“Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.” Não vou tão longe como o Raul Seixas, mas também não tenho opinião formada sobre tudo.
Como você encara as opiniões diferentes da sua? Você aceita? Analisa? Pensa a respeito? Quando um leitor elogia algum artigo que escrevo, geralmente diz mais ou menos assim: “Parabéns, eu penso exatamente como você!”
Este elogio é para mim ou para ele mesmo? Nós parabenizamos quem pensa como nós. Porque consideramos a nossa opinião muito importante. Então, quando aparece alguém que tem a mesma opinião que a nossa, esse alguém deve ser muito especial. Merece os parabéns!
Não é mais ou menos assim? Devo esclarecer que não sou um homem imune à vaidade. Gosto de ser reconhecido pelo meu trabalho. Além disso, sou totalmente favorável ao elogio, sou um entusiasta do elogio.
Mas não é com os elogios que eu costumo aprender. Nem com as críticas. Não acredito muito nesse negócio de crítica construtiva. Crítica é crítica, e ninguém gosta de ser criticado. Não aprendo com elogios nem com críticas. Aprendo com as opiniões diferentes das minhas.
Quando alguém sabe expor seu pensamento de maneira clara e objetiva, sem a pretensão de fazer prevalecer a sua verdade, esse alguém está me fornecendo campo de pesquisa, material de estudo, trabalho para o pensamento.
Não estamos acostumados a aceitar as opiniões dos outros. Quem tem o costume – péssimo – de discutir, dificilmente, muito dificilmente, consegue analisar a opinião do seu contendor oponente. Quem discute nem sequer cogita de avaliar a opinião do outro. O objetivo da discussão não é chegar a um denominador comum, não é alcançar o consenso. O objetivo da discussão é fazer prevalecer a sua opinião. E ponto final. Se você acha que não é assim, procure lembrar das últimas vezes em que você discutiu.
As opiniões diferentes das nossas são as melhores oportunidades de crescimento de perspectiva, de ampliação dos horizontes cognitivos, de empatia e amadurecimento emocional. Não é com as opiniões iguais às minhas que eu aprendo. Adoro ouvir opiniões iguais as minhas. Me sinto inteligente. Mas o que elas podem me acrescentar, se eu já as conheço?
É com as opiniões diferentes que eu aprendo e me desenvolvo. As opiniões diferentes, se as admitimos como hipóteses de verdade, se ousamos pensar a respeito delas com frieza e imparcialidade, nos ensinam sobre o assunto em si, sobre a pessoa que emite a opinião e sobre nós mesmos. Principalmente sobre nós mesmos.
O aprendizado começa no recebimento da opinião. Como somos egoístas e gostamos muito de estar com a razão e de posse da verdade, não é coisa muito fácil receber uma opinião diferente. Só o estudo da nossa reação frente à opinião diferente já é uma importante fonte de autoconhecimento. Estudar cuidadosamente o que sentimos, como sentimos e por que sentimos tais reações.
E depois aceitação de que a outra opinião é válida, é digna de consideração, é possivelmente mais acertada que a sua. E, se for o caso, a sua adoção. A troca da sua antiga opinião pela nova.
Opinião diferente não é necessariamente divergente. Diferentes visões sobre determinado assunto podem convergir para um ponto em comum. Não é preciso que todos tenham a mesma opinião, não é necessário que todos pensem da mesma forma sobre determinado tema. Todos saem ganhando se o enfoque estiver na convergência e não nas divergências.
Aceitar opiniões diferentes é um exercício prático de humildade. É o reconhecimento da falibilidade de nossa condição humana.