Existe uma categoria especial de egoísmo. É o egoísmo espiritual. Todos nós sofremos desse tipo de egoísmo. É quando fazemos alguma coisa de bom e esperamos, mesmo que lá num cantinho da consciência, que sejamos reconhecidos depois do desencarne.
Sabemos que somos responsáveis pelos nossas atos, sabemos que existe a Lei de causa e efeito, segundo a qual nós colhemos aquilo que plantamos. Somos ensinados a fazer o bem sem ver a quem, a fazer o bem sem esperar nada em troca. Mas na prática não é bem assim. Talvez com você seja; não precisa se ofender.
Vai dizer que você nunca repassou na memória as boas ações praticadas? Vai dizer que você não espera alguma recompensazinha quando voltar pro lado de lá? Queremos, de alguma forma, quitar nossas dívidas e fazer algum saldo positivo. Queremos nos livrar do umbral. Queremos ser bons, mas não apenas isso: Também queremos ser reconhecidos como bons.
Até nos assuntos da espiritualidade somos egoístas. Podemos fazer o bem sem esperar nada em troca aqui, nesta vida. Podemos praticar a caridade sem esperar reconhecimento ou recompensa aqui na matéria. Mas esperamos que tudo o que estamos fazendo de bom seja anotado no caderninho da Justiça Divina.
É claro que às vezes praticamos boas ações espontaneamente, naturalmente. Não estou dizendo que tudo o que fazemos de bom é friamente calculado. Mas são raras as vezes em que fazemos o bem só por fazer, como se fosse pra nós mesmos.
Também temos a inquietação por tentar ajudar o maior número de pessoas possível. Como se a quantidade fosse mais importante que a qualidade. É melhor fazer um bem importante e decisivo para uma pessoa do que praticar uma ação isolada e sem maiores desdobramentos para um monte de gente.
Imagine se você conseguir ser verdadeiramente útil para uma pessoa por ano. Dependendo da sua expectativa de vida e da sua persistência, você poderá ser útil de verdade para dezenas de pessoas ao longo desta sua reencarnação. Quer algo mais grandioso que isso?
Um dia iremos fazer o bem sem esperar nada em troca. Nem aqui nem do lado de lá. Fazer o bem ser esperar nada, nem reconhecimento, nem recompensa de espécie alguma, nem bem-estar íntimo, nem a sensação do dever cumprido, nada. Apenas fazer o bem porque é o que se faz. Como uma coisa natural e normal.
O bem que fazemos hoje é treino. Nossas tentativas de reforma íntima, nossos esforços de aprendizado e desenvolvimento moral, tudo isso é preparo, são tímidas tentativas de nos colocarmos em sintonia com Deus.
Deus se manifesta através de cada um de nós. Para que esta manifestação seja perene, para que vivamos em permanente sintonia com Deus, vamos ter que abrir mão do nosso individualismo, da nossa personalidade adquirida. Isso vai levar algum tempo…
Em nossas tentativas, temos um ou outro momento em que esquecemos de nós mesmos e permitimos a manifestação de Deus. Sintonizamos com Ele ao deixarmos de lado nossos próprios interesses, nossas preocupações mesquinhas e nossas expectativas sobre o resultado dos nossos atos. E ao sintonizamos com Ele, excepcionalmente não esperamos nada em troca do bem que fazemos. Apenas fazemos o que deve ser feito.