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Os vícios numa visão espírita

cigarro

Algumas vezes eu sou criticado por me manifestar contra os vícios – álcool, drogas, sexo, essas coisas que viciam. Essa postura parece muito conservadora – e no que se refere ao sexo, especificamente, qualquer coisa que tente estabelecer limites para o sexo, para o exercício da sexualidade, alguns consideram como puritanismo. Mas não tem nada disso.

Na verdade não tem nada de errado com essas coisas que viciam. O erro está no vício. Nós temos uma tendência à inércia, temos uma tendência a permanecer no estado em que nós estamos. E isso leva ao vício.

A nossa natureza física nos oferece sensações – nós aprendemos muito com as sensações, é um dos modos de aprendermos neste planeta, através das sensações. Nós experimentamos sensações de prazer com a comida, com o álcool, com as drogas, com o sexo – e quando essas sensações nos dão muito prazer, a nossa tendência é estacionarmos nessa faixa de experiência.

E não há nada de mal na experimentação, o plano físico tem essa propriedade de nos proporcionar essas experiências – o mal está em ficar estacionado em determinadas experiências, isso é o que caracteriza o vício: a repetição descontrolada de uma determinada experiência em busca de sensações.

Por isso a importância da disciplina. A importância de estabelecer limites para si mesmo e de obedecer a esses limites. Quem estabelece limites? A nossa consciência. É a consciência que conclui o que é certo e o que é errado, o que convém e o que não convém. A questão 621 de O Livro dos Espíritos diz que as Leis de Deus estão gravadas em nossa consciência. E não basta estabelecer limites, é preciso obedecer a esses limites. A palavra fé, utilizada tantas vezes na Bíblia, quando conta a história de Abraão (Abraão é o maior símbolo de fé, na Bíblia), no Gênesis, é dito que Abraão obedecia a Deus. A palavra hebraica emunah, que hoje traduzem como “fé”, originalmente que dizer obediência.

Nós vemos que a Bíblia contém muita sabedoria. Hoje nós compreendemos que Deus está dentro de nós. Deus é a Lei, e a Lei está em nossa consciência. Cabe a nós, então, seguirmos a Lei, obedecermos a Lei – esse é o caminho da felicidade.

Nós precisamos de limites. Nós vemos, por exemplo, o Estatuto da Criança e do Adolescente – um conjunto de leis muito avançadas, muito bonitas na teoria. Mas o ECA estabelece uma série de direitos, a criança e o adolescente tem uma enormidade de direitos. E os deveres? Nós precisamos de deveres, precisamos de limites!

Nós vivemos hoje um excesso de liberdade. Eu não sou favorável a nenhuma ditadura. Na minha infância e adolescência eu aprendi que tudo o que se relacionava ao regime militar era ruim, era negativo. É evidente que houve abusos (aliás, dos dois lados), e eu não estou propondo aqui nenhuma discussão sobre esquerda/direita ou sobre formas de governo.

Mas se nós olharmos, por exemplo, a música produzida na época e a música de hoje, nós vemos claramente que o excesso de liberdade de hoje leva a um relaxamento da qualidade. Naquele tempo nós tínhamos Raul Seixas, Zé Ramalho, Belchior, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento – eu nem gosto de Chico Buarque, por exemplo, mas reconheço o seu valor. O que é que nós temos hoje?

É claro que esse é um processo muito mais complexo, nós vivemos um período de transição, o mundo que nós conhecemos não existe mais, não vai voltar a existir. Dessa revolução que nós vivemos hoje certamente vai ser gerado um mundo melhor.

Eu só citei esses exemplos para demonstrar que nós funcionamos melhor, nós damos mais de nós mesmos, nós nos desenvolvemos mais quando nós temos limites. Liberdade requer responsabilidade. Se nós ainda não temos responsabilidade suficiente – e se nós tivéssemos eu acho que nós não estaríamos aqui – então nós temos que estabelecer limites e segui-los.

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