Estudo do Evangelho em vídeo, Vídeo

O que é a vida eterna?

O que é a vida eterna a que se refere o Evangelho de João? Será que vida eterna é simplesmente viver para sempre? Na verdade, a expressão “vida eterna”, no contexto do Evangelho de João, é muito mais abrangente do que apenas viver para sempre. Afinal, todos nós somos espíritos imortais, e, como tal, todos viveremos para sempre. A promessa de vida eterna, então, não pode se referir tão-somente a viver eternamente.

Este é um dos temas abordados neste vídeo que é o 7° vídeo da série de estudos sobre o Evangelho de João. Outro tema relevante, que causa polêmica entre cristãos e não-cristãos, é a passagem conhecida como o versículo mais famoso da Bíblia: João 3:16 – “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Quem é o filho unigênito de Deus? Quase todos pensam tratar-se de Jesus. Será mesmo?

Abaixo você pode ler todo o texto do vídeo.

  1. Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu.
  2. E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado;
  3. Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.

Quando Moisés conduzia o povo israelita pelo deserto, em busca da terra prometida, depois de libertá-lo da escravidão no Egito, numa dentre muitas revoltas do povo Deus fez com que surgissem serpentes que picassem as pessoas.

O povo pede a Moisés que interceda por ele. Moisés ora a Deus e Deus manda que ele faça uma serpente de metal e a pendure num mastro, para que todos que fossem picados pelas serpentes olhassem para a serpente de metal e assim não perecessem.

A serpente de metal lembrava aos israelitas os erros cometidos por eles, o que fez com que Deus mandasse as serpentes. Paralelamente, Jesus é o modelo que por sua perfeição relativa nos faz conscientizar dos nossos erros. Olhando para Jesus percebemos nossas falhas, e se seguirmos o caminho apontado por ele, nos curamos de nossos males espirituais.

A “vida eterna” é a vida plena, a vida em Deus. O verbo traduzido como perecer é apollumi (απολλυμι), que se refere à “destruição ou perda de algo que se tem”. Temos a partícula de Deus dentro de nós. Mas quando nos desviamos do caminho perdemos o contato com Deus.

  1. Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.

Aqui já não são palavras de Jesus, o diálogo com Nicodemos já encerrou. Essas palavras são do evangelista. “(…) Deus amou o mundo de tal maneira (…)” – Deus é amor, então toda ação de Deus é amor. A creação é o amor de Deus em ação. O Logos, de que o hino de abertura deste Evangelho nos fala, é a manifestação de Deus na creação.

Jesus nos fala de Deus como a um Pai, o nosso Pai, então nada mais natural que se referir à creação de Deus como ao seu filho.

“Unigênito”, do grego monogenés (μονογενης), quer dizer “uma única prole”, “uma única família”, “uma única raça”.

Toda a creação é manifestação de Deus. Jesus, o espírito mais adiantado que conhecemos, sintetiza a manifestação plena de Deus, Jesus é o espírito plenamente cristificado, por isso quem sintoniza com Jesus, quem adere totalmente a Jesus desenvolve a vida plena.

A tradução “vida eterna” deve ser revista. “Vida eterna” é percebida por quase todo mundo como “viver para sempre”. Mas definitivamente não é este o sentido original do texto. Muitos religiosos ainda pregam o “castigo eterno”, um desvirtuamento vergonhoso do ensino de Jesus.

Mas, para quem aceita o castigo eterno como realidade, não faz sentido falar em vida eterna como uma promessa de Jesus. Pois quem fosse para o inferno (que não existe) também viveria eternamente. Seria uma eternidade de sofrimento, uma vida eterna de sofrimento, mas, mesmo assim, uma vida eterna.

A palavra grega traduzida como “eterno” é aiónios (αιωνιος), derivada do substantivo aión (αιων). Aión não é e nunca foi sinônimo de eternidade. O adjetivo grego que quer dizer “eterno” é aidios (αιδιος). O substantivo aión está presente nos clássicos gregos, na Septuaginta, na obra de Flavio Josefo, nos pais da Igreja, e nunca esta palavra é utilizada com o sentido de eternidade. Estamos falando de dezenas de obras consagradas, que abrangem um período de mais ou menos 800 a.C. até 400 d.C.

No Novo Testamento o substantivo aión e o adjetivo aiónios,  juntos, aparecem cerca de 200 vezes, traduzidos com diversos significados, como: “mundo”, “nunca”, “sempre”, “idade”, “tempo”, “séculos”, “ciclo”.

Em João 17:3 o próprio Jesus nos explica o que é a “vida plena”, que usualmente traduzem como “vida eterna”:

“E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste”. (João 17:3)

Isso é uma vida em Deus, uma vida dentro de Deus, uma vida imanente em Deus, mas não é uma vida eterna no sentido de viver para sempre. Como já dissemos, uma vida eterna de sofrimento no inferno também seria uma vida eterna. A explicação de Jesus, com a tradução da palavra grega aiónios como “eterna” não seria coerente.

Pastorino traduz como vida imanente, do latim imanere, formado pelo prefixo in, que quer dizer “dentro de”, mais o verbo manere, que quer dizer “ficar” ou “existir”. Imanente, então, dá a ideia de “ficar dentro de” ou “existir no interior”.

A vida imanente é a vida plena, a vida em plena comunhão com Deus. Estamos em Deus e Deus está em nós. Temos dentro de nós a partícula divina. A vida imanente é o abandono da personalidade egoística para viver como individualidade divina, instrumento permanente de Deus, veículo de manifestação de Deus.

  1. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.
  2. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.
  3. E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más.

Esta tradução fala em “condenar”. “Quem crê não é condenado e quem não crê já está condenado”. É uma tradução infeliz do verbo grego krino (κρινω), que quer dizer “separar”, “distinguir”, “escolher”. Da raiz deste verbo krino derivam as palavras “critério” e “crivo” -quando nós falamos em “usar o crivo da razão”.

Jesus não veio ao mundo para separar os bons dos maus, não veio ao mundo para escolher quem vai ser salvo e quem não vai ser salvo. Jesus veio nos trazer o seu Evangelho. No Evangelho de Jesus – Evangelho quer dizer boa nova, novidade boa, boa notícia – nós encontramos tudo o que precisamos saber para a nossa evolução espiritual.

“Quem crê nele não é condenado” – já falamos a respeito do real significado do substantivo pistis. O verbo “crer” é a tradução do verbo grego pisteuó (πιστευω), derivado de pistis. Pisteuó é geralmente traduzido como “crer”, mas quer dizer “ser fiel”, “ser leal”, “obedecer”, “aderir totalmente”, “sintonizar”, “entrar em harmonia”.

Lembramos que o “nome” é a manifestação externa da realidade interna, é a manifestação da essência em forma de existência.

“Crer em Jesus” ou “crer no nome de Jesus” é ser fiel a Jesus, é aderir à proposta de Jesus, é sintonizar com o ensinamento de Jesus. O nome “Jesus” quer dizer justamente “Deus salva”. Para obtermos a salvação precisamos obedecer à proposta de Jesus.

E que fique bem claro que esta salvação é de nós mesmos, das nossas próprias imperfeições e fraquezas de caráter. Quem não aderir ao ensinamento de Jesus não está condenado por Jesus – está automaticamente separado segundo critérios eternos e imutáveis, e vai experimentar dores.

O caminho ensinado por Jesus, o caminho que leva a Deus, é uma reta. Sempre que desviamos do caminho reto das Leis de Deus somos alertados pela dor. A dor é um mecanismo de defesa que nos alerta quando nos desviamos do caminho. Por isso é dito que quem não crê em Jesus já está condenado – quem não adere ao ensinamento de Jesus está condenado a experimentar a dor, mesmo que provisoriamente.

Ninguém é obrigado a crer em Jesus para “ser salvo” – ou, em palavras mais condizentes com a realidade, para evoluir. Uma pessoa pode ser ateia ou pertencer a qualquer religião não cristã. Se ela praticar o ensino de Jesus – que em resumo é o amor a Deus e ao próximo – ela está no caminho.

Enquanto isso, muitos que se dizem cristãos, e que juram que creem no nome de Jesus, vivem um ateísmo prático que certamente os condena à infelicidade. A própria intolerância já é indício de infelicidade.

Sempre que nos Evangelhos lemos expressões como “juízo”, “julgamento”, “condenação”, estamos tratando da Lei de causa e efeito, que é Lei de Deus. Como disse Jesus, “a cada um segundo as suas obras” (Mateus 16:27).

  1. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.
  2. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus.

Aqui fala em quem pratica a verdade. Qualquer pessoa pode praticar a verdade. Não precisa ser filiada a nenhuma religião, nem precisa ser religioso para praticar a verdade e, consequentemente, ir para a luz.

“(…) todo aquele que faz o mal odeia a luz (…)” – nós somos partículas de luz divina, nós temos uma fagulha da luz de Deus dentro de nós. Odiar a luz é opor-se a Deus, é agir contrariamente às Leis de Deus, que estão gravadas em nossa consciência. Temos que usar a nossa luz para desenvolver a consciência. Os peixes que vivem em regiões de pouca luz, como em cavernas, são cegos. Por não utilizarem a visão, não desenvolveram os olhos ou atrofiaram os olhos ao longo de gerações. Não desenvolveram a visão por falta de uso. Os espíritos que escondem a própria luz, que fogem de Deus, não desenvolvem olhos de ver, não desenvolvem a visão espiritual.

“(…) quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus”. – as boas obras são feitas em Deus, porque agir corretamente é agir de acordo com as Leis de Deus, e Deus está em nós. Já falamos sobre a palavra grega alétheia (αληθεια), que é traduzida como “verdade”. Alétheia é o desvelamento, é tirar o véu do esquecimento da nossa verdadeira natureza, é tirar o véu que encobre a nossa luz divina.

Quem pratica a verdade vem para a luz. Isso acontece naturalmente. “Praticar a verdade” é exatamente “tirar o véu que encobre a nossa luz”.

  1. Depois disto foi Jesus com os seus discípulos para a terra da Judéia; e estava ali com eles, e batizava.

Em 4:2 é esclarecido que quem batizava (mergulhava) eram seus discípulos.

  1. Ora, João batizava também em Enom, junto a Salim, porque havia ali muitas águas; e vinham ali, e eram batizados.
  2. Porque ainda João não tinha sido lançado na prisão.
  3. Houve então uma questão entre os discípulos de João e os judeus acerca da purificação.
  4. E foram ter com João, e disseram-lhe: Rabi, aquele que estava contigo além do Jordão, do qual tu deste testemunho, ei-lo batizando, e todos vão ter com ele.
  5. João respondeu, e disse: O homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu.
  6. Vós mesmos me sois testemunhas de que disse: Eu não sou o Cristo, mas sou enviado adiante dele.

O versículo 24 provavelmente foi acrescentado posteriormente para ficar de acordo com os Evangelhos sinóticos. Alguns manuscritos antigos não trazem o conteúdo deste versículo.

Vemos no versículo 26 o ciúme de alguns discípulos de João em relação a Jesus. E vemos novamente, no versículo 28, a intenção clara do evangelista de enfatizar o papel coadjuvante de João Batista, certamente para que a comunidade de Éfeso, onde este Evangelho foi escrito, acreditasse que Jesus era o messias, pois João Batista fazia muito sucesso por lá na época em que este Evangelho foi escrito, talvez mais sucesso do que Jesus.

João Batista diz que o homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu. O céu representa a morada de Deus, e as Leis de Deus que regem a nossa vida estão gravadas em nossa consciência. Pela Lei de causa e efeito, colhemos o que plantamos. Recebemos, então, de acordo com a nossa consciência.

  1. Aquele que tem a esposa é o esposo; mas o amigo do esposo, que lhe assiste e o ouve, alegra-se muito com a voz do esposo. Assim, pois, já este meu gozo está cumprido.
  2. É necessário que ele cresça e que eu diminua.

João contenta-se com o seu papel de precursor de Jesus. Refere-se ao amigo do noivo (esposo é noivo), que tinha o importante papel de acompanhar o noivo durante a preparação e a festa de casamento, semelhante a um padrinho. Na noite de núpcias era o noivo (ou esposo) que passava a noite com a sua amada, mas o amigo ficava feliz por ele.

Assim como o papel do amigo do noivo perde a importância com a consumação do casamento, e o papel do noivo cresce, do mesmo modo o papel de João diminui e o de Jesus aumenta.

  1. Aquele que vem de cima é sobre todos; aquele que vem da terra é da terra e fala da terra. Aquele que vem do céu é sobre todos.
  2. E aquilo que ele viu e ouviu isso testifica; e ninguém aceita o seu testemunho.
  3. Aquele que aceitou o seu testemunho, esse confirmou que Deus é verdadeiro.
  4. Porque aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus; pois não lhe dá Deus o Espírito por medida.

O texto se refere a Jesus, dizendo que Deus não lhe dá o espírito “por medida”. Diferente dos profetas e médiuns, que falavam e agiam como intermediários de espíritos mais elevados, Jesus fala e age por si mesmo. Os fenômenos produzidos por Jesus não são mediúnicos, são anímicos.

  1. O Pai ama o Filho, e todas as coisas entregou nas suas mãos.
  2. Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece.

A tradução aquele que não crê no filho é equivocada. A palavra grega é apeithôn (απειθων) que quer dizer “desobedecer”, “negar-se a ser persuadido”. Aquele que é fiel às Leis da creação tem a vida plena, vive em Deus – mas aquele que desobedece ao filho, aquele que não se deixa persuadir pelas Leis da creação, não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece.

A palavra grega traduzida como “ira” é orge (οργη), que significa uma agitação interior que expande a alma. É uma inquietação, uma permanente insatisfação íntima. Da palavra grega orge temos a palavra “orgasmo”, que é justamente a satisfação da inquietação interior.

(…) a ira de Deus sobre ele permanece quer dizer que a nossa consciência, que é onde estão gravadas as Leis de Deus, fica num estado de permanente agitação, inquietação, por estar desobedecendo àquilo que ela sabe ser correto. Este é o estado da maior parte da humanidade. Pelo menos por enquanto.

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