Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido…
Você sabe perdoar? Talvez não exista desafio maior para o nosso orgulho do que o perdão das ofensas. Por que é tão difícil perdoar? Porque somos orgulhosos, cheios de suscetibilidades, damos valor exagerado aos nossos sentimentos feridos, nos achamos importantes demais. Você pode discordar disso tudo. Se você guarda mágoa ou rancor de alguém e não consegue se livrar disso, é porque você não consegue perdoar. E se não é pelos motivos que citei, porque é que você não perdoa?
Perdoar não é esquecer. Perdoar não é abafar o assunto. Perdoar não é fazer de conta que nada aconteceu. Perdoar é oferecer nova oportunidade. Perdoar é permitir um recomeço, uma nova chance, uma outra abordagem.
Pedro perguntou a Jesus quantas vezes tinha que perdoar, se eram sete vezes. Jesus respondeu que não eram sete vezes, mas setenta vezes sete. Ou, seja, perdoar sempre. Isso não quer dizer, de modo algum, que você deva se prestar a todo tipo de ofensas sem se defender, sem se afastar, se for o caso.
Imagine um marido que trai sua mulher. Ela pode relevar, perdoar seu deslize. Mas vai se submeter a essa situação indefinidamente? Claro que não. Assim também nas brigas escolares, nas relações de trabalho, nas disputas entre irmãos. Há relações que exigem uma abordagem diferente, uma postura que fuja à regra. Em alguns casos a separação ou o distanciamento são necessários.
Perdoar não é submeter-se. Mas é tentar a empatia, procurar se colocar no lugar de quem ofendeu, buscar compreender os motivos que o levaram a fazer isso. As pessoas tiveram criações diferentes das nossas, têm educação, experiências, referências muito diferentes das nossas. Não podemos julgá-las por nós mesmos, não podemos analisá-las por nossos valores.
O perdão liberta. Enquanto você não perdoa, é você quem sofre. A pessoa que a ofendeu, propositadamente ou não, já pode ter superado a situação há muito tempo, já pode ter se resolvido internamente, e você continua remoendo o que aconteceu. Por que você se prende tanto à ofensa recebida? É porque ela foi injusta? Porque foi ultrajante? Ou simplesmente porque você se sentiu humilhado, diminuído?
Se amássemos ao nosso semelhante, não nos ofenderíamos com nada. Compreenderíamos as fraquezas alheias, entenderíamos que as pessoas são cheias de falhas e defeitos que requerem tempo para serem corrigidos. Se você não se achasse tão importante, se você não se sentisse tão merecedor de consideração, não se sentiria ofendido.
Quem não perdoa sofre. E muito. A ofensa está dentro de si. Cada palavra, cada acontecimento faz lembrar a ofensa recebida, com toda a sua carga de emoção negativa. O orgulho nos diz que perdoar é atitude de fracos, que se dobram para os outros. Não é verdade. O orgulho nunca foi bom conselheiro. Não há maior prova de grandeza do que o perdão das ofensas. Mas não o perdão formal, da boca pra fora. O perdão deve vir do coração, o perdão deve ser sustentado pela compreensão de que todos nós erramos, de que você mesmo já errou muitas vezes e que já ofendeu outras pessoas, de propósito ou não.
O perdão tem que ser verdadeiro. Por que você se ofende? Você guarda rancor de alguém que não conhece? Você fica remoendo a raiva de alguém que xingou você no trânsito? Pode até ser, mas você se ofende mesmo é com quem você estima. Você se sente atingido só por quem você estima, por quem você quer bem. Porque você se sente traído nos seus sentimentos e intenções. Mas se antes havia coisas boas na pessoa que lhe ofendeu, por que você decidiu se focar exatamente no ponto negativo? Se você se decidir a enxergar e valorizar os pontos positivos da pessoa que lhe ofendeu, vai compreender melhor o ocorrido, as circunstâncias atenuantes do que aconteceu. E vai permitir ao ofensor uma nova chance. Uma nova oportunidade de mostrar os aspectos positivos que antes você gostava e valorizava.
Assim como julgamos seremos julgados. Por quem? Por nossa consciência. Nossa consciência perdoa as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos ofendeu…