Pensamento e disciplina

Para onde nós vamos quando desencarnamos?

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– Para onde nós vamos quando morrermos?

 

Para os simpatizantes do Espiritismo, aqueles que vão de vez em quando no centro espírita para tomar um passe e que assistem a filmes como Nosso Lar, a colônia espiritual Nosso Lar é o céu dos espíritas.

 

Os espíritas, de um modo geral, acreditam que quando nós desencarnarmos nós vamos para o umbral. Vamos penar um pouco no umbral e depois seremos socorridos e vamos para uma colônia semelhante a Nosso Lar.

 

O raciocínio é simples:

– Se André Luiz, que é André Luiz, ficou oito anos no umbral, o que será de nós? Mas, como os bons espíritos são misericordiosos, nós seremos socorridos.

 

Não é por aí!

 

André Luiz narra a sua história em Nosso Lar, que é o primeiro livro de uma série composta por treze livros, a série A vida no mundo espiritual. Essa série é um projeto desenvolvido por um grupo de espíritos do qual André Luiz é o porta-voz. Ele lança as suas próprias teorias, conta parte da sua trajetória, das suas impressões, mas tudo sob a influência desse grupo de espíritos.

 

O que André Luiz nos conta são possibilidades; não são regras.

 

A primeira descrição do umbral de que nós temos notícia está no capítulo 1 de Nosso Lar, em que André Luiz nos conta as suas impressões. E a primeira definição do umbral é feita por Lísias no capítulo 12 de Nosso Lar. Lísias define o umbral como “região destinada ao esgotamento de resíduos mentais”.

 

– Você sabe o que é umbral?

– Por que André Luiz escolheu essa palavra?

Umbral é o limiar da porta. É a parte de dentro do marco da porta. Sabe a porta que liga a sala da sua casa ao seu quarto? Existe um espaço, dentro do marco da porta, que não é nem sala nem quarto – esse espaço se chama umbral.

 

André Luiz se utiliza desse termo para descrever uma região (e um estado mental equivalente a essa região) que não é nem o plano físico nem o plano astral propriamente dito.

O umbral é o lugar dos desequilibrados. Se você for um bom observador, você vai constatar que grande parte das pessoas que você conhece ou conheceu é composta de desequilibrados.

 

O umbral só existe por causa do apego. Quem se desapega de emoções baratas, de mágoas, rancores, sentimento de culpa, sede de vingança, vícios e ilusões da matéria não passa pelo umbral.

 

Ninguém decide quem é que vai pro umbral e quem é que não vai. O único juiz é a nossa própria consciência.

 

Nosso corpo astral tem um peso específico. Quanto mais apegados, mais pesado é o nosso corpo astral. Para nos elevar precisamos nos desfazer de parte desse peso – o esgotamento de resíduos mentais de que Lísias nos fala em Nossa Lar.

 

– Mas e Nosso Lar? Nosso Lar é uma espécie de paraíso dos espíritas?

 

De jeito nenhum. Nosso Lar está nas fronteiras do umbral, ainda é um lugar de espíritos apegados à matéria. Tem comida, tem roupa, tem veículos, tem atividades em tudo semelhantes às atividades que nós conhecemos aqui no plano físico.

 

Nosso Lar só é paraíso pra quem ficou anos penando no umbral. Fora isso, Nosso Lar só é bom pra quem gosta da vida como ela é no plano físico.

Lá tem hierarquia, tem chefe, tem trabalho, tem fofoca, tem tudo que tem aqui – mas com algum controle; é um ambiente de maior respeito, de novos aprendizados, de companhias afins: um plano físico melhorado.

 

Mas para quem tem maiores ambições espirituais, para quem não é apegado (ou pelo menos não muito apegado) ao plano físico e ao tipo de vida que nós levamos no plano físico, a ideia é ir além de colônias como Nosso Lar.

 

Quem pratica a projeção consciente conhece a sensação de liberdade que se sente no astral. Quem já teve experiências místicas sabe que existem muito mais possibilidades do que o que é relatado nos livros espíritas.

 

– Será que nós podemos alcançar isso?

Acho que sim. Pelo menos podemos almejar e nos preparar para isso.

 

– O que temos que fazer para alcançar isso?

Desapegar. Desapegar de vícios, de fraquezas humanas, de sentimentos baixos, de rancores, de mágoas, de sentimento de culpa, e, principalmente, de crenças: o que nos impede de pensar mais alto, e consequentemente de acreditar que é possível subir mais alto e nos preparar para isso são as nossas crenças limitadoras, principalmente crenças religiosas – e aqui eu estou incluindo o Espiritismo.

 

O Espiritismo popular é uma adaptação do catolicismo:

  • Trocou o céu por Nosso Lar, trocou o purgatório pelo umbral e o inferno pelas trevas;

 

  • Jesus não é Deus, mas é o criador do nosso planeta; os santos foram substituídos pelos espíritos superiores; os anjos da guarda forma substituídos pelos espíritos protetores;

 

  • A igreja foi trocada pelo centro espírita, a missa foi trocada pela palestra e a confissão foi trocada pelo atendimento fraterno;

 

  • Os católicos têm hóstia e água benta? Os espíritas têm o passe e a água fluidificada.

 

  • A igreja tem o padre? Os espíritas têm o presidente do centro espírita.

 

  • A igreja tem o papa? Os espíritas têm o presidente da FEB.

 

  • A igreja atribui todo o mal ao diabo? Os espíritas atribuem tudo aos espíritos obsessores.

 

  • A igreja gosta de um rebanho dócil que não questiona nada do que o padre fala? Ah, o Espiritismo também gosta muito de um rebanho bem dócil, que baixa a cabeça e abre mão de pensar – não precisa pensar, é só fazer o Evangelho no Lar que tudo se resolve.

 

Existem algumas diferenças que devem ser valorizadas: o atendimento espiritual e a imensa literatura que temos à disposição. O resto é tudo adaptação.

 

O Espiritismo surge como uma proposta de fé raciocinada, mas isso quase não existe mais.

 

– Alguma coisa contra essas coisas que eu citei?

Não, nada contra. Mas se é para copiar práticas consagradas pela Igreja, talvez fosse melhor ficar na Igreja – pelo menos uma igreja é mais bonita que um centro espírita e o ambiente costuma ser mais convidativo à reflexão e ao recolhimento.

 

Allan Kardec diz que os espíritos desencarnados vivem na erraticidade. E os relatos dos espíritos, no tempo de Kardec, dão ênfase ao que eles sentiam, não a descrições sobre como eles viviam. Percebemos nos relatos uma maior conscientização por parte dos espíritos, um maior desprendimento da matéria – mesmo entre os espíritos mais atrasados.

 

– Por que o tipo de relato é diferente?

 

Por que cada grupo de espíritos capta situações e sentimentos diferentes, de acordo com as suas expectativas, de acordo com os seus interesses, de acordo com as suas crenças e capacidades.

 

A situação na França do século XIX era muito diferente da situação no Brasil do século XX.

 

Colônias espirituais é uma possibilidade, só isso. Ou você acha que as dezenas de milhões de católicos e protestantes do Brasil vão todos para colônias espirituais quando desencarnam?

 

A mente humana é muito ampla. Existem muito mais possibilidades do que sequer somos capazes de imaginar.

 

Você já pensou na situação dos hinduístas, dos budistas, dos xintoístas, dos confucionistas, de todos esses bilhões de pessoas que têm uma visão de mundo e uma visão de espiritualidade muito diferente da nossa?

 

Será que eles vão todos pro umbral e depois pra colônias espirituais?

O destino de cada um, depois da morte do corpo físico, é diferente. Qualquer pessoa que não seja muito apegada ao plano físico, que consiga se desprender das pessoas que ficam aqui, e que é mais boa do que má, vai ficar muito melhor depois da morte.

 

O que precisamos, para viver melhor aqui e em qualquer outro plano, é de esclarecimento.

Alguém pode tentar me corrigir dizendo que nós temos que ser bons, que não basta esclarecimento.

 

– Cuidado com os conceitos de bondade. Os conceitos de bondade com que nós lidamos são excessivamente religiosos. Jesus mesmo disse que bom, só Deus.

 

Se você começou a ler esse artigo esperando que eu fizesse grandes descrições detalhadas de como é a vida depois da morte, de quais são exatamente as possibilidades de lugares que nós temos para ir depois da morte, eu sou obrigado a dizer que você não entendeu nada até agora.

 

Tudo o que nós lemos nos livros a respeito da vida após a morte passou pelo filtro de outras mentes. Essas descrições servem para nós termos uma ideia de como as coisas funcionam – mas mesmo assim é uma ideia vaga: o ideal é nós fazermos as nossas próprias experiências.

 

Analise a si mesmo. Se você não sabe meditar, recolha-se em silêncio, observe os seus pensamentos, observe o que você sente. Aquilo que você sente normalmente quando está recolhido, sozinho, em silêncio, é o seu padrão mental. Esse padrão nos acompanha quando nós desencarnamos. Se não está bom, trate de melhorar.

 

Se você não é capaz de se recolher por alguns minutos, se você não consegue ficar só com você mesmo, então alguma coisa está errada. Trate de conhecer melhor a si mesmo. Afinal, a sua única companhia permanente é você mesmo.

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