Estudo do Evangelho em vídeo, Vídeo

Somos obrigados a crer em Jesus? – Espiritismo

Será que somos obrigados a crer em Jesus? Será que Jesus nos julga?

Formamos, ao longo do tempo, uma série de conceitos absolutamente deturpados a respeito do ensinamento de Jesus, que é válido para todos os tempos e para todos os lugares. Esse problema se deve às teologias e às traduções tendenciosas, principalmente.

Mas a maior parte do ensino de Jesus exige um conhecimento um pouco mais avançado para a sua compreensão. O Espiritismo colabora, e, muito, para esse entendimento. Este é o 16º vídeo desta série de estudos sobre o Evangelho de João. Me acompanhe nesta jornada!

Abaixo você pode ler todo o texto do vídeo.

JOÃO 8:12-30

  1. Falou-lhes, pois, Jesus outra vez, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.

Este discurso de Jesus traz o segundo “Eu sou” de Jesus. O Evangelho de João traz sete “Eu sou” ditos por Jesus. O primeiro é “Eu sou o pão da Vida” (João 6:35) – agora Jesus diz “Eu sou a luz do Mundo”.

Vimos no começo do primeiro capítulo que este Evangelho começa com um antigo hino. E neste hino é dito em 1:4 que “a vida é a luz dos homens”.

Esses discursos de Jesus que nós encontramos no Evangelho de João, embora sejam proferidos pelo homem Jesus, são manifestação do Logos, do Cristo interno que habita dentro de cada um de nós e que foi plenamente desenvolvido por Jesus.

Quem está falando, então, é o Cristo – o Cristo que é comum a todos nós. O Cristo diz: “Eu sou a luz do mundo”. Em Mateus 5:14 Jesus diz: “Vós sois a luz do mundo”. Somos exatamente a mesma coisa. Todos temos a mesma natureza. Todos somos filhos de Deus, creados à Sua imagem e semelhança, portanto, perfectíveis.

Jesus é um espírito incalculavelmente mais velho que nós, mais experiente que nós, e desenvolveu plenamente o seu Cristo interno, a sua natureza divina. Quem segue o Cristo, que está dentro de si, não andará em trevas, mas terá a luz da vida.

  1. Disseram-lhe, pois, os fariseus: Tu testificas de ti mesmo; o teu testemunho não é verdadeiro.
  2. Respondeu Jesus, e disse-lhes: Ainda que eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho é verdadeiro, porque sei de onde vim, e para onde vou; mas vós não sabeis de onde venho, nem para onde vou.

Os fariseus estavam colocando em dúvida as palavras de Jesus porque, de acordo com a lei, eram necessárias duas testemunhas para testificar as palavras de alguém (Números 35:30; Deuteronômio 17:6).

Jesus diz que sabe de onde veio e para onde vai. Não há a menor dúvida de que um espírito elevado como Jesus manteve a consciência durante todas as fases da sua encarnação, mesmo durante a gestação.

Hoje é relativamente comum a prática da projeção consciente ou viagem astral, em que nós mantemos a consciência enquanto o corpo físico está dormindo. O corpo precisa dormir, o espírito não. Quase todos se desdobram quando dormem. Mas ainda é uma pequena parcela da população que consegue manter a consciência quando há o desdobramento. Nosso corpo astral se desdobra, se projeta para além do corpo físico, e nossa consciência o acompanha. É possível ficar tão consciente quanto você está agora, lendo estas páginas, ou até mais.

Se nós, espíritos imperfeitos que somos, que estamos engatinhando em nossa escalada evolutiva, conseguimos eventualmente manter a consciência independente do corpo físico, imagine Jesus! Jesus esteve consciente o tempo todo, sabia exatamente de onde vinha e para onde ia.

  1. Vós julgais segundo a carne; eu a ninguém julgo.
  2. E, se na verdade julgo, o meu juízo é verdadeiro, porque não sou eu só, mas eu e o Pai que me enviou.

Aqui nos deparamos mais uma vez com o verbo grego krino (κρινω) e seus derivados traduzidos invariavelmente como “julgar”, “juízo”, “julgamento”. O verbo krino se refere a “escolher”, “separar”, “discernir”. Deste verbo deriva a palavra “critério” em português.

Vós julgais segundo a carne; eu a ninguém julgo” – não tem nada a ver com julgar, ninguém está falando em julgamento: “Vós escolheis segundo a carne, eu a ninguém escolho”; “vocês escolhem de acordo com as aparências, eu não escolho ninguém”.

Jesus era o Cristo plenamente manifestado, mas aqueles homens só viam a figura de um homem normal com vestimentas normais. Os homens (e mulheres) fazem suas escolhas baseados na aparência – mas o Cristo não escolhe ninguém, o Cristo não tem preferência por ninguém.

O Cristo está dentro de cada um e cada um terá que esforçar-se para desenvolvê-lo. Não há privilégios na Lei de Deus. Muitos cristãos (ou pessoas que se dizem cristãs) sustentam a ideia ridícula e discriminatória de que “só Jesus salva”.

Será que não percebem que isso seria uma discriminação da parte de Deus? Como é que Deus condenaria suas creaturas ao inferno (que não existe) ou à perdição eterna só porque não conheceram Jesus ou porque seguiram outra religião? Há milhões e milhões de pessoas não-cristãs que são melhores do que outros milhões de pessoas cristãs. Isso é tão infantil e retrógrado que dá até vergonha de comentar.

“E, se na verdade julgo, o meu juízo é verdadeiro (…)” – se escolho, meu critério é verdadeiro. O Cristo não escolhe ninguém, não favorece ninguém, não discrimina ninguém – porque o Cristo está em nós, em todos nós.

Mas, se quisermos considerar que o Cristo nos escolhe (ou que Deus nos escolhe, já que o Cristo é manifestação de Deus), esta escolha segue o critério verdadeiro.

A palavra traduzida como “verdadeiro” é aléthes (αληθης). Esta palavra, como já vimos, é composta pelo prefixo a com o sentido de negação e a palavra léthe, que quer dizer “esquecimento”. É o despertamento, o desvelamento do que estava esquecido.

O que é que está esquecido em grande parte da humanidade? É justamente a consciência da nossa verdadeira natureza espiritual e divina. O critério seguido pelo Cristo para escolher aqueles que o seguem é o nível de despertamento da consciência. Na consciência é onde estão gravadas as Leis de Deus. Conforme vamos despertando, temos que seguir as Leis de Deus.

  1. E na vossa lei está também escrito que o testemunho de dois homens é verdadeiro.
  2. Eu sou o que testifico de mim mesmo, e de mim testifica também o Pai que me enviou.

Como a lei exigia duas testemunhas, Jesus diz que tem o seu próprio testemunho e o testemunho de Deus. Notamos mais uma vez que Jesus se refere à lei como “a vossa lei”, sinal de que ele fala como o Cristo e não como o homem Jesus – que era tão judeu e sujeito à lei quanto os seus interlocutores.

  1. Disseram-lhe, pois: Onde está teu Pai? Jesus respondeu: Não me conheceis a mim, nem a meu Pai; se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai.

A tendência entre os que analisam esses diálogos de Jesus é achar que seus interlocutores estão constantemente se opondo a ele. Alguns comentadores chegam a afirmar que quando eles perguntam “onde está teu pai?” eles estejam fazendo isso em tom de deboche, pois corria o boato de que Jesus era filho ilegítimo.

Se considerarmos a época em que este Evangelho foi escrito, ali pelo ano 90 ou depois, veremos que nesse tempo os Evangelhos sinóticos já circulavam, e as especulações sobre a virgindade de Maria quando da concepção de Jesus realmente devia servir de motivo de chacota entre os adversários do Cristianismo que se iniciava.

Mas temos que considerar que eles estavam dialogando, não necessariamente discutindo. Não há nada de agressivo neste diálogo. É mais provável que eles percebessem claramente que havia algo de especial em Jesus, mas não a ponto de considerá-lo o messias, o Cristo.

Jesus falou que o seu pai testificava sobre ele – nada mais natural que eles perguntarem onde estava o seu pai para que pudessem ouvir o seu testemunho.

“(…) Não me conheceis a mim, nem a meu Pai; se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai” – a tradução mais correta não é “conhecer”, mas “ver”: “Não me vedes a mim, nem a meu Pai; se vós me vísseis a mim, também veríeis a meu Pai”. O verbo oida (οιδα) tem o sentido original de “ver” – só metaforicamente é que tem o sentido de “perceber”, “ver mentalmente”.

Por que não traduzem como “ver”, mas como “conhecer”? Porque não entendem que Jesus não está se referindo a ele como pessoa, mas como o Cristo. O que os interlocutores de Jesus não podiam “ver” era o Cristo – Jesus eles estavam vendo em carne e osso na frente deles. Como os tradutores não entendem isso, preferem deturpar a tradução. Isso ocorre até mesmo com as traduções mais recentes – elas se baseiam na opinião de antigos tradutores, então não muda muito.

Nós não vemos a Cristo nem a Deus. Mas se conseguirmos ver o Cristo, que habita dentro de nós, estaremos vendo Deus, pois o Cristo é a manifestação de Deus.

  1. Estas palavras disse Jesus no lugar do tesouro, ensinando no templo, e ninguém o prendeu, porque ainda não era chegada a sua hora.

“(…) ensinando no templo (…)” – vimos, no episódio da mulher adúltera, a importância que Jesus dava ao ensino, o que deve ser imitado por todos nós. Aqui diz que Jesus ensinava no templo. Já vimos que o templo simboliza o corpo físico (2:21). E Jesus estava no lugar do tesouro – no Evangelho de Lucas Jesus faz referência ao coração como o lugar do bom tesouro: “O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal (Lucas 6:45).  Este ensino o Cristo nos dá em nosso coração enquanto estamos encarnados, ou seja, no templo, no nosso corpo físico.

“(…) e ninguém o prendeu, porque ainda não era chegada a sua hora” – ninguém prendeu o Cristo no seu coração. O verbo grego epiasen (επιασεν) é o indicativo aoristo na voz ativa, terceira pessoa do singular do verbo piazó (πιαζω), quer dizer “apreender”, “tomar posse”. Ninguém apreendeu o ensino do Cristo, ninguém tomou posse do Cristo no seu coração, porque ainda não era a hora, ainda não estavam preparados.

Aqui começa outro discurso de Jesus:

  1. Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Eu retiro-me, e buscar-me-eis, e morrereis no vosso pecado. Para onde eu vou, não podeis vós vir.
  2. Diziam, pois, os judeus: Porventura quererá matar-se a si mesmo, pois diz: Para onde eu vou não podeis vir?

Como os interlocutores de Jesus no Evangelho de João sempre consideravam as coisas materiais, levavam as palavras de Jesus ao pé da letra. Como Jesus disse que eles não poderiam ir para onde ele iria, eles acharam que ele pensava em cometer suicídio, e por isso eles não teriam acesso a ele.

Os fariseus, dos grupos que conviviam com Jesus, eram os mais avançados. Acreditavam na reencarnação, embora de forma confusa (pensavam que só os espíritos dos homens bons reencarnavam), e sabiam que havia regiões distintas no mundo espiritual. Especificamente em relação aos suicidas, acreditavam que eles iam para o lugar mais profundo do hades, que era o lugar dos mortos para os gregos.

“(…) morrereis no vosso pecado” – o substantivo grego hamartia (αμαρτια), traduzido como “pecado” quer dizer “erro”. Jesus não está se referindo aos nossos inúmeros erros e falhas de caráter, mas ao erro primordial que é a não-sintonização com o Cristo. Por isso ele diz “(…) Eu retiro-me, e buscar-me-eis (…)”, e “(…) Para onde eu vou, não podeis vós vir” – para sintonizarmos com o Cristo precisamos estar vibracionalmente elevados. Não conseguimos captar determinada emissora de rádio ou televisão se não sintonizarmos o nosso aparelho de rádio ou televisão com essa emissora.

Hoje quase ninguém ouve rádio. Mas talvez você conheça a experiência de ouvir rádio na estrada, durante uma viagem. Conforme nos distanciamos da emissora, o rádio vai falhando, vamos perdendo a sintonia – o mesmo acontece com as nossas mentes. Sintonizamos uns com os outros, encarnados e desencarnados, a partir dos nossos pensamentos, sentimentos e energias.

Para sintonizar com o Cristo que habita dentro de nós é a mesma coisa. Temos acesso a Deus em nós, que é o Cristo, quando elevamos as nossas vibrações mantendo bons pensamentos, sentimentos e energias. A falta de sintonia com o Cristo é o erro fundamental.

Enquanto não percebemos a nossa natureza divina não estamos prontos para o nosso caminho de volta a Deus.

  1. E dizia-lhes: Vós sois de baixo, eu sou de cima; vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo.

Eles perguntaram se Jesus iria se matar, e quem cometia suicídio ia para o lugar mais baixo do hades. Por isso agora Jesus diz que eles são de baixo. Eles, como espíritos atrasados (como nós ainda somos) estão presos ao magnetismo da Terra. Jesus estava aqui por escolha, como uma missão que se impôs – mas Jesus não é daqui, não está preso a este planeta.

  1. Por isso vos disse que morrereis em vossos pecados, porque se não crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados.

Nós já sabemos que “crer” é uma má tradução do verbo pisteuó (πιστευω). Este verbo é normalmente traduzido como “fé” ou “crença”, mas o seu sentido vai além. A melhor tradução aqui é “sintonizar”.

O erro a que se refere Jesus é não admitir o “Eu sou”. Alguns manuscritos trazem “Eu sou ele” – não entenderam o sentido e quiseram consertar. “Eu sou” é a forma como Deus descreveu a si mesmo (Êxodo 3:14). “Eu sou” é a nossa consciência. “Eu sou” é o que nos liga a Deus.

Neste Evangelho Jesus faz sete afirmações do “Eu sou”. A música “Gita”, de Raul Seixas e Paulo Coelho, é uma adaptação do diálogo entre o guerreiro Arjuna e Krishna, narrado no Baghavad Gita, o principal (ou pelo menos o mais popular) livro sagrado do Hinduísmo. A descrição que Krishna faz de si mesmo é uma extensa série de “Eu sou”.

“(…) se não crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados” – a conjunção hoti (οτι), traduzida aqui como “que” (se não crerdes “que”), é usada para introduzir discurso direto, podendo ser traduzida, em alguns casos, apenas pelo sinal de “dois pontos”. Pode-se perfeitamente traduzir assim: “Se não sintonizardes: – EU SOU – morrereis em vossos erros”. Se não despertamos definitivamente nossa consciência, o “Eu sou”, esse saber-se imortal, permaneceremos morrendo, permaneceremos experimentando reencarnações, interpretando personagens, não vivendo uma vida plena, uma vida contínua, permanente (ou uma “vida eterna”, como diz este Evangelho), mas vivendo uma série de pequenas existências, vinculadas umas às outras, mas interrompidas pela morte – pelo fim de uma personagem e o começo de outra, num ciclo incalculável.

Novamente os interlocutores de Jesus não entenderam a que ele se referia:

  1. Disseram-lhe, pois: Quem és tu? Jesus lhes disse: Isso mesmo que já desde o princípio vos disse.

Este versículo é alvo de muitas discussões a respeito da melhor forma de tradução. Embora não concordemos com esta tradução, não encontramos nenhum sentido mais satisfatório na frase.

  1. Muito tenho que dizer e julgar de vós, mas aquele que me enviou é verdadeiro; e o que dele tenho ouvido, isso falo ao mundo.
  2. Mas não entenderam que ele lhes falava do Pai.

Aqui mais uma vez krino (κρινω) é traduzido como “julgar”, mas não se trata de julgamento: “Muito tenho que dizer e escolher de vós”. Transmitindo a nós o ensino do Pai, o Cristo automaticamente escolhe aqueles que já estejam aptos a compreender os seus ensinamentos e sintonizar com ele.

  1. Disse-lhes, pois, Jesus: Quando levantardes o Filho do homem, então conhecereis que EU SOU, e que nada faço por mim mesmo; mas isto falo como meu Pai me ensinou.

Costumam interpretar este versículo como se Jesus estivesse se referindo à sua crucificação. “Levantar o filho do homem” seria “erguer Jesus na cruz”. Essa interpretação é absurda. Se Jesus tivesse se referido a si mesmo ele teria se enganado, porque ele não foi reconhecido nem pelos judeus, nem por dois terços da humanidade que adota outras religiões, e nem pela grande maioria dos que se dizem cristãos – mas que nunca sequer leram os Evangelhos, muito menos estudaram os Evangelhos.

O “filho do homem” é o homem no seu próximo estágio evolutivo, é o “fruto do homem”, o “resultado do homem”. Quando nós nos desenvolvermos, nos elevarmos (“levantarmos”) espiritualmente, desenvolvendo o filho do homem (o resultado de nós mesmos), conheceremos o “Eu sou”, teremos desenvolvido satisfatoriamente a nossa consciência e seremos instrumentos de Deus.

  1. E aquele que me enviou está comigo. O Pai não me tem deixado só, porque eu faço sempre o que lhe agrada.
  2. Dizendo ele estas coisas, muitos creram nele.

“(…) aquele que me enviou está comigo” – no grego, “ser” e “estar” são o mesmo verbo. Deus não “está” com o Cristo – Deus “é” com o Cristo, pois o Cristo é a manifestação de Deus.

“(…) porque eu faço sempre o que lhe agrada” – “agrada” é a tradução do adjetivo grego aresta (αρεστα), que se refere a “servir”, ao serviço voluntário prestado a alguém, a cumprir a expectativa de alguém servindo. Quando fazemos a Vontade de Deus, Deus é conosco através do Cristo que habita em nós.

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