Artigo publicado originalmente em 27/09/2012
Você já ouviu falar que o amor pode se transformar em ódio? Também já deve ter ouvido aquela definição que diz que o ódio é o amor que ficou doente. Esses dois sentimentos realmente são muito próximos. Mas, diferente do que se costuma pensar, não são opostos; não são o contrário um do outro. E o ódio também se transforma em amor.
Acho que o contrário do amor é a indiferença. Qual é o contrário de luz? Treva, escuridão. E o que é a escuridão? Não é a ausência da luz? Pois a indiferença é a ausência do amor. Ninguém odeia algo ou alguém que não lhe seja importante. O amor e o ódio são duas faces de uma mesma moeda.
Você já teve ódio de alguém? Não se envergonhe; somos todos humanos. Se já teve, aposto que foi de alguém muito próximo, alguém a quem provavelmente amou. O abandono por parte dos pais, a traição do marido ou da esposa, o desrespeito e menosprezo por parte de um filho, são essas atitudes vindas de pessoas normalmente amadas as que promovem ódios renitentes.
Isso também acontece em relação a coisas, não só a pessoas. Se nos roubam, nos privam, nos tiram algo que valorizamos muito, o ódio também é despertado: Nosso dinheiro, nosso cargo no trabalho, até o título do time para o qual torcemos.
O espírito imortal experimenta, em sucessivas reencarnações, as mais variadas nuances de amor e ódio, muitas vezes envolvendo os mesmos seres. A cada nova reencarnação, temos a oportunidade de nos reajustarmos com antigos desafetos, temos a chance de transformar ódios milenares em amor. E um dia isso acontece. Só o amor não acaba nunca.
Há casos (muito mais do que se costuma imaginar) de espíritos que se digladiam milênios afora, se revezando nas posições de vítima e algoz. Até que, ajudados pela proximidade imposta pelas circunstâncias, geralmente sob o mesmo teto, aprendem a se amar, aprendem a valorizar os aspectos positivos um do outro.
Você pode observar que os sentimentos mais pesados que você experimenta são dirigidos a pessoas muito próximas, que você ama ou gostaria de amar. São relações que vivem imersas no ódio há muito tempo, e estão em fase de transformação. Tudo tende para o amor, e ele está em todas as coisas, mesmo que seja em estado vegetativo. O amor pode estar sufocado no meio do rancor, da mágoa, da sede de vingança. Mas mesmo assim o amor existe. Permanece, latente, à espera da ocasião mais propícia para se desenvolver plenamente, superando obstáculos a curando feridas do passado.
Pode parecer estranho, mas talvez o ódio seja necessário para o conhecimento pleno do amor, para a real valorização do amor. Se não sentíssemos a tortura da fome, por certo nos descuidaríamos do cuidado em abastecer nosso corpo com a energia necessária para que realize as atividades que a vida requer. O ódio não passa de uma fome desesperada de amor. Uma tentativa enlouquecida de suprir a fome de amor que todos nós sentimos, querendo ou não.
Uma coisa é certa; é só observar para constatar por si mesmo: Desde que surge um vínculo entre duas pessoas, este vínculo jamais será quebrado. Se o que ficar for a indiferença, não havia vínculo. Ele pode se desenvolver como amor desde o começo, evoluindo aos poucos. Ou pode degenerar em ódio. Este ódio tem o poder (e a função) de manter o vínculo entre estas pessoas. E num processo mais ou menos longo, atravessando às vezes muitas reencarnações, este ódio vai se depurando e se desgastando até que se transforme em amor, o sentimento eterno, a força que move o mundo.