Você compreende qual é o limite do livre-arbítrio? Vivemos na dimensão espaço/tempo. Espaço infinito e tempo eterno. O espírito imortal está destinado ao progresso, à ascensão espiritual, à felicidade. Quanto a isso não há escolha. Todos alcançaremos a felicidade, mais cedo ou mais tarde.
É aí que está o nosso livre-arbítrio. Quem decide se alcançaremos a felicidade mais cedo ou se a alcançaremos mais tarde somos nós. A ascensão espiritual é certa. Não há como escapar a ela. Nosso destino como espíritos é para cima. Nosso caminho é para cima, e quanto a isso não temos escolha.
Mas para seguir este caminho podemos levar muitos milênios. A escolha é nossa. O tempo que despenderemos no caminho ascensional que leva a Deus depende do nosso livre-arbítrio. O livre-arbítrio nada mais é que um propulsor da ascensão. Não temos escolha entre subir e não subir. Nossa escolha se restringe ao tempo que gastaremos na subida.
Essa escolha está vinculada às nossa obras. São nossas obras que determinam a maior ou menor dificuldade de progresso espiritual. Nossas obras ficam conosco, nós as carregamos através de múltiplas reencarnações. Colhemos os frutos bons e maus das sementes que plantamos. Somos herdeiros de nós mesmos. Você hoje é o resultado das suas obras de ontem. Você herdou construções suas do passado, de outras vidas, que tanto podem ser recentes quanto muito distantes no tempo.
Somos herdeiros de nós mesmos. Mas isso não deve ser visto apenas como explicação do porquê do nosso sofrimento atual. Não importa, hoje, por que sofremos, mas para quê sofremos. Não convém que desperdicemos energia buscando causas, mas finalidade. Para quê, com que fim, com que propósito sofremos.
Basta um pouco de boa vontade para perceber que todas as grandes mudanças internas que experimentamos foram ocasionadas pelo sofrimento. Não louvo o sofrimento. Acho mesmo que ele não é necessário. A dor é inevitável, o sofrimento não. Mas negar que mudamos impulsionados pelo sofrimento é negar nossa imaturidade moral, e isso é uma presunção gritante. Ou burrice.
Quando estivermos mais adiantados moralmente seremos impulsionados pelos bons exemplos, pelo incentivo dos mais experientes, pela aquisição e vivência do conhecimento. Hoje ainda somos muito teimosos, ainda olhamos mais para nós mesmos do que para o todo, ainda estamos apaixonados pela nossa imagem, pelo nosso ego.
Nosso livre-arbítrio permite tudo isso. Nosso poder de escolha possibilita que transitemos por inúmeras situações diferentes até que nos convençamos de que andar para os lados é perda de tempo, e que é preciso andar para cima, é preciso subir.
No tempo do Império Romano dizia-se que todos os caminhos levam a Roma. Ouço pessoas dizerem que todos os caminhos levam a Deus. Sim e não. Se tivermos em vista que não há alternativa além da ascensão, e que só podemos escolher o tempo maior ou menor que levaremos para isso, podemos concordar. Mas considerar que de qualquer modo se chega a Deus é mentir para si mesmo. Só se chega a Deus pelo caminho reto, ascensional, do cumprimento das Leis de Deus. Qualquer tentativa de burlar estas Leis, de achar caminhos alternativos, é infantilidade espiritual, teimosia juvenil ou burrice.