Família

Somos responsáveis por nossos afetos

somos responsáveis pelos nossos afetos

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Somos responsáveis pelos nossos afetos. Se fomos responsáveis por despertar o sentimento de alguém, se nos envolvemos ou nos deixamos envolver conscientemente numa relação de afeto, somos responsáveis por esse vínculo.

Isso não quer dizer, de modo algum, que a felicidade alheia está em suas mãos. Você jamais se torna responsável pela felicidade de outra pessoa. A felicidade é uma conquista pessoal, que não depende de nada e ninguém exterior. Não está nas mãos de ninguém propiciar a felicidade de quem quer que seja. Só quem condiciona o sentimento afetivo aos seus próprios anseios neuróticos pode esperar que o outro se responsabilize por sua realização pessoal.

Somos responsáveis pelos nossos afetos

Há pessoas, e são muitas, que querem ser amadas mas não se amam, querem ser compreendidas mas não compreendem a si próprias, querem alguém que as cuide mas não fazem sua parte em cuidar de si mesmas. São pessoas que ao menor revés afetivo, usam o bordão dos sofredores abandonados: “quando eu mais precisava… mas justo quando eu mais precisava…” Não percebem que estão sempre precisando, e não é de ninguém além delas mesmas que precisam. Não se dão conta de que são as únicas responsáveis pelas suas próprias necessidades. Confundem sua carência afetiva com amor. Mas essa carência, que anseia por ser preenchida, é um vazio a ser trabalhado internamente, é antes de mais nada falta de autoconhecimento. Só quem conhece a si mesmo pode saber o que quer. E é imprescindível saber o que se quer para buscar alguma coisa, fazer alguma coisa por si, e não esperar permanentemente pelo reconhecimento, pela gratidão, pela admiração do outro.

Mas, se por um lado não somos responsáveis pela felicidade de ninguém, por outro lado, ao nos vincularmos numa relação de afeto, não podemos deixar de levar em conta as necessidades, o bem-estar e os anseios do outro. Mesmo que você não se sinta mais ligado a essa pessoa, ou que nunca tenha se sentido diretamente vinculado a ela, se você permitiu que essa ligação se estabelecesse, também se permitiu fazer parte de um universo que não é o seu, se permitiu tornar em uma referência na trajetória evolutiva dessa pessoa.

A semeadura é livre, a colheita é obrigatória. Nunca é demais lembrar. Plantamos afetos, nem sempre conscientemente, e o que colhemos são afetos, nem sempre planejados ou mesmo desejados. Não somos escravos dos afetos que criamos; podemos, na maioria das vezes, virar as costas e seguir em frente. Mas não há como nos eximirmos do preço a pagar. E em matéria de sentimentos, o preço geralmente é caro e o juro é alto… Muitas vezes essas situações mal resolvidas ultrapassam o túmulo em busca de uma solução mais satisfatória.

Pouco ou nada disso tem a ver com amor. O amor não termina. Nasce mas não morre. O amor está em nós, faz parte de nosso ser, cabe a nós desenvolvê-lo e vivê-lo. Mas o amor muda, se adapta, se transforma, muda o foco. Nós mudamos. Há os que consideram uma heresia aceitar que o amor mude, e se anulam em nome do amor estático e acabam sozinhos, abandonados, sem entender o que aconteceu, achando a vida injusta. Outros, ainda, sonham com o amor ideal, e quando encontram um alvo disponível, tentam de todas as maneiras encaixar a pessoa amada nesse modelo.

Cuide seus afetos. Você não é responsável pela felicidade das pessoas que têm afeto por você. Mas você é responsável pelo afeto que essas pessoas sentem por você. Ou você acha que não tem nada a ver com o que as pessoas sentem por você? Que isso é apenas escolha delas, e você não tem nada com isso? Pense. Pensemos.

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