Artigo publicado originalmente em 28/08/2012
Qual a família que não tem problemas? Se pudéssemos lembrar de todas as vidas em que estivemos juntos aos atuais familiares, ficaríamos chocados. O Espiritismo diz que nossas ligações geralmente remontam ao passado.
É raro o caso de famílias em que há permanente harmonia. Você sabe tanto quanto eu que o lar é o laboratório do espírito imortal. É no grupo familiar que você tem as melhores oportunidades de aprendizado e experiência. É no lar que você põe à prova as lições já aprendidas.
Tirando as exceções de praxe, que são as famílias muito boas ou famílias muito más, a grande maioria vive momentos de altos e baixos. Períodos de grande paz e união mesclados com etapas de discórdia e desentendimentos de todo tipo.
Se pudéssemos lembrar de todas as reencarnações em que estivemos juntos aos atuais familiares, ficaríamos chocados. Se lembrássemos de todos os papéis que já representamos, nós e cada um dos nossos familiares e pessoas mais próximas, talvez não tivéssemos mais condições de convívio com alguns deles. Se cada vez que olhamos para um desses que agora são nosso filho, ou pai, ou esposa, mãe, noivo, irmão, se lembrássemos quem eles foram no passado, e o que nos fizeram, e o que nós também já fizemos a eles, em outras existências, talvez a convivência se tornasse insustentável.
Por isso os altos e baixos em nossos relacionamentos amorosos e familiares. Há períodos em que reminiscências de um passado distante vêm à tona. Isso pode ocorrer durante uma noite de sono em que, desdobrados do corpo físico, visitamos outras dimensões de tempo/espaço que hoje desconhecemos. É como se passado e presente se misturassem, como se houvesse realidades paralelas. Nesses desdobramentos é comum revivermos momentos críticos e marcantes do passado. Quando despertamos, temos a vaga lembrança de haver sonhado com alguém de hoje animando um personagem diferente, fazendo coisas diferentes, às vezes trágicas, agindo como se fosse outra pessoa, embora a aparência de alguém do nosso convívio atual.
Mas essas reminiscências também podem surgir quando estamos acordados, a partir de alguma emoção forte que nos recorde, inconscientemente, situações já experimentadas com a mesma pessoa em reencarnações passadas.
Se é praticamente impossível viver num estado de paz permanente em família, que saibamos valorizar os bons momentos! Você provavelmente já experimentou sentir alguma coisa por uma pessoa próxima em sua presença e sentir outra coisa quando longe dela. Às vezes acontece de você não conseguir se sentir bem com alguém. Não age como gostaria, não fala o que poderia falar. Mas basta se afastar para mudar de ideia em relação à pessoa, achar que afinal de contas ela não é assim tão difícil.
Isso é ruim? É claro que seria melhor se tudo fosse sempre bom, sempre perfeito, mas não chegamos a esse estágio ainda. Recém despertamos para a necessidade da reforma íntima. Então precisamos ver o lado bom. E o lado bom é que conseguimos superar os atritos, conseguimos amenizar as diferenças. Quando nos distanciamos, o “problema” parece menor. E realmente se torna menor, pois racionalizamos em vez de nos deixarmos dominar pela emoção.
Ainda temos necessidade do amor idealizado. Precisamos que as pessoas que amamos correspondam a determinadas ilusões que criamos. Nos iludimos pensando que nossos irmãos são obrigados a ser nossos parceiros, que nossos filhos são nossa continuação, que nosso par amoroso seja nossa alma gêmea, acorrentada aos nossos caprichos inseguros.
Valorize esse querer bem que teima em querer bem. Valorize as fases de harmonia, valorize os pontos positivos da família.
Isso funciona sempre? Não. Seria ingenuidade pensar que existe fórmula mágica pra tudo. Mas a diferença entre perdedores e ganhadores costuma ser mínima, muio pequena. Numa corrida de cavalos, o ganhador às vezes chega só com a cabeça na frente do segundo colocado. Numa partida de futebol, uma cobrança de pênalti pode decidir um campeonato. Assim também é na vida familiar. O que diferencia uma família estruturada de uma família combalida são detalhes, pequenos detalhes.