Artigo publicado originalmente em 25/09/2012
Você já ouviu falar que aprendemos pelo amor ou pela dor? Acredita que podemos aprender tudo pelo amor? Eu, particularmente, acho que ainda não. A experiência de cada um de nós demonstra que costumamos aprender muito mais pela dor do que pelo amor.
Desde crianças temos a oportunidade de aprender através do amor. São os conselhos e ensinamentos exaustivos do pai e da mãe, os exemplos, as lições que recebemos dos mais velhos. Alguns nós seguimos. Muitos outros nós não seguimos. E aprendemos com nossas próprias experiências. Às vezes repetimos as mesmas experiências de nossos pais, sendo que seria fácil para nós ter aprendido com a experiência deles.
Mas não dá pra negar a capacidade que a dor tem de nos ensinar. É que a dor, pelo menos neste nosso planeta, é mais experiente que o amor. A dor pega você de jeito, como quem não quer nada, e quando você vê está pronto para refletir.
O que o amor levaria meses para explicar, a dor demonstra em alguns minutos. O que o amor levaria várias reencarnações para ensinar, a dor ensina em alguns anos. A dor chama para si, obriga a sentar e ouvir. Com a dor física, você percebe que está abusando do corpo. Com a dor da saudade, você valoriza quem está longe. Com a dor do arrependimento, você reconhece o erro e se propõe a consertá-lo. Com a dor da solidão, você se dá conta de que não é uma ilha, de que não se basta sozinho. Com a dor do coração você nota que não é como gostaria de ser, que é bem mais falível, suscetível e sensível do que costuma pensar.
A dor arranca o seu disfarce. E você se vê como é de verdade. E, não importa como você seja, o fato é que você é único. E só. Sozinho num imenso universo. O único responsável por você mesmo. Autor, ator e crítico do próprio espetáculo. Você é responsável pelo seu corpo, é você que deve cuidar dele. Você é responsável por seus sentimentos, e deve aprender a lidar com situações conflituosas como solidão, saudade ou abandono. Você é responsável por seus pensamentos, palavras e ações, e está sujeito a fazer coisas de que se arrependerá.
E ao perceber que você é o único responsável por sua própria vida, você então permite ao outro que ele seja como ele é. Porque o outro também é o único responsável pela vida dele. O outro não tem o poder de influenciar a sua vida, a não ser que você permita. Do mesmo modo, você só vai influenciar a vida do outro se ele permitir.
E se você quer ser livre precisa saber que só existe liberdade onde houver tolerância. Se você não permite que o outro seja como ele é, se você não aceita que o outro seja diferente de você, você está preso ao outro. Está preso porque há uma questão mal resolvida que exige solução. A liberdade em relação aos demais só é alcançada se houver tolerância.
A dor é um mecanismo que serve para orientar, como uma bússola. Sempre que houver um desvio da rota, a dor alerta. Você pode ignorá-la por um bom tempo. E quanto mais você a ignora, mais forte ela fica, mais potencial de ensinamento ela adquire.
É claro que um dia aprenderemos mais com o amor. Aprenderemos mais facilmente, mais docilmente. Mas em nosso estágio evolutivo a dor ainda é de extrema utilidade. Sem ela, levaríamos muito mais tempo para aprender qualquer coisa. Não sentiríamos necessidade alguma de refletir. Não reclame da dor, aprenda com ela.