Os espíritos nos dizem toda a verdade?
Cada um de nós reage de uma maneira diferente em relação ao ensino dos espíritos. No meio espírita nós temos desde aqueles que só aceitam o que está expresso em O Livro dos Espíritos, até aqueles que acreditam cegamente em tudo o que leem e que continuam sempre ávidos por novas revelações, por mais respostas – como se nós já não tivéssemos trabalho suficiente com as revelações que já recebemos.
Temos que lembrar que o objetivo da Doutrina é o nosso melhoramento, e que o lema da Doutrina é “fora da caridade não há salvação”. Então não adianta só buscar novos conhecimentos, é preciso praticar os conhecimentos que nós já temos.
Eu procuro ser cauteloso na adoção de conceitos trazidos pelos espíritos. E essa cautela é pregada há quase dois mil anos, quando o apóstolo João recomendou na sua epístola:
“Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo”. 1 João 4:1
A Doutrina é dinâmica, isso fica muito claro no próprio O Livro dos Espíritos. Eu cito como exemplo, rapidamente, as questões 610 e 1014.
610. Ter-se-ão enganado os Espíritos que disseram constituir o homem um ser à parte na ordem da criação?
“Não, mas a questão não fora desenvolvida. Demais, há coisas que só a seu tempo podem ser esclarecidas. O homem é, com efeito, um ser à parte, visto possuir faculdades que o distinguem de todos os outros e ter outro destino. A espécie humana é a que Deus escolheu para a encarnação dos seres que podem conhecê-lo.”
Allan Kardec está se referindo a uma resposta dada anteriormente pelos espíritos, e que foi registrada na 1º edição de O Livro dos Espíritos – a edição que nós conhecemos e estudamos nos centros espíritas se baseia na 2º edição. Vemos, então, que a Doutrina é dinâmica, que os pontos de vista sobre determinados assuntos mudam conforme a nossa necessidade e a nossa capacidade de entendimento.
1014. Como se explica que Espíritos, cuja superioridade se revela na linguagem de que usam, tenham respondido a pessoas muito sérias, a respeito do inferno e do purgatório, de conformidade com as idéias correntes?
“É que falam uma linguagem que possa ser compreendida pelas pessoas que os interrogam. Quando estas se mostram imbuídas de certas idéias, eles evitam chocá-las muito bruscamente, a fim de lhes não ferir as convicções. Se um Espírito dissesse a um muçulmano, sem precauções oratórias, que Maomet não foi profeta, seria muito mal acolhido.”
Esta advertência serve, por exemplo, para o ensinamento de Emmanuel. Emmanuel é um espírito que merece todo o nosso respeito e a nossa admiração.
Nós vemos que Emmanuel nunca corrigiu qualquer versículo do Novo Testamento. Emmanuel tem centenas de comentários sobre textos do Novo Testamento e nunca corrigiu nenhum deles. Emmanuel se serviu da tradução de João Ferreira de Almeida, e nunca propôs uma tradução melhor, nunca se perdeu em querelas teológicas ou em discussões da crítica textual.
O recado de Emmanuel é claro e direto: os textos que nós temos à disposição são suficientemente bons se nós quisermos ver o que eles têm de bom.
Em relação aos romances de Emmanuel, em que ele narra a sua trajetória como espírito, tem pessoas que levam tudo ao pé da letra, como se as coisas tivessem acontecido exatamente da forma como ele narra. No livro Há dois mil anos, por exemplo, Emmanuel adverte no prefácio:
“Tenho-me esforçado, quanto possível, para adaptar uma história tão antiga ao sabor das expressões do mundo moderno, mas, em relatando a verdade, somos levados a penetrar, antes de tudo, na essência das coisas, dos fatos e dos ensinamentos”.
A essência, é isso o que Emmanuel nos passa. A essência, não a forma. Emmanuel não é historiador, ele não está propondo uma revisão da História. Ele está nos contando a sua história , a sua trajetória espiritual em forma de romance.
Será, então, que os espíritos nos dizem toda a verdade?
Não. Há verdades que nós não estamos prontos para receber; há verdades que poderiam nos chocar; e há verdades que não nos trazem proveito algum – pelo contrário.
Eu conheço sérias críticas a trabalhos como o de Rafael Américo Ranieri, que psicografou obras como O Abismo, pelo espírito André Luiz; e, mais recentemente, Robson Pinheiro, que parece que avança muito, ou melhor, que desce muito nas regiões abissais, descrevendo situações que mais assustam do que instruem.
Eu não posso fazer uma crítica à obra do Robson porque eu não conheço a sua obra. Muitas pessoas me indicam a sua obra. Acontece que eu tenho uma linha de trabalho e pesquisa bem definida, não dá para fugir muito disso. Eu conheço trechos de alguns livros do Robson. Sei que é insuficiente pra analisar.
Certamente é uma obra de grande valia para os trabalhadores experimentados, para os servidores dos centros espíritas que já estejam ambientados com o trabalho envolvendo magia, envolvendo iniciados. Mas não me parece que seja leitura indicada para o público em geral.
Magia negra numa visão espírita
O que eu indico sempre é Allan Kardec e André Luiz. Mesmo que nós ficássemos só nessas obras já teríamos material suficiente para uma existência inteira, pois nós sempre encontramos coisas novas nessas obras, coisas que a princípio tinham passado despercebidas.