Quem fala o que quer, ouve o que não quer…
Acredito que você esteja em busca do autoaperfeiçoamento, da reforma íntima. Você comete erros, como eu cometo, como todo mundo comete, mas a sua intenção é melhorar a si próprio.
Nessa procura da verdade, nessas tentativas de equilíbrio, nos deparamos com as mais variadas opiniões e conceitos. Todos os dias surgem soluções miraculosas pra tudo. Dentro do próprio espiritismo há pessoas com posicionamentos muito diversificados.
Nós sabemos que as doenças são causadas por nós mesmos, pelas nossas emoções desreguladas. Muitas doenças são provocadas por sentimentos não externados, como a mágoa, o rancor, a raiva, a tristeza. Se nós não as externamos, se nós não sabemos como agir com elas, o corpo se encarrega disso. O corpo procura purgar, pôr pra fora essas emoções que funcionam como um veneno para o corpo físico. Assim nascem as gastrites, as úlceras, as alergias.
Parece não haver dúvida de que devemos externar os nossos sentimentos e emoções. Não podemos guardar dentro de nós mesmos tudo o que sentimos. Você concorda? Só que algumas pessoas levam isso às últimas consequências, e falam tudo o que passa em suas cabeças. São pessoas que se apresentam como sinceras, francas, diretas.
Acontece que não dá pra ser sempre sincero. Que direito eu tenho de ferir alguém com a minha sinceridade? Como querer ser verdadeiro em todas as ocasiões? Foram precisos milênios de evolução para que a nossa espécie desenvolvesse a fala. Você sabia que o ser humano, por natureza, não tem nenhum órgão especial para a fala? Nenhuma parte de nosso corpo serve exclusivamente para falar. Foi preciso um gigantesco esforço de adaptação. Graças à fala, podemos selecionar os nossos pensamentos, escolher os pensamentos que merecem ser externados.
Você acha que tem o direito de botar pra fora tudo o que você pensa? A pretexto de ser verdadeiro, de ser franco, de não guardar emoções, você acha que pode sair por aí dizendo o que bem entende?
A sinceridade é uma qualidade maravilhosa. Mas nem todas as virtudes são boas o tempo todo. Até bondade demais é prejudicial. Uma mãe ou um pai excessivamente bons para o seu filho o estão prejudicando. Até para as virtudes deve haver equilíbrio.
Não, você não pode dizer sempre tudo o que você quer dizer. Aliás, eu acho que muita, mas muita coisa deve ficar guardada. Entre uma doença psicossomática e um monte de pessoas feridas pelo verbo solto, acho preferível a doença. Dos males, é o menos egoísta.
Você acha que pode dizer pra uma mulher que o novo corte de cabelo dela ficou esquisito? Ou que o vestido novo é muito extravagante? Ou que a maquiagem que ela usa fica melhor em mulheres mais jovens? Você pensa que pode dizer para um homem que ele é muito inseguro? Que ele não tem pulso firme? Você pensa que pode falar pra alguém numa situação grave, de doença ou problema familiar, que o causador de tudo é ele mesmo?
Foram precisos milênios de civilização para chegarmos aonde chegamos. E um dos motivos de a civilização ter se afirmado foi o respeito à hierarquia e à ordem. A hierarquia e a ordem nos dão noções de comportamento em sociedade que devem ser seguidos. E o resumo desse comportamento é o respeito. Respeito pelo professor porque sabe mais e pelo colega inexperiente porque sabe menos. Respeito pela mãe e pelo pai por suas responsabilidades e respeito pelos filhos por sua imaturidade. Respeito pelos que ensinam e pelos que aprendem, pelos que falam e pelos que calam, pelos que aparecem muito e pelos que quase não aparecem. Antes de dizer o que você pensa, pergunte a si mesmo se isso não vai magoar ou incomodar alguém. Na maioria das vezes vale mais a pena ficar calado.