Eu publiquei um artigo chamado “O que nos reserva o mundo de regeneração?”
Nesse artigo eu proponho algumas ilustrações sobre o que nos aguarda nesse nosso próximo estágio evolutivo. É importante frisar que isso não tem nada a ver com profecia – isso são decorrências naturais do nosso processo evolutivo. Olhando para o passado e para o presente com bastante atenção, procurando manter uma visão de fora, uma visão externa ao andamento desse processo, é possível intuir o que nos aguarda.
Mas uma parte do artigo gerou mais questionamentos. Transcrevo ele a seguir:
“As relações de família vão mudar, pois haverá a consciência de que nossos papeis familiares são passageiros, só os laços de amor é que importam. O mesmo em relação aos relacionamentos conjugais: não haverá a possessividade de hoje, não será considerado errado relacionar-se com outras pessoas, desde que haja consenso e respeito. Não sendo mais o sexo um fator determinante para a união dos casais, o ciúme doentio e o sentimento de posse serão superados.
Haverá a união de pessoas especificamente para ter filhos, sem a necessidade de um relacionamento conjugal entre eles. Espíritos mais elevados poderão, assim, planejar e cumprir cuidadosamente a reencarnação de grupos para missões especiais, sem a necessidade do casamento como nós o entendemos”.
Um questionamento é este: – “Então os casais liberais estão certos?”
Se nós entendermos casais liberais como aqueles que aceitam relações sexuais com outras pessoas, apenas o sexo pelo sexo, não; eles não estão certos. O sexo envolve energias das profundezas do nosso ser, e essas energias devem ser disciplinadas. Uma das funções do casamento monogâmico é esse: o disciplinamento das nossas emoções e energias. Além disso, o ideal é que o sexo envolva não apenas emoções e energias, mas sentimentos.
O primeiro casal famoso a tentar esse tipo de relacionamento aberto foi Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir. Ela, mais tarde, confessou que era infeliz e sofria muito com o ciúme.
Um relacionamento assim pode ser muito prejudicial ao despertar e alimentar emoções destrutivas. Sem esquecer que nós sintonizamos com espíritos encarnados e desencarnados que vibram na mesma faixa de frequência, ou seja, nós atraímos a companhia de espíritos afins. O que começa como uma experimentação em busca de prazer pode se tornar uma obsessão bastante complicada e de difícil solução.
A referência que fiz sobre o mundo de regeneração evidentemente trata do futuro – e de um futuro melhor, em que nós seremos seres melhores, mais responsáveis e mais equilibrados.
No passado a regra era a poligamia. Um homem podia ter quantas mulheres ele pudesse sustentar. É mais ou menos assim, ainda, em determinadas partes do mundo. Em O Livro dos Espíritos nós vemos que a monogamia é um avanço. Por que um avanço? Pelo aspecto disciplinar. Numa união monogâmica, nós experimentamos todos os desafios inerentes ao convívio íntimo entre dois seres: a paciência, a tolerância, o respeito, aprendemos a abrir mão de parte da privacidade, aprendemos a dar algo de nós mesmos – e, se tudo der certo, aprendemos até a amar.
O sexo tem a função primordial de repor os corpos físicos que perecem. Através da união sexual de um homem e uma mulher, um espírito reencarna e tem uma experiência na matéria densa. O casamento tem ainda a função primária de dar suporte a esse espírito reencarnante até que ele se baste por si mesmo. Em relação ao sexo, o casamento tem a função de regular os impulsos sexuais e equilibrar as emoções e energias ligadas ao sexo.
Isso são papeis exercidos pelo casamento, são funções. Isso não é Lei de Deus. Lei de Deus é o Amor, casamento não é Lei de Deus. Alguém pode alegar que no Gênesis Deus diz que o homem e a mulher serão uma só carne. O começo do Gênesis é o mito israelita da Creação. E assim ele deve ser entendido. Se o que está no Gênesis é para ser levado ao pé da letra, teríamos que explicar as relações incestuosas entre os primeiros habitantes da Terra, já que todos eram filhos de Adão e Eva; teríamos que explicar a poligamia dos descendentes de Adão; e teríamos que considerar que a mulher não passa de uma ajudante do homem, pois é assim que o Gênesis se refere à mulher.
Jesus ainda é bastante conservador em relação ao casamento, mas isso evidentemente se deve à época em que ele esteve encarnado entre nós.
Nós conhecemos pessoas que vivem muito bem sem sexo. Pessoas como Chico Xavier, Huberto Rohden, irmã Dulce, são pessoas que superaram o desejo sexual. As forças normalmente vinculadas ao sexo eles as canalizaram para fins mais nobres. O sexo é força criadora. Essas pessoas direcionam essa força para processos criativos mais elevados.
No mundo de regeneração será relativamente comum pessoas que terão controle sobre o desejo – não quer dizer que não irão sentir desejo, mas exercerão controle sobre o desejo.
Agora imagine uma pessoa que tem controle sobre o desejo; que tem como objetivo de vida ser útil ao próximo; que venceu o apego e a possessividade – essa pessoa não tem necessidade de se casar. Poderá casar, se quiser – mas isso não será uma imposição biológica ou emocional. Essa pessoa poderá viver sem o compromisso conjugal e envolver-se com uma pessoa ou mais de uma pessoa nas mesmas condições por amor.
Digamos que uma pessoa é muito espiritualizada e desenvolve um projeto na Terra. Um projeto planejado espiritualmente, que lhe exija muita dedicação. Essa pessoa quer ter um ou mais filhos. Os espíritos que irão reencarnar como seus filhos são seus velhos companheiros, seus parceiros de projeto. Essa pessoa não precisará casar para ter filhos. Irá entender-se com um parceiro ou mais de um parceiro (ou parceira, conforme o caso) e eles planejarão a concepção e a educação dos filhos em perfeita harmonia, sem a necessidade de vínculos conjugais entre eles. Isso é amor. A necessidade do vínculo conjugal não é amor, é apego. Amor pressupõe liberdade.
Isso não tem nada a ver com o que acontece hoje, de mulheres, às vezes meninas, que engravidam sem ter compromisso com ninguém. O que acontece hoje é imaturidade e total falta de planejamento, e a educação dessas crianças é um grande desafio por não contar com uma estrutura emocional e sentimental por parte dos pais – muitas vezes ausentes.
Não é isso. É um passo muito avançado em que o que vai prevalecer, sempre, é o respeito e o amor.
Hoje existe o conceito de poliamor. O poliamor consiste em ter uma relação amorosa e sexual com várias pessoas ao mesmo tempo, e em fazer com que essa relação seja duradoura.
Isso pode ser um preparo para os relacionamentos do futuro, mas ainda apresenta muitas imperfeições. Embora eu não conheça nenhum casal adepto dessa modalidade, eu tenho a impressão de que o sexo ainda fala muito alto nessas relações.
Além disso, deve ficar bem claro que o exemplo que eu citei há pouco será uma possibilidade, não será, de maneira alguma, a regra. Haverá formatações conjugais e familiares de todos os tipos. O chamado poliamor de hoje, com a sociedade que temos hoje, com os conceitos atrasados que ainda nos influenciam, tem os grandes inconvenientes do ciúme, das comparações, da dificuldade de fazer disso uma família, da estranheza da sociedade, entre outros problemas que só eles devem conhecer.
O mundo está mudando e está mudando rapidamente. O conceito tradicional de família e de relacionamento heterossexual monogâmico, que nós conhecemos, vai continuar existindo. Apenas não será uma regra imposta pela moral e os bons costumes. Será uma opção.
Quando passarmos a exercer controle sobre o desejo e vencermos o apego excessivo, que leva ao ciúme e à possessividade, nós vamos ver que não há motivos para estranheza. Que o que nos aguarda é o predomínio do amor – livre de falsos moralismos e livre de prisões emocionais.