Minha opinião sobre os protestos contra os médicos cubanos no Brasil. Não é a opinião do Espiritismo. É a opinião de um espírita.
Não me ocorre, neste momento, situação mais vergonhosa e terrivelmente ridícula do que a hostilização contra os médicos cubanos por parte de algumas dezenas de criaturas infelizes. Não me lembro de ter visto nada igual na minha vida. Serão médicos, essas criaturas infelizes que vaiaram os médicos cubanos? Serão médicos, esses que fizeram os médicos cubanos passar por um corredor polonês? Serão médicos, esses que gritavam palavras agressivas e chamavam-nos de escravos?
Será que tudo tem que ser pensado de forma maniqueísta? Será que tudo deve ser classificado peremptoriamente como certo ou errado, céu ou inferno? O que é mais importante, a ideologia ou o respeito ao ser humano? O que é mais necessário, a defesa de supostos direitos de classe ou a defesa do direito à dignidade? O que é mais urgente, definir a querela política ou demonstrar civilidade a pessoas que são pessoas como nós?
Ao me deparar com cenas imbecis como essas penso no que se passa na cabeça dessas pessoas. O que eles pensam antes de dormir, em que mundo pensam que vivem, o que imaginam estar fazendo neste planeta? Será que já passou por suas cabeças que todos somos espíritos e que estamos passando por uma experiência na matéria, tendo uma chance de sermos úteis e produtivos? Será que essas pessoas percebem que somos iguais, que nossos objetivos espirituais são os mesmos, e que as posições que ocupamos no mundo são apenas oportunidades de construirmos nossas trajetórias evolutivas?
Não sei se este fato gerou repercussão, acho que não. Não acompanho a grande mídia; tomei conhecimento através das redes sociais. Procurei nos grandes sites de notícias hoje e não achei nada…
Talvez não seja importante um ato de desrespeito com pessoas que não têm nada a ver com politicagem e corporativismo. Porque é isso que gera vexames execráveis como esse: Paixão política cega e desenfreada ou corporativismo elitista e hipócrita – ou seria Hipócrates?
Como não acompanho o noticiário, não sou “bem-informado”. Não sei de todos os detalhes pró e contra a vinda de médicos cubanos ao Brasil. Não é sobre isso que estou falando. Estou falando do desrespeito com os seres humanos que vieram para um país com fama de hospitaleiro e se depararam com uma situação degradante. Eu falei degradante? Então eu estou julgando? Antes que me acusem de estar fazendo julgamento, aproveito para lembrar o ensinamento de Jesus:
“Não julgueis, pois, para não serdes julgados; porque com o juízo que julgardes os outros, sereis julgados; e com a medida com que medirdes, vos medirão também a vós.” (Mateus, 7:1-2).
Eu me submeto a ser julgado como estou julgando. Se um dia eu cometer uma sandice preconceituosa como essa, quero ser julgado com todo o rigor.
Já que estamos falando em julgar e ser julgado, trago um trecho do capítulo X do Evangelho segundo o Espiritismo que serve para analisarmos a atitude de quem chamou os médicos cubanos de escravos. E também para quem quiser analisar a minha atitude:
A censura de conduta alheia pode ter dois motivos: reprimir o mal, ou desacreditar a pessoa cujos atos criticamos. Este último motivo jamais tem escusa, pois decorre da maledicência e da maldade. O primeiro pode ser louvável, e torna-se mesmo um dever em certos casos, pois dele pode resultar um bem, e porque sem ele o mal jamais será reprimido na sociedade. Aliás, não deve o homem ajudar o progresso dos seus semelhantes? Não se deve, pois, tomar no sentido absoluto este princípio: “Não julgueis para não serdes julgados”, porque a letra mata e o espírito vivifica.
Duvido que esses que vaiaram teriam algum interesse em trabalhar nas cidades designadas para os cubanos. Pois se estão incomodados com a ida dos médicos cubanos a essas cidades, por que não vão eles pra lá? Acredito que os habitantes dessas cidades não querem saber se o médico é brasileiro, cubano ou marciano.
Isso é apenas meu ponto de vista. Sei que deve haver inúmeros argumentos contra e a favor. Já acompanhei política e tinha sempre duas dúzias de argumentos decorados na ponta da língua.
O tema provavelmente vai gerar polêmica por bastante tempo, como as cotas raciais ou o bolsa-família. Cada um pensa como bem entender, cada um raciocina de acordo com os seus valores e referências. Só não vejo como defender atitudes grotescas como a ocorrida no Ceará.
Aqui o comentário de Allan Kardec à questão 793 do Livro dos Espíritos:
De duas nações que tenham chegado ao ápice da escala social, somente pode considerar-se a mais civilizada, na legítima acepção do termo, aquela onde exista menos egoísmo, menos cobiça e menos orgulho; onde os hábitos sejam mais intelectuais e morais do que materiais; onde a inteligência se puder desenvolver com maior liberdade; onde haja mais bondade, boa-fé, benevolência e generosidade recíprocas; onde menos enraizados se mostrem os preconceitos de casta e de nascimento, por isso que tais preconceitos são incompatíveis com o verdadeiro amor do próximo; onde as leis nenhum privilégio consagrem e sejam as mesmas, assim para o último, como para o primeiro; onde com menos parcialidade se exerça a justiça; onde o fraco encontre sempre amparo contra o forte; onde a vida do homem, suas crenças e opiniões sejam melhormente respeitadas; onde exista menor número de desgraçados; enfim, onde todo homem de boa vontade esteja certo de lhe não faltar o necessário.