Estudo do Evangelho em vídeo, Vídeo

O espírito obsessor

“Quando um espírito obsessor sai, anda por lugares desertos. Quando volta, traz com ele sete outros espíritos”. Esta passagem do capítulo 11 do Evangelho de Lucas é um dos temas tratados neste vídeo, que é o 16º de uma série de 30 vídeos em que analisamos e interpretamos o Evangelho de Lucas através de uma abordagem espírita.

Abaixo você pode ler todo o texto do vídeo.

CAPÍTULO 11

14. E estava ele expulsando um demônio, o qual era mudo. E aconteceu que, saindo o demônio, o mudo falou; e maravilhou-se a multidão.
15. Mas alguns deles diziam: Ele expulsa os demônios por Belzebu, príncipe dos demônios.

Belzebu era o deus dos filisteus, ou, melhor dizendo, era o espírito protetor daquele povo, assim como Javé era o espírito protetor dos israelitas. Havia uma grande rivalidade entre israelitas e filisteus, e essa rivalidade era transmitida aos seus deuses.

Essa acusação ridícula de que Jesus agia por meio de Belzebu é comum ainda hoje. Pessoas menos esclarecidas confundem o trabalho de doutrinação ou desobsessão de espíritos desencarnados com exorcismos, e em sua ignorância apressada imaginam os espíritos – que somos nós mesmos, despojados do corpo físico – como se fossem demônios ou capetas, seres sobrenaturais que povoam suas imaginações assustadiças.

16. E outros, tentando-o, pediam-lhe um sinal do céu.
17. Mas, conhecendo ele os seus pensamentos, disse-lhes: Todo o reino, dividido contra si mesmo, será assolado; e a casa, dividida contra si mesma, cairá.
18. E, se também Satanás está dividido contra si mesmo, como subsistirá o seu reino? Pois dizeis que eu expulso os demônios por Belzebu.
19. E, se eu expulso os demônios por Belzebu, por quem os expulsam vossos filhos? Eles, pois, serão os vossos juízes.
20. Mas, se eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente a vós é chegado o reino de Deus.

Apesar de todas as purificações e curas espirituais que Jesus fazia na frente de todos, ainda pediam um sinal a ele. Queriam um grande prodígio, um sinal do céu.

Jesus, que pela sua imensa superioridade, já estava completamente livre de vaidades e falsos valores humanos, não se deixava envolver pelos descrentes de plantão.

No meio espírita ainda é comum que muitas pessoas estejam interessadas em fenômenos mediúnicos, sem saberem que o objetivo do Espiritismo é a evangelização, é a interiorização e a prática do ensinamento de Jesus.

Jesus expõe o absurdo das suas acusações, pois, como ele mesmo disse outra vez, “pelo fruto se conhece a árvore” (Lucas 6:44).

Como é que satanás faria algo contra ele mesmo? Se o fruto é bom, a árvore é boa; pela ação se conhece o agente. Isto ainda é válido para os detratores do Espiritismo. Se o Espiritismo prega a moral do Cristo em sua pureza original, como é encontrada nos Evangelhos, sem teologias e dogmas, como sustentar que o Espiritismo seja obra do diabo?

Mas o fato é que Jesus não atendia aos pedidos fúteis de sinais do céu. Nós também não devemos nos deixar levar pela vaidade ou pretensão de poder (que não é nosso, mas de Deus), e abusarmos da fenomenologia mediúnica para agradar curiosos, para arrebanhar prosélitos.

Pela fala de Jesus notamos que os judeus tinham práticas de exorcismo, e sabemos que eles utilizavam-se de fórmulas. Jesus afirma que expelia os demônios “pelo dedo de Deus”.

Sabemos que eles chamavam de demônios aos espíritos dos homens perversos – eram os espíritos atrasados, os obsessores. Jesus os afastava instantaneamente, apenas com o seu magnetismo e autoridade.

Mas deixa o recado para nós. A desobsessão deve ser realizada “com o dedo de Deus”, ou seja, em nome de Deus. Temos que nos imbuirmos do propósito de servir como instrumentos de Deus, veículos da manifestação de Deus.

Tudo de bom, de positivo que acontece por nosso intermédio é obra de Deus. Somos apenas ferramentas imperfeitas de que Deus se serve. A infinita generosidade de Deus permite que sejamos úteis apesar de nossa pequeneza espiritual.

O “dedo de Deus” é a manifestação de Deus em nossas vidas, e essa manifestação ocorre todos os dias, desde que estejamos receptivos a percebê-la, aceitá-la e assimilá-la.

Não temos condições de compreender a Deus. Mas o pressentimos através da prática da leitura edificante que nos eleva o espírito; através do estudo que nos aproxima mais do conhecimento das Leis de Deus, perfeitas e imutáveis; através da oração, em que entramos em contato com os espíritos superiores a nós, instrumentos de Deus mais próximos dEle; através da meditação, em que sentimos o nosso Cristo interno, que é a partícula de Deus em nós; através da prática da caridade, em que ousamos dar de nós ao próximo, numa tímida imitação de Deus, que dá de si mesmo aos seus filhos.

A caridade é indispensável para quem pretende se dizer crente em Deus. A ausência da caridade é o ateísmo prático. Mesmo que alguém se diga crente em Deus, se não fizer nada pelo seu próximo, se não der de si mesmo ao seu próximo, é, na prática, um ateu.

Porque ter fé em Deus pressupõe obediência, fidelidade, lealdade, e isso é imitar Deus na medida de nossa capacidade. Quem não é obediente, fiel, leal a Deus, imitando Deus através da caridade, é partidário de um ateísmo prático que é mais nefasto que o ateísmo ideológico assumido por muitas pessoas boas e caridosas, que não creem em Deus por não tê-lO compreendido.

Nós, particularmente, confessamos que se a única visão de Deus que nós tivéssemos conhecido fosse a imagem do deus que passa a vida apanhando do diabo, como é o deus pregado pelos fundamentalistas, nós também seríamos ateu.

Jesus afastava os espíritos obsessores. Hoje, pelo amor de Jesus, procuramos esclarecer os espíritos obsessores, muitas vezes vítimas de outras existências das pessoas a que hoje perseguem.

Isto só é possível pelo conhecimento proporcionado por Jesus de que o reino de Deus está dentro de nós e que compete a nós mesmos nos desenvolvermos moralmente, resgatando espontaneamente os nossos erros do passado, ajudando aos que necessitam, e que muitas vezes foram prejudicados por nós mesmos no passado.

A elevação moral é que nos permitirá viver o reino de Deus, que é o nosso próximo estágio evolutivo, em que as coisas do espírito hão de predominar naturalmente sobre as coisas da matéria.

21. Quando o valente guarda, armado, a sua casa, em segurança está tudo quanto tem;
22. Mas, sobrevindo outro mais valente do que ele, e vencendo-o, tira-lhe toda a sua armadura em que confiava, e reparte os seus despojos.
23. Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha.

Podemos perfeitamente compreender esta casa a que se refere Jesus como a nossa casa mental.

A segurança da nossa casa mental é proporcional à vigilância sobre os nossos pensamentos, palavras e ações. Vigiai e orai, nos recomendou Jesus. Se nossa proteção não for esta recomendada por Jesus, inevitavelmente ela será frágil e poderá ser vencida por alguma mente mais forte que a nossa.

Assim ocorrem os processos obsessivos nos seus estágios mais graves, como a subjugação e a possessão.

Alguém pode estranhar que Jesus afirme, aqui, “quem não é comigo é contra mim”. Mas esta observação se dirige ao livre-arbítrio que temos e que deve optar pelo bem ou pelo mal.

Como nos ensina Emmanuel, entre o bem e o mal não há neutralidade. Emmanuel nos diz que “quem não edifica o bem, só por essa omissão já está forjando o mal, em forma de negligência”.

“Quem comigo não ajunta, espalha”. – o verbo “ajunta” é tradução do grego synagon (συναγων), de onde vem a palavra “sinagoga”, que é o local de culto dos judeus, e que, numa tradução livre, quer dizer exatamente “ajuntamento”. Quem não “ajunta” ou “reúne” com Jesus, “espalha”, ou seja, “dispersa”.

É interessante notar que isso pode ser expresso através de duas outras palavras gregas muito conhecidas: “símbolo” e “diabo”. Símbolo = syn + ballô; diabo = dia + ballô. O verbo ballô quer dizer lançar, jogar (daí a origem da palavra “bola”). O prefixo syn quer dizer “em companhia de”, “junto com”. O prefixo dia quer dizer “movimento através de”, “afastamento”. Símbolo, então, é “lançar junto”, e diabo é “lançar separado”. O simbolismo de alguma coisa é aquilo que é lançado junto com esta coisa; o diabólico é o que é lançado separadamente, divergentemente.

24. Quando o espírito imundo tem saído do homem, anda por lugares secos, buscando repouso; e, não o achando, diz: Tornarei para minha casa, de onde saí.
25. E, chegando, acha-a varrida e adornada.
26. Então vai, e leva consigo outros sete espíritos piores do que ele e, entrando, habitam ali; e o último estado desse homem é pior do que o primeiro.

Aqui onde diz “lugares secos”, no texto original grego diz anydron tôpon – “anidro” quer dizer “sem água”.

Sabemos que quando Jesus dialogou com Nicodemos ele se referiu à água como simbolismo para a reencarnação, afirmando que é preciso nascer de novo, nascer da água e do espírito (João 3:5).

Pois este espírito que afastou-se da pessoa a quem estava obsediando, andando por lugares sem água, ou seja, sem possibilidade de reencarnação, que seria o único meio de obter um relativo repouso através do esquecimento temporário do passado, acaba voltando a assediar a casa mental daquele a quem obsediava – provavelmente um antigo desafeto, um velho conhecido de outras existências.

Este espírito encontra a casa mental varrida e adornada (varrida – limpa das antigas imagens; adornada – enfeitada com esboços de novos conceitos e idéias), mas ainda não preenchida, não ocupada por novas imagens positivas, por princípios morais sólidos, por propósitos consistentes.

A casa mental livrou-se de antigos hábitos, mas ainda não adquiriu novos hábitos. Como uma pessoa viciada que tem uma recaída por invigilância, depois de um período de abstinência, o seu estado se torna pior do que antes.

O texto fala em sete espíritos que acompanhariam o primeiro espírito. O número sete é usado como um superlativo. Quando se fala que Jesus expulsou sete demônios de Maria Madalena, por exemplo, não quer dizer que havia sete espíritos, mas que ela era tida como louca ou passava por uma obsessão complexa. É o mesmo caso aqui.

27. E aconteceu que, dizendo ele estas coisas, uma mulher dentre a multidão, levantando a voz, lhe disse: Bem-aventurado o ventre que te trouxe e os peitos em que mamaste.
28. Mas ele disse: Antes bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus e a guardam.

Uma mulher enaltece a mãe de Jesus e ele nos ensina que mais importante é quem ouve a palavra de Deus e a guarda, ou seja, quem é receptivo ao seu Cristo interno. O que importa é estarmos receptivos a Deus. Nossos laços de parentesco material são provisórios e não devem ser objeto de apego. Em outra ocasião Jesus recomendou o mandamento “honrai pai e mãe” (Lucas 18:20), portanto, não há aqui nenhum menosprezo pela figura materna. Apenas deixa entrever que não podemos confundir o amor, que liberta, com o apego, que escraviza.

29. E, ajuntando-se a multidão, começou a dizer: Maligna é esta geração; ela pede um sinal; e não lhe será dado outro sinal, senão o sinal do profeta Jonas;

30. Porquanto, assim como Jonas foi sinal para os ninivitas, assim o Filho do homem o será também para esta geração.
31. A rainha do sul se levantará no juízo com os homens desta geração, e os condenará; pois até dos confins da terra veio ouvir a sabedoria de Salomão; e eis aqui está quem é maior do que Salomão.
32. Os homens de Nínive se levantarão no juízo com esta geração, e a condenarão; pois se converteram com a pregação de Jonas; e eis aqui está quem é maior do que Jonas.

Jesus se refere novamente à geração de espíritos da Terra, pela qual ele é responsável, e que somos todos nós. Eles lhe pediam um sinal, e ele disse que o sinal que daria a eles seria o sinal de Jonas.

Jonas era um profeta de Deus. Quando Deus mandou que ele pregasse na cidade de Nínive – que era uma cidade pagã, não era uma cidade do seu povo – Jonas tentou fugir de Deus, não queria pregar a outro povo que não fosse o seu.

Jonas fugiu num navio e Deus mandou uma forte tempestade contra o navio. Percebendo que a causa da tempestade era ele, a tripulação do navio o jogou ao mar, e Deus providenciou que um grande peixe (alguns dizem baleia) o engolisse.

Jonas ficou três dias dentro da baleia, orou a Deus, e a baleia o devolveu a Terra para que ele pudesse se desincumbir da sua missão.

No seu preconceito, Jonas não quis se rebaixar e pregar para um povo considerado impuro.

No Evangelho de Mateus Jesus ressalta o sinal de Jonas como sendo o fato de Jonas ter ficado três dias nas entranhas da baleia, assim como ele ficaria três dias nas entranhas da terra (Mateus 12:38-42).

Aqui no Evangelho de Lucas o sinal de Jonas a que Jesus se refere é que os ninivitas, os habitantes de Nínive, mesmo não conhecendo Jonas, mesmo sendo de outro povo, acreditaram nele e mudaram a sua mente, reformaram as suas ideias, os seus pensamentos e sentimentos.

Jesus menciona também a rainha do Sul (ou rainha de Sabá) que veio de longe para ouvir a sabedoria de Salomão. O povo judeu, ao qual Jesus pertencia, diferentemente dos ninivitas em relação a Jonas ou da rainha de Sabá em relação a Salomão, não o ouvia.

Temos que prestar atenção ao fato de os dois evangelistas salientarem sinais diferentes em relação a Jonas. Ou Jesus apenas se referiu a Jonas e eles é que imaginaram a qual sinal Jesus se referia, ou Jesus pode ter se referido à história de Jonas de um modo geral, ao livro de Jonas, que é um dos livros da Bíblia.

Jesus deixou dito para nós: Ide e pregai o Evangelho a toda criatura (Marcos 16:15). Jonas, antes de ter ficado três dias nas entranhas da baleia, não queria pregar aos outros, aos que não fossem do seu povo, da sua região. Jesus, enquanto esteve encarnado, ficou circunscrito à sua região. Mas depois de ter passado três dias nas entranhas da terra começou a espalhar-se pelo mundo através da sua mensagem, que chegou até nós.

O nome “Jonas” quer dizer “pombo”. O pai de Jonas era “Amitai”, que quer dizer “minha verdade”.

O pombo tem um simbolismo importante na Bíblia, desde o Gênesis, em que Noé, quando estava na arca, isolado, cercado pela água, mandou um pombo para ver se a água já havia baixado e o pombo voltou com um ramo de oliveira no bico. O pombo então representa a esperança atendida e um sinal de que não estamos isolados, de que há vida além de nós e do nosso próprio grupo.

O pombo é o mensageiro da esperança e da solidariedade. Jonas era filho de Amitai. Ao se referir a Jonas Jesus está dizendo que o mensageiro da esperança e da solidariedade é o filho da sua verdade, o fruto da sua verdade, pois Amitai quer dizer “minha verdade”.

A verdade que nos foi trazida por Jesus deve ser pregada a toda a criatura, não só a um pequeno grupo. Este é o sinal de Jonas. Este é o sinal que Jesus prometeu para aquela geração de espíritos, que somos nós mesmos reencarnados.

Hoje, em outros corpos, mais experientes, tendo aprendido um pouco com os nossos erros, somos capazes de perceber o sinal de Jonas a que Jesus se referia. A verdade ensinada por Jesus pregada a toda a creatura. É nosso dever dar continuidade a esta tarefa.

33. E ninguém, acendendo uma candeia, a põe em oculto, nem debaixo do alqueire, mas no velador, para que os que entram vejam a luz.

Sabemos que a candeia era a lâmpada da época. Era um recipiente com azeite e um pavio que se acendia para iluminar. O alqueire era um cesto que servia como unidade de medida.

Não se põe a candeia debaixo do alqueire. Não se esconde a luz, a luz deve ficar sobre o velador. Nossa luz deve estar em evidência, é nosso dever iluminar ao próximo com a nossa luz, por mais opaca que seja.

34. A candeia do corpo é o olho. Sendo, pois, o teu olho simples, também todo o teu corpo será luminoso; mas, se for mau, também o teu corpo será tenebroso.
35. Vê, pois, que a luz que em ti há não sejam trevas.
36. Se, pois, todo o teu corpo é luminoso, não tendo em trevas parte alguma, todo será luminoso, como quando a candeia te ilumina com o seu resplendor.

A lâmpada do corpo é o olho. A lâmpada que ilumina a nós mesmos é o nosso olho, pois é através da percepção visual que nós recebemos a imagem das pessoas, das coisas, do mundo.

Se nós vemos as coisas com simplicidade estaremos iluminando a nós mesmos, e, consequentemente, aos outros. Se nós vemos as coisas com maldade, estaremos em trevas e é isso o que passaremos para o próximo. A maneira como nós percebemos o mundo é determinante para o nosso estado de luz ou treva.

É interessante notar que Jesus não diz os olhos, mas o olho. Lembramos do chamado terceiro olho, que é o chacra frontal, ou centro de força frontal, localizado entre os olhos, associado à glândula pineal, que fica no meio do cérebro na altura dos olhos. É o nosso sensor para o mundo espiritual.

Sob esta análise, nós recebemos da espiritualidade aquilo que estiver de acordo com a nossa receptividade. Quem só vê o mal está receptivo para o mal e sintoniza espiritualmente com o mal. Quem consegue ver em tudo algum aspecto positivo está receptivo ao bem, à luz, e sintoniza espiritualmente com o bem e com a luz.

37. E, estando ele ainda falando, rogou-lhe um fariseu que fosse jantar com ele; e, entrando, assentou-se à mesa.

Este é o segundo relato no Evangelho de Lucas em que Jesus janta com um fariseu. Dos grupos representativos da sociedade da época os mais avançados eram os fariseus. Eles acreditavam na imortalidade do espírito, no julgamento de Deus, nas boas ações e na reencarnação, embora muito longe da clareza de conceitos trazida pelo Espiritismo.

Exatamente por serem os fariseus os que detinham mais conhecimentos espirituais é que Jesus os cobrava com tanta severidade. Os ignorantes erram sem saberem que estão errando. Mas quem já detém o conhecimento é plenamente responsável pelas consequências da aplicação ou da não aplicação deste conhecimento.

38. Mas o fariseu admirou-se, vendo que não se lavara antes de jantar.
39. E o Senhor lhe disse: Agora vós, os fariseus, limpais o exterior do copo e do prato; mas o vosso interior está cheio de rapina e maldade.
40. Loucos! Quem fez o exterior não fez também o interior?

O fariseu ficou admirado ao ver que Jesus não se lavava antes de comer. Era costume deles, por causa das suas muitas tradições, lavar-se, mesmo que simbolicamente, para se livrarem das impurezas.

“Fariseu” quer dizer “separado”. Os fariseus encheram-se de regras exteriores que os separavam do resto do povo. Viam impureza em tudo. Cuidavam das exterioridades e se esqueceram de cuidar do seu íntimo, das coisas do espírito.

41. Antes dai esmola do que tiverdes, e eis que tudo vos será limpo.

 No texto grego diz para dar o que está dentro, ou seja, as coisas interiores, o que está dentro de nós. “Quem fez o exterior não fez também o interior?” – Deus fez o exterior, o material, mas também fez o interior, o espiritual. Jesus diz para dar o que se tem, não o que se detém. Nossos bens materiais não nos pertencem, são empréstimos de Deus, permanecerão na Terra quando nós desencarnarmos.

Nós detemos nossos bens materiais, mas nós só temos o que está em nosso íntimo, nossas aquisições morais e intelectuais. Nos limpamos, nos purificamos interiormente quando damos de nós mesmos ao nosso próximo.

Lembremos as palavras de Emmanuel: “Que temos de nós próprios para dar? Que espécie de emoção estamos comunicando aos outros? Que reações provocamos no próximo? Que distribuímos com os nossos companheiros de luta diária? Qual é o estoque de nossos sentimentos? Que tipo de vibrações espalhamos?”

42. Mas ai de vós, fariseus, que dizimais a hortelã, e a arruda, e toda a hortaliça, e desprezais o juízo e o amor de Deus. Importava fazer estas coisas, e não deixar as outras.

43. Ai de vós, fariseus, que amais os primeiros assentos nas sinagogas, e as saudações nas praças.
44. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! que sois como as sepulturas que não aparecem, e os homens que sobre elas andam não o sabem.
45. E, respondendo um dos doutores da lei, disse-lhe: Mestre, quando dizes isso, também nos afrontas a nós.
46. E ele lhe disse: Ai de vós também, doutores da lei, que carregais os homens com cargas difíceis de transportar, e vós mesmos nem ainda com um dos vossos dedos tocais essas cargas.
47. Ai de vós que edificais os sepulcros dos profetas, e vossos pais os mataram.
48. Bem testificais, pois, que consentis nas obras de vossos pais; porque eles os mataram, e vós edificais os seus sepulcros.
49. Por isso diz também a sabedoria de Deus: Profetas e apóstolos lhes mandarei; e eles matarão uns, e perseguirão outros;
50. Para que desta geração seja requerido o sangue de todos os profetas que, desde a fundação do mundo, foi derramado;
51. Desde o sangue de Abel, até ao sangue de Zacarias, que foi morto entre o altar e o templo; assim, vos digo, será requerido desta geração.
52. Ai de vós, doutores da lei, que tirastes a chave da ciência; vós mesmos não entrastes, e impedistes os que entravam.
53. E, dizendo-lhes ele isto, começaram os escribas e os fariseus a apertá-lo fortemente, e a fazê-lo falar acerca de muitas coisas,
54. Armando-lhe ciladas, e procurando apanhar da sua boca alguma coisa para o acusarem.

Os fariseus levavam as leis de Moisés ao pé da letra. Até hoje há religiosos que pretendem levar as leis de Moisés ao pé da letra. Os fariseus se preocupavam com o dízimo e se esqueciam do que realmente importava que era o amor de Deus e o consequente amor às creaturas de Deus. Gostavam de aparecer, de mostrarem o quanto eram seguidores da lei, de rezar em voz alta, gritando, para que todos ouvissem.

Referindo-se aos fariseus e aos doutores da lei, Jesus os compara às sepulturas que não aparecem, sobre as quais os homens caminhavam sem saberem que estavam andando sobre sepulturas. Pelas regras de pureza as pessoas não podiam se aproximar de um cadáver, ou se tornavam legalmente impuras. Costumava-se, então, pintar com cal as sepulturas, para que elas ficassem bem visíveis. O que Jesus está dizendo é que as pessoas se aproximavam dos fariseus sem suspeitarem de que estavam se contaminando com eles, com as suas crenças exteriores, com a sua hipocrisia, com o seu fanatismo.

Quem se aproxima de algum fanático fundamentalista pode pensar que está dando passos seguros, quando na verdade está enchendo a sua mente de preconceitos e se afastando da imagem de Deus amoroso e bom que nos foi passada por Jesus. Há religiosos que prestam um desserviço à religião.

Jesus menciona ainda o fato de os fariseus terem edificado sepulcros em homenagem aos antigos profetas. Estes antigos profetas haviam sido mortos pelo povo, pelos antepassados destes mesmos fariseus, e Jesus vê no fato de eles se preocuparem com a lembrança exterior (os sepulcros edificados a eles) dos profetas uma demonstração de que os fariseus consentiam nos crimes cometidos pelos seus antepassados. Jesus diz que desta geração (de espíritos), da humanidade culpada, será cobrado o preço pelo sangue derramado de todos os profetas.

Através da reencarnação experimentamos várias existências, passamos por períodos diferentes da História, e escrevemos a História da Humanidade, cheia de erros e crimes cometidos por nós mesmos. Jesus está acusando os fariseus de serem eles mesmos os assassinos dos profetas. Foram eles mesmos, em existências anteriores, que tiraram a vida dos profetas. O seu apego pelo passado, a veneração pela imagem dos profetas, e não pela sua mensagem, era evidência disso.

Nós também somos responsáveis por grandes crimes do passado. Os períodos da História que mais nos chamam a atenção podem ser sinal de que estivemos de algum modo ligados a estas épocas, contribuindo com nossa cota de erros.

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