Judas traiu Jesus? O texto original grego do Evangelho fala em “entrega”, não em “traição”. Neste vídeo estudamos o capítulo 13 do Evangelho de João. Este é o 24º vídeo da série de estudos sobre o Evangelho de João. A chamada traição de Judas é um dos temas abordados neste capítulo. Uma análise mais cuidadosa do Evangelho nos mostra que as coisas que nos são contadas não aconteceram exatamente como nós nos acostumamos a vê-las.
Abaixo você pode ler todo o texto do vídeo.
JOÃO 13
Neste capítulo já não vemos Jesus ensinando o público – aproxima-se o fim da sua missão no plano físico.
- Ora, antes da festa da páscoa, sabendo Jesus que já era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, como havia amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim.
“(…) havia amado os seus que estavam no mundo (…)” – vimos no capítulo anterior que Jesus referiu-se a si mesmo como o “Governador deste mundo”, ao dizer que “o príncipe deste mundo será expulso”. Archón (αρχων), traduzido como “príncipe”, é o “chefe”, o “governador”. Quem acredita no diabo fecha os olhos para as evidências e diz que o príncipe deste mundo é o diabo, mas vimos que não é assim. De acordo com este Evangelho, Jesus é o Governador deste mundo.
Jesus nos disse que há muitas moradas na casa do pai (João 14:2), ou seja, há muitos mundos, há incontáveis planetas habitados no Universo infinito. A creação de Deus não se resume a este minúsculo grão de poeira que chamamos planeta Terra. Jesus havia amado os seus (os seus governados, os seus irmãos mais novos, espiritualmente inexperientes) que estavam no mundo – sinal de que há outros dos seus irmãos mais novos que não estavam no mundo naquela ocasião. Muitos destes irmãos que não estavam no mundo, que já tinham ascendido a planos mais elevados, preparam-se para reencarnar na Terra agora, quando a transição planetária se acelera provocando mudanças profundas no mundo.
- E, acabada a ceia, tendo já o diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que o traísse,
O texto grego não fala em “traição” de Judas, mas em “entrega”. Judas “entregou” Jesus. Uma análise atenta mostra que Judas cumpriu um papel que alguém teria que cumprir.
“(…) sabendo Jesus que já era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai (…)” – Jesus sabia, e não só sabia como planejou as coisas deste modo.
No meio espírita é comum a crença – a nosso ver exagerada – de que nós planejamos a nossa reencarnação. Não são todos os espíritos que planejam a sua reencarnação. Na verdade, uma pequena minoria tem condições de fazer escolhas conscientes. Quando é dito em O Livro dos Espíritos que nós escolhemos as nossas provas, é uma generalização sintética das nossas possibilidades. Escolhemos nossas provas e expiações a cada atitude que tomamos ou deixamos de tomar. O que nós fazemos da nossa existência atual é uma escolha, consciente ou não, do que será a nossa próxima existência.
Mas nós vemos, por exemplo, na obra de André Luiz, que os espíritos que já se conscientizaram razoavelmente passam por um planejamento quanto à sua reencarnação. O meio em que será inserido, as pessoas mais próximas que irão influenciá-lo, suas condições de saúde, suas tarefas, entre outros fatores, são alvo de um planejamento por parte de espíritos mais elevados.
Se isso acontece com espíritos num grau evolutivo semelhante ao nosso, é evidente que a encarnação de foi detalhadamente planejada e que milhares de espíritos foram envolvidos neste planejamento.
Jesus veio nos mostrar o caminho que leva a Deus. Ele não foi o primeiro nem o último a fazer isso. Muitos missionários chegaram ao nosso conhecimento e outros se perderam na poeira do tempo.
Para que o ensino de Jesus chegasse até nós, sobrevivendo aos séculos, atravessando grandes mudanças na humanidade, era preciso que um fato extraordinário imortalizasse a memória de Jesus. Este fato foi a sua morte nas condições em que ela se deu. Não há como negar que isso tenha sido planejado. É mais fácil negar os Evangelhos. Aceitar ou não aceitar os Evangelhos é uma questão de foro íntimo. Mas se aceitamos os Evangelhos não podemos ignorar que Jesus preparou-se para morrer da forma que morreu.
O erro nas interpretações tradicionais é defender a ideia de que Jesus veio para morrer. Jesus não veio para morrer, Jesus veio para viver. Jesus não morreu por nós, Jesus viveu por nós. Não é a morte de Jesus que nos salva, é a vida de Jesus que nos orienta a nos salvarmos. A morte de Jesus foi um detalhe. Um detalhe importante, imprescindível até, pois de outro modo dificilmente o seu ensino teria chegado tão longe no tempo e no espaço. E para que o objetivo a que Jesus se propôs tivesse êxito era necessário a colaboração de alguém muito próximo a ele.
“(…) tendo já o diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que o traísse” – já falamos sobre o diabo. Diabo é o adversário, o antagonista. Também já chamamos a atenção para o fato de que João é o único evangelista a dizer que Judas era ladrão.
Temos que considerar em primeiro lugar a inegável hostilidade deste Evangelho em relação aos judeus, pela animosidade que havia entre os judeus e os cristãos na época em que este Evangelho foi escrito – e Judas era o único judeu entre os doze discípulos, os outros eram galileus como Jesus.
Em segundo lugar, Jesus nos ensinou através de simbolismos – e Judas também se transformou num símbolo. O Evangelho de João foi escrito algumas décadas depois dos Evangelhos sinóticos. A imagem do traidor já tinha se estabelecido fortemente. Sabemos que os Evangelhos apresentam ensinos em vários níveis – e o nível literal, ao pé da letra, voltado à grande massa, precisa dessas imagens fortes capazes de ficar marcadas no imaginário popular.
- Jesus, sabendo que o Pai tinha depositado nas suas mãos todas as coisas, e que havia saído de Deus e ia para Deus,
O pai tinha dado tudo às suas mãos, ou seja, tinha disponibilizado tudo. Este versículo vale para cada um de nós, não só para Jesus. “Jesus, sabendo” – Jesus sabia isso; nós ou não sabemos ou recém estamos tomando conhecimento disso. Deus nos disponibiliza todas as coisas – todas as coisas de que precisamos para empreender a nossa caminhada evolutiva.
Saímos de Deus e vamos para Deus. Fomos creados por Deus, somos partículas de Luz divina e estamos em direção a Deus, estamos nos religando com Deus – que é o sentido da palavra religião, do latim religare.
Jesus…
- Levantou-se da ceia, tirou as vestes, e, tomando uma toalha, cingiu-se.
- Depois deitou água numa bacia, e começou a lavar os pés aos discípulos, e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido.
Jesus faz este gesto como resposta a um fato narrado no Evangelho de Lucas ocorrido nesta mesma ocasião:
“E começaram a perguntar entre si qual deles seria o que havia de fazer isto” (Lucas 22:23) – referiam-se a quem haveria de trair (entregar) Jesus – “E houve também entre eles contenda, sobre qual deles parecia ser o maior” (Lucas 22:24).
Este ato de lavar os pés dos discípulos só é narrado no Evangelho de João. É mais um exemplo de que Jesus se servia de símbolos para que o seu ensino ficasse fortemente gravado. As suas palavras, narradas em Lucas, poderiam ser esquecidas – mas o seu gesto de humildade, fazendo um serviço que competia aos escravos da casa, certamente não seria esquecido.
- Aproximou-se, pois, de Simão Pedro, que lhe disse: Senhor, tu lavas-me os pés a mim?
- Respondeu Jesus, e disse-lhe: O que eu faço não o sabes tu agora, mas tu o saberás depois.
- Disse-lhe Pedro: Nunca me lavarás os pés. Respondeu-lhe Jesus: Se eu te não lavar, não tens parte comigo.
- Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, não só os meus pés, mas também as mãos e a cabeça.
- Disse-lhe Jesus: Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo está limpo. Ora vós estais limpos, mas não todos.
- Porque bem sabia ele quem o havia de trair; por isso disse: Nem todos estais limpos.
A palavra é “entregar”, não “trair” – é claro que sabia, pois fazia parte do planejamento. E quem o havia de entregar – Judas – obviamente não estava limpo. Ele vivia um inferno interior por ter aceitado essa prova que estava se aproximando cada vez mais.
- Depois que lhes lavou os pés, e tomou as suas vestes, e se assentou outra vez à mesa, disse-lhes: Entendeis o que vos tenho feito?
- Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou.
- Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros.
- Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também.
- Na verdade, na verdade vos digo que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou.
- Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes.
Não basta saber, é preciso fazer. O conhecimento é imprescindível. Mas o conhecimento, por si só, não basta. É preciso praticar aquilo que se sabe. Bem-aventurados os que são conscientes do seu papel de instrumentos de Deus e trabalham em benefício do próximo.
“(…) porque eu o sou” – embora o texto grego não traga o pronome, ele está subentendido: “Eu Sou”. Eu Sou foi o modo como Deus descreveu a si mesmo (Êxodo 3:14). Nós somos partículas divinas. Deus nos serve nos dando a vida, nos fazendo conscientes de nós mesmos e nos dotando de recursos para o nosso próprio aprimoramento.
Assim como Deus age em nosso favor, nós devemos colaborar com a creação divina nos tornando instrumentos de Deus, agindo em favor dos nossos companheiros de viagem.
- Não falo de todos vós; eu bem sei os que tenho escolhido; mas para que se cumpra a Escritura: O que come o pão comigo, levantou contra mim o seu calcanhar.
Jesus está citando o salmo 41:9:
“Até o meu próprio amigo íntimo, em quem eu tanto confiava, que comia do meu pão, levantou contra mim o seu calcanhar”.
A expressão “levantou contra mim o seu calcanhar” quer dizer “chutou”, ou melhor, “deu um coice”.
Jesus deixa claro que ele escolheu e sabia quem estava escolhendo. Então não há traição, o que há é um planejamento.
- Desde agora vo-lo digo, antes que aconteça, para que, quando acontecer, acrediteis que eu sou.
Uma leitura apressada pode dar a falsa impressão de que Jesus usava de poderes psíquicos para adivinhar o que aconteceria – ou, por ser Deus, como muitos acreditam, ele sabia tudo. O que ele está dizendo é que tudo está planejado, e eles teriam certeza disso ao verem se concretizar o que Jesus lhes anunciava agora. Perceberiam então que Jesus fez tudo espontaneamente, que não foi vítima de uma traição, que teve o comando da situação.
- Na verdade, na verdade vos digo: Se alguém receber o que eu enviar, me recebe a mim, e quem me recebe a mim, recebe aquele que me enviou.
- Tendo Jesus dito isto, turbou-se em espírito, e afirmou, dizendo: Na verdade, na verdade vos digo que um de vós me há de trair.
A expressão εταραχθη τω πνευματι, traduzida como “turbou-se em espírito” dá a ideia de uma agitação interna. Lembramos mais uma vez que o correto não é “trair”, mas “entregar”.
- Então os discípulos olhavam uns para os outros, duvidando de quem ele falava.
- Ora, um de seus discípulos, aquele a quem Jesus amava, estava reclinado no seio de Jesus.
“O discípulo a quem Jesus amava” – o nome de João não aparece em nenhuma parte neste Evangelho. Em 21:24 é dito que quem escreveu este Evangelho foi “o discípulo que Jesus amava” – mas o capítulo 21 é na verdade um apêndice, um acréscimo ao Evangelho, não fazia parte do texto original.
Temos que imaginar, então, que o discípulo que Jesus amava era João. Nunca saberemos com certeza quem escreveu este Evangelho. Mas, se não foi o próprio João, provavelmente foram seus discípulos, seus continuadores (a “escola Joanina”), pois não há dúvida de que este evangelista defende um ponto de vista bastante particular em relação a Jesus – diferente de Marcos, por exemplo, que foi discípulo de Pedro, tendo sofrido a influência direta de Pedro e também de Paulo.
Essa expressão “aquele que Jesus amava” é usada em relação a Lázaro (João 11:3), mas o verbo grego para designar o amor de Jesus por Lázaro é phileo (φιλεω), e aqui é agapao (αγαπαω) – embora este verbo também seja usado para dizer que Jesus amava Marta, Maria e Lázaro (João 11:5). De qualquer modo, é muito provável que o discípulo que estava mais próximo de Jesus, durante a ceia, fosse João.
O texto diz “(…) reclinado no seio de Jesus” – quase todos nós conhecemos o quadro da última ceia, pintado por Leonardo da Vinci – e nos acostumamos com esta imagem. Mas eles não faziam as suas refeições sentados em torno de uma mesa. Eles comiam recostados sobre uma espécie de divã, apoiados sobre o cotovelo esquerdo. João, então, estaria à direita de Jesus, próximo ao peito de Jesus.
Essa mesma expressão é utilizada, no Evangelho de Lucas, na parábola do mendigo Lázaro e do homem rico (Lucas 16:19-31). O mendigo Lázaro, quando morreu, foi para o seio de Abraão – isso quer dizer que ele obteve uma posição de destaque. Ficar ao seio de alguém é receber o lugar de honra num banquete. É o que ocorria agora com João.
- Então Simão Pedro fez sinal a este, para que perguntasse quem era aquele de quem ele falava.
- E, inclinando-se ele sobre o peito de Jesus, disse-lhe: Senhor, quem é?
Como João estivesse mais próximo de Jesus, Pedro fez sinal a João para que perguntasse a Jesus quem é que o entregaria.
- Jesus respondeu: É aquele a quem eu der o bocado molhado. E, molhando o bocado, o deu a Judas Iscariotes, filho de Simão.
- E, após o bocado, entrou nele Satanás. Disse, pois, Jesus: O que fazes, faze-o depressa.
Este Evangelho foi escrito há mais ou menos 1900 anos. Já é tempo de usarmos a razão e não aceitarmos passivamente o que a opinião predominante nos passa.
Jesus diz que um deles o entregaria. Perguntam quem é. Jesus diz que é aquele a quem ele iria servir neste momento. O bocado molhado é um pedaço de pão embebido no vinho. Jesus dá o pão a Judas, ou seja, Jesus escolhe Judas – e aí é dito que depois do bocado entrou nele satanás.
Se acreditarmos que satanás é um ser, e que este ser entrou em Judas depois do bocado de pão embebido no vinho, somos levados à conclusão de que foi Jesus quem provocou a entrada de satanás em Judas.
Outra coisa: este Evangelho não narra Jesus repartindo o pão e o vinho entre os seus discípulos. Mas em Lucas, por exemplo, ele reparte o pão e o vinho e diz que é o seu corpo e o seu sangue (Lucas 22:17-20). E fizeram disso um sacramento, um símbolo de comunhão com Jesus. Como é que alguém recebe o pão e o vinho de Jesus e recebe junto o capeta?!
Satanás quer dizer adversário, opositor, antagonista. Essa palavra hebraica às vezes é traduzida para o grego diabolos (διαβολος), em português “diabo”.
É claro que neste momento satanás entrou em Judas – o antagonismo, a dúvida, a certeza de que devia cumprir o papel que havia aceitado e a incerteza sobre se isso era realmente necessário.
Judas não imaginava que seria odiado por milênios, não imaginava que até o século XXI alguns falsos cristãos fizessem uma brincadeira de mau gosto chamada “malhação de Judas”, mas percebia que seria desprezado e perseguido – principalmente por sua própria consciência cheia de dúvidas.
“E, após o bocado, entrou nele Satanás. Disse, pois, Jesus: O que fazes, faze-o depressa” – vamos aceitar por um momento que satanás seja um ser. Satanás entrou em Judas e aí Jesus dá uma ordem a ele. Jesus está dando uma ordem a Satanás, e essa ordem é para que entregue a ele mesmo, Jesus. Jesus manda satanás entregar Jesus: é uma parceria!
Mas não; satanás não é um ser e Jesus não foi traído. Jesus anima Judas para que ele não fraqueje na última hora: “(…) O que fazes, faze-o depressa” – “o que tens que fazer, faz de uma vez”.
- E nenhum dos que estavam assentados à mesa compreendeu a que propósito lhe dissera isto.
- Porque, como Judas tinha a bolsa, pensavam alguns que Jesus lhe tinha dito: Compra o que nos é necessário para a festa; ou que desse alguma coisa aos pobres.
- E, tendo Judas tomado o bocado, saiu logo. E era já noite.
Um minuto antes Jesus disse que um deles ia entregá-lo. Em Mateus 25:22 e em Marcos 14:19, quando Jesus diz que um deles ia entregá-lo, eles perguntam, um por um: – Porventura serei eu? – então é claro que todos ouviram o que Jesus disse e que as suas atenções foram voltadas para isso.
Pedro manda João perguntar quem é, Jesus diz que é aquele a quem ele der o bocado molhado, molha o pão, dá o pão a Judas e diz a Judas: “o que tens que fazer, faz depressa” – e ninguém entendeu?! “Ninguém compreendeu a que propósito lhe dissera isto”?
Não é possível. Medite na cena e você vai ver que não é possível. A não ser que os discípulos fossem um bando de paspalhos, o que definitivamente não eram.
“(…) como Judas tinha a bolsa, pensavam alguns que Jesus lhe tinha dito: Compra o que nos é necessário para a festa; ou que desse alguma coisa aos pobres” – comprar alguma coisa para a festa ou dar esmolas àquela hora da noite? Comprar o quê para a festa, se eles já tinham terminado a ceia?
Este Evangelho foi escrito em Éfeso, foi escrito pensando nos gregos. Para os gregos era comum a imagem de um deus que se tornava homem. Mas como explicar para os gregos que este deus-homem chamado Jesus tenha sido tão facilmente dominado e abatido? Era preciso enfatizar o papel de Judas. E na época em que este Evangelho foi escrito Judas já se tornara um símbolo do judeu odiado.
Mas o que importa são os simbolismos. No versículo 30, depois que Judas saiu, tem uma pequena frase: “(…) E era já noite” – no grego, ην δε νυξ.
Jesus representa o Cristo. O Cristo vai ser entregue, vai ser dominado e abatido pelo poder dos homens. O poder dos homens, o império do mundo, representado por Roma, é que vai abater o Cristo. Mas quem toma a iniciativa de entregá-lo ao poder dos homens são os judeus. Judeu quer dizer “aquele que louva a Deus”: representa o religioso tradicional, que valoriza apenas as exterioridades, vive em louvores a Deus – mas afasta a partícula de Deus em nós, que é o nosso Cristo interno, em direção ao império do mundo.
O Cristo, a partícula de Deus em nós, faz um longo percurso de afastamento de Deus em direção à matéria e depois retorna em direção a Deus. A entrega do Cristo a Roma, o império do mundo, representa o ponto máximo de afastamento de Deus. Mas a partir daí há o retorno, a conversão em direção a Deus representada pela elevação de Jesus na cruz.
Quando Judas sai para fazer o que devia ser feito, há a frase “e era noite” – a noite dos tempos, um período de treva.
Hoje nós vivemos em plena transição planetária. A Terra está deixando de ser um planeta de provas e expiações para se tornar um planeta de regeneração. Vivemos um período de dissolução dos costumes, de exageros, de confusão entre os conceitos de liberdade e liberalidade, um período de incertezas.
Atingimos o ponto máximo de decadência moral ao mesmo tempo em que nunca houve tantas pessoas comprometidas em ajudar o próximo, em cuidar do planeta (que é a nossa casa), em mudar o seu mundo interno para que o mundo externo também mude.
- Tendo ele, pois, saído, disse Jesus: Agora é glorificado o Filho do homem, e Deus é glorificado nele.
- Se Deus é glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e logo o há de glorificar.
Aqui mais uma vez a palavra doxa (δoξα) é traduzida como “glória”. O verbo doxazó (δοξαζω) é melhor traduzido, aqui, como “reconhecer”. O filho do homem é o resultado do homem, o homem no seu próximo estágio evolutivo – em relação a nós, é o homem evoluído. O homem evoluído é reconhecido e Deus é reconhecido nele, pois Deus se manifesta através dele.
- Filhinhos, ainda por um pouco estou convosco. Vós me buscareis, mas, como tenho dito aos judeus: Para onde eu vou não podeis vós ir; eu vo-lo digo também agora.
“(…) ainda por um pouco estou convosco” – esta frase pode ser interpretada como uma referência ao pouco tempo que Jesus ainda permaneceria com os seus discípulos, mas lembramos que “ser” e “estar”, no grego, assim como no inglês, são o mesmo verbo.
O texto grego diz: ετι μικρον μεθ υμων ειμι – micro (μικρον ) é “pequeno”. Pode dar a ideia de “pouco”, mas seu significado original é “pequeno”. Literalmente, a frase diz: “ainda pequeno eu sou convosco”. O Cristo ainda é pequeno em nós. A luz divina de que todos nós somos portadores ainda é muito pouco desenvolvida em nós. Por isso, por muito tempo ainda, procuraremos o Cristo e não o encontraremos – porque temos a tendência de procurá-lo fora de nós, quando na verdade temos que desenvolver a pequena luz que temos dentro de nós.
- Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis.
- Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.
Os discípulos do Cristo são os… cristãos. E os reconhecemos através do amor. Como reconhecer o amor? O amor pode ser visto, pode ser percebido pelos sentidos?
Pode ser percebido se for transformado em ação. O amor em ação é a caridade. É através da caridade que é reconhecido o cristão – não é porque segue esta ou aquela religião, ou porque confessou Jesus, ou porque esquenta um livro velho embaixo do braço, ou porque participou de meia dúzia de cerimônias exteriores.
- Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, para onde vais? Jesus lhe respondeu: Para onde eu vou não podes agora seguir-me, mas depois me seguirás.
- Disse-lhe Pedro: Por que não posso seguir-te agora? Por ti darei a minha vida.
- Respondeu-lhe Jesus: Tu darás a tua vida por mim? Na verdade, na verdade te digo que não cantará o galo enquanto não me tiveres negado três vezes.
Pedro não quis dizer que daria a vida por Jesus, pelo menos não a sua vida física. A palavra traduzida como vida é psique (ψυχη) – a melhor tradução seria “colocarei a minha psique sobre ti”, ou “colocarei a minha alma sobre ti”. Numa linguagem de hoje, Pedro estava prometendo abraçar a causa de Jesus com toda a sua alma.
Como sabemos, Pedro negou Jesus – assim como nós negamos o Cristo, a nossa natureza divina, sempre que colocamos o nosso ego em primeiro lugar.
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