Recebo muitas sugestões de temas a serem abordados neste site. Algumas já renderam artigos razoáveis; outras não consegui desenvolver conforme a ideia de quem me sugeriu. Como vou falar de homossexualidade na família? Não posso discorrer sobre o que não conheço. Não tenho a pretensão de opinar sobre assuntos acerca dos quais não tenho a menor experiência direta.
Mas o assunto que mais me pedem para escrever é sobre o homossexualismo. Pedem a opinião do espiritismo acerca do homossexualismo. Não sou porta-voz do espiritismo. Tudo o que escrevo é minha opinião, com o cuidado de não contrariar em nenhum ponto o ensinamento espírita. Não acredito em verdades absolutas. E, como Raul Seixas, não tenho opinião formada sobre tudo.
O que me trouxe essa reflexão foi a constatação de que é cada vez mais raro ver uma família nos moldes tradicionais. O que isso tem a ver com homossexualismo? Chegaremos lá.
Quando me refiro a família tradicional, quero dizer pai, mãe e filho ou filhos. A maioria das pessoas passa por duas ou mais experiências conjugais, com ou sem filhos. Pare um minuto e observe as pessoas próximas a você. Verá que há separados e divorciadas que casaram de novo, casais veteranos que abriram mão de ter filhos e se contentaram com cachorro, casais que desejam muito ter filhos e não têm, casais com enteados dos dois lados. E com isso, tem o irmão, o meio-irmão e o irmão do irmão.
Mas também já é comum a avó que cria os netos, a irmã mais velha que cria os irmãos mais novos, o pai que cria os filhos sozinho. Ainda existe o casal tradicional, é claro. Mas mesmo aí as mudanças em relação a tempos atrás já são acentuadas. Muitos pais dividem as responsabilidades na criação dos filhos com as mães. Muitas mães dividem as responsabilidades de sustento da casa com os pais. Os retrógrados dizem que é o fim dos tempos. Você acha que é o fim dos tempos? Eu acho que é só o começo.
E pergunto a você: Será que um dia existiu mesmo o modelo familiar tido como exemplar? Não estou questionando a existência de famílias exemplares. Claro que há muitas delas. Mas me refiro ao modelo tido como exemplar. Sabe aquele estilo anos sessenta? American way of life? As famílias americanas formadas por papai, mamãe e um casal de filhos, todos sorridentes em seu carro novo.
É esse o tipo ideal de família no imaginário popular. É o tipo oficial de família. Família que tira férias e viaja, feliz. Talvez você pertença a uma família dessas. Se não pertence conhece algumas assim. Mas estou inclinado a achar que esse modelo sempre foi exceção.
Eu, particularmente, não tive e não tenho uma família tradicional. Não tive como filho e não tenho como pai. Acho que por muito tempo, ainda, existirá o conceito de felicidade familiar ideal atrelado ao modelo tradicional de família. Família viajando, todos juntos, alegres. Esse ideal não existe em famílias remendadas e talvez não possa existir em famílias homossexuais.
Cada vez que se noticia a adoção de crianças por casais homossexuais, ouço comentários demonstrando grandes preocupações com as crianças. A falta de referência paterna ou materna, a inexperiência do casal masculino para ensinar coisas de mulher às meninas e vice-versa.
Concordo que o ideal é a tríade pai-mãe-filho. Mas seria hipocrisia demais fechar os olhos pra realidade. Não vivemos de modelos. Seguimos modelos, sempre que possível. Meu modelo de conduta, por exemplo, é Jesus Cristo. Mas não posso brincar de Jesus Cristo. Tenho que me esforçar todos os dias para me aproximar dele. Assim também em relação aos novos modelos familiares. Não são o ideal? Não. Que lástima. Mas e as crianças esperando por adoção; será que fazem questão de um “lar ideal”? Que referência é a mais acertada: Uma criança criada por um casal homossexual ou uma criança que deixou de ser adotada por falta de famílias tradicionais que a adotassem? Acho importante termos ideais. Imprescindível, até. Mas nosso mundo ainda está longe do ideal. E se estamos neste mundo é porque nós, como espíritos imortais, ainda estamos longe do ideal. E não podemos brincar de mundo de regeneração, fingindo que já evoluímos muito. A transformação está recém começando. Você está preparado?