É comum, no meio espírita, ouvir acusações contra o passado do Igreja Católica. Falam das Cruzadas, da Inquisição, da caça às bruxas, Joana D’arc na fogueira, e por aí vai.
Às vezes esquecemos que as instituições são formadas por pessoas. É bem possível que muitos de nós tenhamos sido membros da Igreja no passado. Muitos desses abusos que gostamos de citar podem ter sido cometidos por nós mesmos, ou com a nossa conivência.
Os historiadores chamam a Idade Média de Idade das Trevas, como se tudo o que ocorreu neste período fosse trevoso, negativo. Talvez não percebam que a Igreja, instituição mais poderosa neste milhar de anos, foi a guardiã do conhecimento que nos chegou às mãos. Dizem que muito desse conhecimento, como o Evangelho, foi deturpado ou abertamente falsificado. Pode ser que tenham alterado alguma coisa que desagradasse os poderosos da época. Mas a essência chegou até nós, e dificilmente chegaria se não houvesse uma instituição forte e centralizadora que se intitulasse guardiã desses conhecimentos.
A Igreja da Idade Média representava o estágio espiritual da época. Cada degrau evolutivo tem o povo, os costumes, a cultura, a religião, o governo e as instituições que merece. Hoje não é diferente.
Hoje se fala muito dos políticos. Brasília é mais mal falada que Sodoma e Gomorra. Mas quem são os políticos? São seres à parte da creação? São seres trevosos, apóstolos do anticristo? Ou são espíritos encarnados como nós, fazendo o melhor que podem, dando o melhor de si mesmos? Somos realmente melhores que eles? Somos honestos, inteligentes, trabalhadores, dinâmicos, temos visão de futuro, boa capacidade de diálogo?
Alguém colocou eles lá. E, bem ou mal, eles nos representam. Estamos pessimamente representados. Mas eles não usurparam o poder, não o tomaram à força. Foram escolhidos pelo povo, e o povo somos nós. As instituições são o retrato da sua época. Quinhentos anos atrás os poderosos podiam acusar seus inimigos de heresia e usar sua influência para condená-los à morte na fogueira. Os poderosos de hoje roubam para si um pedaço da nação, mandam e desmandam, são acusados e absolvidos e ainda são paparicados por onde quer que passem. Dois mil anos atrás os estádios lotavam para ver as lutas de gladiadores e os primeiros cristãos serem devorados pelas feras. Hoje os estádios lotam para assistir duas dúzias de homens e uma bola, milhares de pessoas gritando e pulando, com sentimentos de amor e ódio por causa de uma bola e umas cores.
O futebol representa um grande avanço em relação às lutas de gladiadores, embora as emoções provocadas sejam parecidas. O poder de hoje, instalado em Brasília, representa um grande avanço comparado aos abusos da Igreja na Idade Média. Nossas instituições acompanham o estágio espiritual em que estamos. E se conseguimos perceber o absurdo, os abusos, as injustiças, é porque estamos alguns passos além da média. Se você tem certeza de que não faria a mesma coisa que Renan Calheiros e Sarney, se estivesse em Brasília, e se você não amaldiçoa o juiz até a sétima geração porque ele não marcou pênalti para o seu time, então você já superou o pior.
Nós somos muitos. Grande parte dos espíritos que estão reencarnados hoje já têm condições de transformar as pessoas à sua volta. O mundo não vai mudar da noite para o dia. O Brasil não vai sofrer uma revolução. A transformação que deve ser feita tem o seu ponto de partida no íntimo de cada um de nós. Nós nos transformamos internamente e espraiamos a transformação em torno de nós.
O Brasil está cheio de pessoas de boa vontade. Cada dia surgem novos movimentos, novas propostas e petições. Estamos recém aprendendo a lidar com a força das redes sociais. As instituições irão mudar quando nós realmente mudarmos.