Reencarnação

Quantas vezes precisamos reencarnar?

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Sempre gostei de violão. Não desenvolvi a persistência necessária para aprender a tocar decentemente.

Meu filho Artur está aprendendo a tocar “O mundo é um moinho”, de Cartola. Repete, repete, repete. Está ficando bom. Certamente vai ficar muito bom, e vai tocá-la de olhos fechados, com naturalidade, sem errar.

Quantas vezes ele terá que repetir até aprender a tocar perfeitamente? Uma quatrocentas vezes, talvez. Parece exagero? Não, não é. É assim que os músicos fazem. Também é assim que os jogadores aprendem a bater faltas, a cobrar escanteio, a passar de primeira. É assim também quando aprendemos a dirigir: são alguns poucos comandos que temos que dominar, e até dominá-los leva um bom tempo, temos que repetir muitas vezes.

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Quantas vidas já tivemos?

Tudo é repetição. Tudo é treino.

Se essas coisas relativamente fáceis nós demoramos tanto para aprender – e alguns de nós pensam que não serão capazes de aprender nunca – quantas vezes nós teremos que reencarnar até desenvolvermos determinadas características morais? Acredito que, assim como temos que repetir uma música umas quatrocentas vezes até ficarmos bons, também temos que repetir umas quatrocentas vezes os enredos reencarnatórios que nos assegurem o aprendizado das questões morais.

Nas primeiras vezes que reencarnamos, ainda primitivos, não conseguimos nem entender o que sejam questões morais – assim como quem tenta tocar um música de ouvido não acha nem o primeiro acorde.

Mas vamos reencarnando, reencarnando, e desenvolvendo, bem devagarinho, algumas qualidades morais – do mesmo modo que a música, aos poucos, vai saindo das cordas do violão: ainda em tímidos acordes, descompassados e lentos.

Por fim, já sabemos perfeitamente o que são as qualidade morais que temos que desenvolver, e fazemos o que está ao nosso alcance para concretizá-las em nós mesmos – como a música que flui, nítida e límpida, dos acordes ajustados.

Ainda tem algum errinho, tanto na música, de onde escapa um dedilhado sujo, como em nossa existência, que tem algumas resvaladas.

Mas nota-se o progresso, e isso é bom. Percebemos que é tudo questão de treino, e que conseguiremos tudo o que quisermos, basta nos empenharmos –  e gostarmos de viver, assim como quem toca violão deve gostar de música para sentir prazer nos seus progressos.

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