Sexualidade

Cristianismo, sexo e pecado

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Artigo publicado originalmente em 24/10/2012

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Você provavelmente conhece alguém que acha que sexo é pecado. Muitas pessoas, dentro e fora do Cristianismo, têm essa ideia e sofrem com isso, vivem cheias de conflitos. Uma das grandes causas de desajuste do espírito imortal é justamente o mau uso do sexo e o sentimento de culpa gerado por esse mau uso.

A ideia do sexo como pecado tem sua origem com Santo Agostinho, que escreveu suas “Confissões” ali pelo ano 400. Faz tempo, portanto. Fora Paulo, que foi contemporâneo de Jesus, ninguém teve tanta influência sobre o Cristianismo quanto Santo Agostinho. Quando falo em Cristianismo, aqui, estou me referindo a todo o mundo ocidental. Mesmo sem ser cristão ou religioso, todo o mundo ocidental é influenciado pelo pensamento cristão.

Durante esse período que vai de Paulo até Agostinho, uns trezentos e poucos anos, o mundo era dominado pelo Império romano. Uma das características da decadência romana era a banalização do sexo. Calígula, um dos imperadores de Roma, ficou mais famoso por suas façanhas sexuais do que por seu Governo. Foi um tempo em que reinou a luxúria, a depravação e os abusos de todo tipo.

Jesus não nos deixou nada escrito. O principal organizador do Cristianismo, em seus primórdios, foi Paulo. Paulo aconselhava aos homens que se mantivessem castos, ou seja, que vivessem sem sexo. Aqueles que não conseguissem conter seus desejos, deveriam se casar. Nas cartas que escreveu aos cristãos de Roma, Paulo condena os costumes sexuais da época. Mas eu acho que a intenção de Paulo era que a ausência de atividade sexual elevasse o espírito. Que o espírito vencesse o corpo. A sublimação do sexo.

a cobra e a maçã
Sexo é pecado?

Com Agostinho o sexo se torna pecado. A ideia de que o pecado original é o sexo foi criada por Agostinho. Agostinho foi o maior intelectual do Cristianismo por uns mil anos. Até hoje sua obra é autoridade. Agostinho, antes de se converter ao Cristianismo, deve ter aprontado muito. Ele não deixa claro o que fez e o que não fez, mas pelo tom de arrependimento profundo com que ele se refere ao seu passado, não deve ter sido pouca coisa. Ou ele era realmente muito puro e sofria por pouco.

Santo Agostinho traz a ideia de que o sexo é coisa do mal, é perdição, depravação, sujeira. Para ele, sexo só para procriação, e entre casados. Depois de Agostinho, o pensamento em relação a sexo nunca mais foi o mesmo. Pelo menos para os cristãos. Não há como saber o que seria da cristandade sem a influência de Agostinho. Não teríamos a noção de sexo como algo impuro, errado, proibido. Para se ter uma ideia de como o assunto sexo atormentou o mundo cristão, basta lembrar que na Idade Média as mulheres tinham que usar o cinto de castidade. (!) Mas quem sabe se isso tudo não foi um mal necessário? Não sei.

Como espíritos imortais, a maioria de nós vem de muitas reencarnações marcadas por preconceitos e conceitos deturpados. Até hoje é difícil para os pais falarem de sexo aos filhos com naturalidade.

O Espiritismo se caracteriza por não ditar o certo e o errado, deixando por nossa conta a escolha com suas possibilidades de erro ou acerto. Livre arbítrio e consciência. O espírito não tem sexo, isso é sabido por todos. Mas estamos num corpo físico, e o corpo físico tem sexo. Chegará, certamente, o dia em que a energia sexual será canalizada para fins mais nobres. Mas hoje, o que buscamos, é o equilíbrio. Nem vestígios de cultura repressora, nem liberalidade irresponsável.

Se deixarmos de lado a hipocrisia, veremos que a maioria das uniões começa pela atração sexual. Veremos que a vida sexual saudável mantém os casais unidos e mentalmente sadios. Que o entrosamento sexual do casal evolui para o entrosamento em outras áreas do relacionamento. Que o sexo, se não é “combustível” do amor (e não é), é responsável por uma aproximação e intimidade que de outra forma seria impossível em nosso estágio evolutivo moral. E essa aproximação é, provavelmente, o modo mais eficaz de desenvolver um amor incipiente ou de cultivar um amor estabelecido já de muitas vidas. 

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