Há pessoas que não suportam a visão lógica defendida pelo espiritismo. A tragédia de Santa Maria trouxe à tona uma temática bastante delicada.
A você que me acompanha há mais tempo, peço desculpas por fugir à característica deste site que é oferecer cinco minutos de leitura sobre algum tema do cotidiano. Por outro lado, o objetivo deste trabalho é provocar a reflexão.
Não há como me desvincular, neste momento, de tudo o que está acontecendo desde o dia 27 de Janeiro. Na verdade, tudo começou antes. Tenho recebido inúmeros relatos de pessoas que de algum modo, quase todos por meio de sonhos, pressentiram que algo estava para acontecer.
No meio de uma grande maioria que concorda com meu ponto de vista e aprova meu posicionamento, também recebi duras críticas. Poucas, mas muito severas. Por conta disso, me recolhi dentro de mim mesmo, durante o final de semana, pedindo inspiração a Deus e aos espíritos trabalhadores de boa vontade.
Há pessoas que não suportam a visão lógica defendida pelo espiritismo. Respeito a opinião deles. Respeito mesmo, não é da boca pra fora, não é tentativa de ser politicamente correto. Deve ser terrível para alguém que não gosta e não sabe nada de espiritismo, se deparar com um texto que insinua ou afirma que as vítimas foram nazistas em outra reencarnação, ou que foram da Inquisição, ou que participaram das Cruzadas. Só que não escrevo pra eles, não escrevo pra esses que não gostam e não entendem o espiritismo. Quero que todos eles sejam muito felizes. Ponto final.
Mas não são esses que me deixaram cheio de dúvidas. O que me fez buscar a minha verdade interna foram espíritas como eu. Na verdade, muito mais estudados e conceituados e experientes e mais dignos de credibilidade do que eu. Alguns espíritas acham que devemos nos abster de comentar, que devemos evitar quaisquer comentários sobre possíveis causas cármicas (estão criticando até o uso dessa palavra, “carma” porque Allan Kardec não a usava). Alguns espíritas bastante credenciados e autorizados acham que qualquer discussão sobre a Lei de causa e efeito, agora, é um desrespeito às vítimas e aos seus familiares e amigos que estão sofrendo a sua ausência física. Quem ler os artigos que escrevi sobre esse acontecimento, irá constatar que segui mais ou menos essa linha de conduta.
Por outro lado, acho que devemos nos posicionar, devemos sustentar nossas crenças. Afinal, elas são baseadas em estudos, não são? Não somos nós, espíritas, os adeptos da fé raciocinada? Concordo que é um desrespeito afirmar leviandades sobre um assunto tão delicado. Mas não podemos ignorar a IMENSA BUSCA POR RESPOSTAS!
Para um entendimento mais aprofundado, leia este trabalho: A TRAGÉDIA DE SANTA MARIA SOB A ÓTICA DO ESPIRITISMO
Respeito esses espíritas gabaritados. Uma das virtudes que mais admiro e procuro seguir e desenvolver é a sensatez. Mas os dados do ibope não apontam para a implacável infiltração dos princípios básicos do espiritismo entre a população não espírita. Existem espíritas versados no assunto; existem espíritas frequentadores e leitores eventuais de romances espíritas; e existe uma multidão de pessoas vinculadas a outras denominações religiosas que são simpatizantes do espiritismo. Existe um enorme e crescente contingente de pessoas que segue sua religião tradicional mas busca maiores explicações sobre aspectos complexos da Vida no espiritismo.
Essas pessoas buscam explicações. Essas pessoas não entendem como é que pode que Deus permita que um vagabundo viva feliz e contente e impune de suas maldades enquanto um jovem universitário cheio de futuro morre num incêndio idiota! Essas pessoas não sabem como é que seu líder religioso se limita a dizer que “Deus tem um plano pra elas”. Mas que raio de plano é esse tão injusto? As pessoas querem saber pra onde vão aqueles que morrem desse jeito.
Milhares de vidas foram transformadas para sempre. Não estou me referindo aos familiares, parentes, amigos e pessoas próximas. Além destes, outros milhares de pessoas que não tem nenhum vínculo com os que partiram estão, nesse momento, passando por um momento de transição em suas trajetórias espirituais graças a esse acontecimento. São pessoas que pressentiram, são pessoas que se sensibilizaram não com o sensacionalismo da televisão, mas com a dor espiritual que grita por mudança de atitudes; são pessoas que precisavam de uma chacoalhada, precisavam que uma gota d’água transbordasse os restos do homem velho que habitava nelas para dar lugar ao homem novo que clama por progresso e transformação espiritual. Suas vidas NUNCA MAIS SERÃO AS MESMAS!
Não podemos esquecer que não somos seres privilegiados por sermos espíritas, não vivemos num mundo à parte. A postura espírita convencional, tradicional,conservadora, certamente deve ser respeitada. Se foi essa postura que trouxe o espiritismo até aqui, ela tem todos os méritos e deve ser acatada. Mas esse momento não está pedindo um outro enfoque? A televisão e a grande mídia em geral estão metralhando a população com seus detalhes sórdidos, com sua busca por culpados, por mais umas gotinhas de sangue. As pessoas estão saturadas e querem outro enfoque, querem analisar e entender mais profundamente, além da superficialidade costumeira. Querem enxergar sob outro prisma. E nessa ânsia de respostas, nessa necessidade íntima de alargar seu horizonte de compreensão, alimentam conjecturas, investigam suposições, querem saber, querem entender.
Precisamos abrir esse espaço. Precisamos acolher os que chegam agora, os que não têm experiência doutrinária, os que conhecem o espiritismo superficialmente. Na tentativa de nos resguardarmos, no esforço para defendermos a imagem de sensatez, corremos o risco de institucionalizarmos uma atitude elitista e exclusiva.
Se você chegou até aqui, ótimo. Concorde ou discorde. Pense antes de criticar. Se quiser criticar, critique minha opinião, seu comentário será publicado. Não critique a mim. Não sou dono da verdade e minha opinião não vale quase nada. É apenas uma entre tantas opiniões. Que Deus nos ilumine sempre!