a manifestação de Deus, que é o Cristo, seguindo o ensinamento de Jesus.

Um bom muçulmano é mais cristão em suas atitudes do que muitos que se dizem cristãos. O mesmo vale para hinduístas, budistas, judeus ou ateus. Conhecer Deus e o Cristo não é ouvir falar ou ler um pouco a respeito, é “conhecer” no sentido bíblico do termo, que pressupõe intimidade, reciprocidade, contato, uma relação pessoal entre aquele que conhece e aquilo que é conhecido.

  1. Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer.

“Eu glorifiquei-te na terra (…)” – “Eu te fiz reconhecido na Terra”, “Eu dei-te a conhecer na Terra”.

“(…) tendo consumado a obra que me deste a fazer” – “tendo consumado” é a tradução de teleiosas (τελειωσαs), particípio aoristo, na voz ativa, nominativo masculino, primeira pessoa do singular do verbo teleioó (τελειοω), que se refere a aperfeiçoar. Quando somos fieis a Deus nos tornamos instrumentos de Deus. Temos a potencialidade de ser co-creadores com Deus. Jesus recebeu a incumbência, o poder delegado por Deus para aperfeiçoar a obra de Deus neste planeta.

“Tendo consumado” não é uma boa tradução, pois Jesus não consumou a sua obra, não terminou a obra que recebeu de Deus por delegação. Jesus continua superintendendo a nossa evolução.

  1. E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse.

Aqui a palavra doxa (δoξα) exprime o sentido da palavra hebraica Kabod, que no Antigo Testamento se refere ao “peso da presença de Deus”. Jesus, prestes a deixar o plano físico, pede a Deus para sentir-se novamente sob o peso da presença de Deus, como ele se sentia antes da formação do nosso mundo.

A Terra tem aproximadamente 4,5 bilhões de anos. Antes do surgimento da Terra Jesus já era um espírito plenamente cristificado, e recebeu a missão de superintender a evolução de um grupo de espíritos que habitariam este planeta.

Outro entendimento possível é que Jesus esteja se referindo à nossa essência divina, que existe desde sempre, pois não está vinculada ao tempo como o entendemos.

  1. Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste; eram teus, e tu mos deste, e guardaram a tua palavra.

O “nome” é a manifestação externa da realidade interna, é a manifestação da essência em forma de existência. Quando Jesus diz que manifestou o nome de Deus ele está dizendo que manifestou a essência de Deus através de si mesmo. Jesus é a melhor imagem de Deus que nós conhecemos. Jesus manifestou Deus através de si mesmo aos homens, aos espíritos da Terra, e eles guardaram o Logos de Deus.

A tradução aqui é “guardaram a tua palavra”, mas não tem nada disso – “palavra” é a tradução do grego logos. Lembramos de 1:14: “o Logos se fez carne e construiu tabernáculo em nós”. O Logos está dentro de cada um de nós, é a nossa partícula divina, que está guardada em nós, como um tesouro, como um diamante muito precioso que precisará ser lentamente lapidado para se transformar em joia.

Enquanto esteve encarnado, Jesus manifestou Deus a um pequeno grupo de homens que estavam aptos a compreendê-lo. Homens εκ του κοσμου – εκ quer dizer “saído para fora”, “de dentro para fora”: homens do mundo, saídos do mundo, de dentro para fora do mundo. Não para fora do planeta, mas para fora da grande massa da humanidade, ainda muito atrasada para compreender o verdadeiro ensino de Jesus.

Apenas um pequeno grupo saiu do mundo, ou seja, destacou-se do mundo pela elevação espiritual. Se referindo a esse pequeno grupo, Jesus diz:

  1. Agora já têm conhecido que tudo quanto me deste provém de ti;
  2. Porque lhes dei as palavras que tu me deste; e eles as receberam, e têm verdadeiramente conhecido que saí de ti, e creram que me enviaste.

Sinceramente não compreendemos como é possível considerar que Jesus seja Deus. Mais de 40 vezes Jesus diz que foi enviado, evidenciando o seu papel subalterno a Deus. Mas tudo bem.

  1. Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus.
  2. E todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e neles sou glorificado.

Vamos com calma. Aqui podemos ter a impressão de que Jesus pede a Deus apenas pelo seu pequeno grupo. Logo adiante veremos que isso não é assim. Jesus pede por aqueles que já se destacaram, pois são eles que irão enfrentar as maiores dificuldades. O mundo não aceita aqueles que se destacaram do mundo. A grande massa se perturba ao perceber que alguns dos seus membros elevaram-se acima da média. A conduta e as verdades defendidas por quem já se destacou da grande massa dói naqueles que ainda não se destacaram, pois os seus erros e falhas de caráter tornam-se visíveis. Por isso Jesus pede em primeiro lugar por eles. Eles, os que já atingiram alguma elevação, têm o papel de trabalhar em benefício do próximo, levando o esclarecimento a quem estiver disposto a ser esclarecido.

“(…) não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” – todos são de Deus, mas nem todos estão receptivos a Deus. Apenas um pequeno grupo descobriu Deus dentro de si através do Logos, do Cristo interno.

“(…) todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e neles sou glorificado” – “neles sou reconhecido”. O Cristo é reconhecido naqueles que já descobriram o Cristo dentro de si mesmos. Este pequeno grupo por quem Jesus pede a Deus já descobriu o Cristo interno, eles estão ligados a Deus, sabem que são de Deus. Todos são ramos da videira verdadeira, que vimos no capítulo 15. Os membros desse pequeno grupo por quem Jesus pede a Deus são os ramos que dão fruto, os ramos que recebem a seiva da videira, a seiva do Cristo.

  1. E eu já não estou mais no mundo, mas eles estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, guarda em teu nome aqueles que me deste, para que sejam um, assim como nós.

Aqueles que defendem que Jesus é Deus porque ele disse: “Eu e o Pai somos um” (João 10:30) tem a fragilidade do seu argumento escancarada neste versículo. Jesus é “um” com Deus porque desenvolveu plenamente o seu Cristo interno, mas esse é o destino de todos nós. É isso que Jesus está pedindo, que os membros do pequeno grupo que já se destacou acelerem a sua evolução para se tornarem “um” com Deus e Jesus.

  1. Estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse.

Percebemos aqui novamente que Judas cumpriu um papel importante na trama protagonizada por Jesus. Se Jesus está dizendo que o perdido se perdeu para que a escritura se cumprisse, é porque a participação de Judas estava prevista, fazia parte do planejamento.

“Filho da perdição” é o perdido, assim como o “filho da paz” é o pacífico e o “filho da luz” é o iluminado.

A palavra “perdição” tomou um sentido pejorativo com o tempo. Mas a perdição de Judas aqui é a perdição de todos nós. Estamos ainda perdidos da paz de Deus – podemos estar no caminho, mas estamos ainda muito longe de conhecer Deus e experimentar a paz oferecida por Jesus.

  1. Mas agora vou para ti, e digo isto no mundo, para que tenham a minha alegria completa em si mesmos.
  2. Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo.
  3. Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal.
  4. Não são do mundo, como eu do mundo não sou.

“Dei-lhes a tua palavra (…)” – na verdade “dei-lhes o teu Logos”. O mundo, a grande massa dos espíritos da Terra, odeia aqueles que não são do mundo, que se destacaram da grande massa, que não vivem a mesma vida e não têm os mesmos valores que a grande massa.

Jesus não pede que Deus tire eles do mundo porque isso seria contrário às Leis de Deus. Todos temos que evoluir passo a passo, experimentando e superando as provas relativas a cada estágio evolutivo. O mal é a estagnação evolutiva. O mal, que é confundido às vezes com um ser real, a que chamam de diabo, demônio, satanás e outros nomes – é o apego à matéria, é a escravização às sensações e emoções da matéria, é a estagnação evolutiva. Permanecer indefinidamente neste estágio evolutivo é o mal.

Jesus não pede a Deus para nos tirar do mundo, não pede para pular etapas, mas pede que nossa evolução seja rápida e efetiva para nos livrarmos do mal da estagnação evolutiva. Algumas versões traduzem como “maligno”, querendo dar a entender que se trata do diabo. A palavra traduzida como “mal” ou “maligno” é poneros (πονηρος). Poneros deriva de ponos, (πονος) que quer dizer “labuta”, “trabalho”.

Quando Adão e Eva foram expulsos do jardim do Éden, Adão ouviu a seguinte condenação de Deus: “No suor do teu rosto comerás o teu pão” (Gênesis 3:19). Essa alegoria se refere à descida, ao mergulho do espírito no plano físico. Neste plano físico em que vivemos encarnados, neste plano de matéria densa, é preciso muito trabalho para evoluir.

O trabalho, desde o Gênesis, nos é apresentado como um castigo, o trabalho é o castigo do homem por ter comido do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gênesis 3:17).

O espírito, nos primórdios da sua consciência, adquiriu o livre arbítrio e iniciou a sua purificação (“castigo” quer dizer purificação), iniciou o seu longo processo de purificação através de sucessivos mergulhos na matéria densa para experimentar e desenvolver o trabalho – trabalho (ou labuta), que em grego é ponos, de onde deriva poneros, que é traduzido como “mal”.

  1. Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade.

O Cristo ou Logos em Jesus disse: “Eu sou a verdade” (João 14:6). “Santifica-os na tua verdade, o teu Logos é a verdade”.

“Santo”, na Bíblia, quer dizer “separado para Deus”, “voltado para Deus”, “dedicado a Deus” – santificar na verdade é separar para a verdade, voltar para a verdade, dedicar para a verdade.

  1. Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo.
  2. E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade.

O texto grego não diz “por eles”, mas “acima deles” – huper (Υπερ) é “acima”, “além”. Jesus recebeu a incumbência de conduzir os espíritos da Terra de volta a Deus através do longo caminho evolutivo. Estando acima de nós, além de nós, Jesus santifica-se, volta-se totalmente para Deus para que nós também sejamos santificados na verdade, para que nos voltemos totalmente para a verdade.

  1. E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela tua palavra hão de crer em mim;

Agora Jesus inclui a todos no seu pedido a Deus. Este versículo pode ser traduzido assim: “Não peço só acerca deles, mas também acerca dos que aderem a mim através do seu Logos”.

  1. Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.
  2. E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um.
  3. Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim.

Jesus aqui repete enfaticamente que o nosso destino é a união com Deus. E se Jesus é Deus por ser um com o Pai, todos somos ou seremos deuses, porque todos nós mais cedo ou mais tarde nos uniremos com Deus. Essa certeza é fundamentada na próxima afirmação de Jesus:

  1. Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo.

Deus é o Creador do Universo. A inteligência suprema, causa primária de todas as coisas, que chamamos Deus, é a Lei. A sua Vontade é a Lei. Para quem acredita que Jesus é Deus, a vontade de Jesus é Lei. E para quem, como nós, acredita que Jesus é um espírito plenamente cristificado, em perfeita comunhão com Deus, a sua Vontade também é Lei, pois a sua vontade é totalmente integrada à Vontade de Deus.

E aqui nós encontramos a palavra “vontade” – o verbo traduzido como “quero” é thelo (θελω), derivada de thelema (θελημα) que quer dizer exatamente “vontade”. A Vontade do Cristo, que é a Vontade de Deus, é que nós estejamos com o Cristo onde ele estiver. O esforço para alcançarmos essa condição depende de nós.

Se isso dependesse de Jesus (como pregam aqueles que atribuem a nossa salvação à graça) teríamos que admitir que Jesus fracassou e continua fracassando todos os dias, pois o que mais vemos por aí são pessoas muito distantes do Cristo. Também não podemos conceber, de jeito nenhum, essa monstruosidade que chamam de determinismo salvífico, segundo o qual Deus escolheu alguns para si desde o começo e o resto que se dane.

“(…) porque tu me amaste antes da fundação do mundo” – “fundação” é a tentativa de traduzir o substantivo grego katabolé (καταβολη), formado da preposição kata com o verbo balló.  Kata significa “sob”, “embaixo de”, “abaixo”; balló quer dizer “lançar”, “jogar”, “atirar” – é a origem da palavra “bola”. Katabolé, então, pode ser entendido como “lançado para baixo”, “jogado para baixo”. Isso explicaria a formação do planeta a partir da condensação de energia. O rebaixamento das vibrações da energia formariam a matéria densa do planeta.

Mas katabolé também pode ser entendido como “plano”, “projeto”, “propósito”, algo lançado por baixo, como base, como sustentação. Strong traduz katabolé como “infra-estrutura que determina a direção inteira”.

A fundação do mundo, mencionada por Jesus, seria então o grande planejamento do mundo, o projeto cósmico para a evolução de alguns bilhões de espíritos superintendido por Jesus. 

  1. Pai justo, o mundo não te conheceu; mas eu te conheci, e estes conheceram que tu me enviaste a mim.
  2. E eu lhes fiz conhecer o teu nome, e lho farei conhecer mais, para que o amor com que me tens amado esteja neles, e eu neles esteja.

Jesus se refere a Deus agora como “Pai Justo”. Fica demonstrado que ninguém recebe favores de Deus. Recebemos o que é justo. “A cada um segundo as suas obras” (Mateus 16:27).

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