Todo ensinamento de Jesus se aplica a todos os estágios evolutivos. Perdoar aos inimigos é também um ensinamento prático e absolutamente necessário.
Em tempos de internet e acesso a informação de todo tipo, não é preciso ser especialista para saber que a principal característica do hipertenso é o ressentimento. O ressentimento crônico, comum a tantas pessoas do nosso convívio, gera a hipertensão crônica e as doenças cardíacas. Todos sabem que rancor provoca úlceras no estômago, que a raiva persistente causa uma série de distúrbios.
Quando Jesus nos recomendou que perdoássemos aos nossos inimigos, não estava apenas nos mostrando o caminho da elevação espiritual através do desprendimento da materialidade e do egoísmo que pontua nossas relações. Todo ensinamento de Jesus se aplica a todos os estágios evolutivos. Perdoar aos inimigos é também um ensinamento prático e absolutamente necessário.
Não precisaríamos nem mesmo de grande elevação moral para perdoar aos inimigos. Bastava um pouco mais de racionalidade. Pois a regra é que o maior prejudicado com o não-perdão seja justamente o que não perdoa. O inimigo – que talvez nem mereça ser chamado assim – pode nem saber que gera tanta raiva em você e você fica se retorcendo, se remoendo, adoecendo de rancor e sede de vingança. É possível que o inimigo saiba que tem o poder de provocar essa raiva toda e se divirta muito com isso, se ache muito importante e poderoso ao conseguir abalar alguém de maneira tão eficiente.
Mesmo sem deixar de ser egoísta é preciso perdoar aos inimigos. Ao nutrir raiva e padecer com os resultados dessa raiva, você está demonstrando a sua fraqueza e concedendo o prazer da vitória ao seu inimigo.
Será que temos, realmente, inimigos? Sei que há casos, e são significativos, de inimizades milenares, de adversários que reencarnam muitas e muitas vezes próximos um do outro como tentativa de reajustar esse desajuste emocional. Nem todos aproveitam a oportunidade. Em família é comum que haja, entre seus membros, antigos desafetos que experimentam a intimidade do lar e dos laços consanguíneos para rearmonizar ou pelo menos amenizar a relação doentia.
Mas às vezes os inimigos não são inimigos. Ou não deveriam ser considerados assim. Pois são eles, muitas vezes, que nos possibilitam as melhores oportunidades de progresso moral, de aprendizado das coisas do espírito. As dificuldades provocadas por uma relação de inimizade nos fazem, mais cedo ou mais tarde, descobrir maneiras de resolver a situação. A partir dessa decisão começamos a tentar compreender as origens dessas diferenças, e inevitavelmente mudamos. Mudamos o nosso modo de pensar, revemos nossas posturas, nossas atitudes, nossos conceitos. Nem sempre conseguimos mudar o sentimento, mas é preciso dar um passo de cada vez. E a atitude racional, se ainda não é capaz de proporcionar uma alteração nos sentimentos, já é suficiente para a tomada de decisões e o começo das tentativas.
Percebemos, um dia, que ninguém se torna inimigo por acaso. Quem é inimigo, antes foi amigo. Em algum ponto remoto do passado, em alguma reencarnação perdida na memória atual, houve uma reviravolta nas relações entre duas pessoas que se queriam bem e surgiu a inimizade. Ninguém odeia alguém por nada. Ninguém odeia o motorista que desrespeitou o sinal vermelho, ninguém odeia o torcedor do time rival, ninguém odeia alguém que não conhece. Pode sentir raiva dessas pessoas, algo momentâneo e irracional, uma transferência de sentimentos recolhidos que acharam uma escapatória.
Mas só é possível odiar alguém de quem gostamos muito um dia. Todas as relações de inimizade têm como origem a amizade ou uma relação amorosa ou familiar. Se não encontrarmos as causas aqui, as encontraremos noutra existência.
Trato de assuntos teóricos com facilidade. Quando falo de coisas práticas, olho no espelho que tenho à minha frente para me lembrar de que devo ser honesto comigo mesmo.
Já tive inimigos. Já considerei pessoas como inimigas. Percebo claramente que as dificuldades provocadas a partir dessas relações fizeram com que eu me esforçasse para ser uma pessoa melhor. Nem sempre tive o equilíbrio necessário para lidar com essas situações. Mas, quando tive, os resultados foram excelentes. Nas vezes – que poderiam ter sido mais numerosas – em que orei pelos meus inimigos notei que sua importância ia diminuindo cada vez mais. Não considero a ninguém, hoje, como inimigo. Peço com sinceridade e sentimento que todos a quem eu prejudiquei, nesta ou em outras reencarnações, intencionalmente ou não, me perdoem. Eu, da mesma forma, perdoo a todos que tenham, de algum modo, com ou sem intenção, me prejudicado. Que todos tenham a chance de sentir o que sinto.
Como diz meu amigo Marco Antônio, começamos orando pelos nossos inimigos; depois percebemos que não temos inimigos…