Os que sentem-se espíritas por frequentar centro espírita devem se esforçar para interiorizar o que aprendem. “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral, e pelos esforços que faz para domar as suas más inclinações” Allan Kardec
A religião falha em seu propósito de religar as creaturas ao Creador. Algumas por deficiências teológicas, por primarismos doutrinários; outras por não ser este o seu objetivo, e de religião só tem a aparência. Mas as maiores falhas se devem aos homens, não às religiões. Por melhor que fosse uma religião, seus membros, sendo falíveis, a corromperiam.
O que observo desde criança é uma dependência das pessoas em relação ao seu líder religioso, um automatismo sem sentido em cumprir com determinados procedimentos ritualísticos, um temor que desconhece o amor.
Isso eu vi em todas as denominações religiosas que conheci. Pessoas que se tornam dependentes de missas, de confissões, de comunhões, de novenas, da palavra do padre ou do pastor, de cultos e cânticos, de falar em línguas, consultar preto velho ou caboclo, de fazer oferendas, de tomar passes.
Não vejo nada de mal nessas manifestações religiosas. Mas não posso admitir que alguém um pouco mais esclarecido se torne dependente dessas exterioridades. E a mudança interna? E a reforma íntima?
Poucos se modificam e se esforçam pra fazer o bem, pra se tornarem pessoas melhores. Algumas denominações religiosas se passam por cristãs mas de cristãs só têm o nome, pois se apegam a exterioridades e ignoram o mandamento de Jesus, que é amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Igreja que precisa de diabo é por que não compreende Jesus.
Jesus já dizia que devemos orar em recolhimento, em nosso íntimo, e não como faziam os fariseus, que iam pro meio das praças pra mostrar sua cara de fome de tanto jejum.
É preciso renovar-se, melhorar a si mesmo. Mendigar passes, missas e milagres não é renovação pessoal, é atitude primária e egoísta. É claro que há valor nessas coisas, e que todos necessitamos delas em algum momento. Mas não a vida toda! Temos que dar, não só receber. Temos que oferecer algo de nós mesmos, não só sugar as energias alheias e atribuir poder a hábitos ritualísticos.
De que adianta assistir a missa ou ao culto evangélico e sair de lá com as mesmas ideias e atitudes de sempre? De que adianta assistir palestra e tomar passe sem refletir nos ensinamentos que recebemos, sem modificar em nada a nossa conduta? O Espiritismo tem a pretensão de ser a fé raciocinada, de abrir mão de qualquer ritual ou cerimônia. Mas para ter fé raciocinada é preciso raciocinar, não apenas ouvir passivamente; e muitos ainda veem os procedimentos padronizados como se fossem rituais que resolvessem os problemas pelo simples fato de participar deles.
Tem espírita ou simpatizante do Espiritismo que assiste palestra e toma passe e se sente em dia com as suas obrigações religiosas. Transformam o Espiritismo em religião e inserem nele suas carências cerimoniais e ritualísticas.
O Espiritismo oferece um vasto campo de estudo, uma literatura rica e abrangente, para todos os temperamentos e níveis intelectuais. A pessoa deve melhorar a si mesma, com seu próprio esforço, por sua própria vontade. Se não for assim, não sai da estagnação evolutiva em que a maioria de nós se encontra.
Frequentar centro espírita, igreja, templo ou terreiro pode ser um modo de manter-se protegido por um tempo, até que haja condições de dar passos mais largos. Mas frequentar por frequentar, indefinidamente, pensando tirar daí um benefício é enganar-se a si mesmo. O Espiritismo não precisa de público, não tem necessidade de gente engrossando suas fileiras. Os que sentem-se espíritas por frequentar centro espírita devem se esforçar para interiorizar o que aprendem, devem fortalecer a sua fé através do estudo, devem procurar, cada vez mais, bastarem-se a si mesmos, sem depender de passes e palavras de conforto.