Na prática nós vivemos, sim, um dualismo entre o Bem e o Mal. E como o espiritismo chama a isso? Livre-arbítrio.
As religiões, de um modo geral, se sustentam sobre a dualidade Bem e Mal. Nos primórdios do cristianismo várias seitas já existentes tentaram conciliar seus pensamentos com os ensinamentos cristãos. Uma dessas seitas era o maniqueísmo, fundada por Maniqueu, um persa, nascido onde hoje é o Iraque. O maniqueísmo pregava pura e simplesmente uma dualidade entre Deus e o Diabo, o Bem e o Mal, os dois com poderes equivalentes, cabendo a cada um de nós a escolha entre um dos dois.
Santo Agostinho, antes de se converter ao cristianismo, era maniqueísta. Sabemos que ele foi o principal fundamentador e teorizador do cristianismo, para o catolicismo organizado que se iniciava. Suas ideias influenciaram o pensamento ocidental de maneira quase imperceptível.
Vivemos essa dualidade até hoje. A vida muitas vezes se apresenta para nós como uma eterna luta entre o Bem e o Mal. Provavelmente esta não seja a maneira mais verdadeira e bonita de se ver o mundo. Acredito que se nós fôssemos educados desde cedo a desenvolver as nossas potencialidades, a fazer crescer o que há de bom em nós, não precisaríamos dar tanta ênfase, tanta atenção ao Mal.
Como você sabe, existe a teoria e a prática. Na prática nós vivemos, sim, um dualismo entre o Bem e o Mal. E como o espiritismo chama a isso? Livre-arbítrio. O livre-arbítrio é o nosso poder de escolha, é a nossa capacidade de decisão, é a nossa relativa autonomia em relação aos caminhos que estão à nossa frente.
Você tem que decidir todos os dias. É claro que na maioria das vezes se trata de decisões fáceis e de menor importância. Mas há momentos em que você se vê com duas opções pela frente. Como se você estivesse caminhando pela estrada e houvesse uma bifurcação. Você vai pra direita ou pra esquerda?
Isso é o livre-arbítrio. É o poder de decidir qual direção tomar. Quase sempre a sua decisão é entre o Eu e o Ego. Aí está a dualidade: Deus e Diabo, Bem e Mal, Eu e Ego.
O Eu é Deus que se manifesta através de nós. O Deus da bíblia, do antigo testamento, era chamado Jeová (ou Javé). Pois Jeová quer dizer Eu Sou. O Eu representa Deus. Quando você faz a vontade de Deus você está indo de acordo com o seu Eu interno, o seu Eu Crístico. Então você é instrumento de Deus, você assume o seu papel de Deus, de partícula divina, feito à imagem e semelhança de Deus, co-criador com Ele.
O Ego é a personalização do ser. É nossa natureza transitória, temporal, limitada. O seu Ego é você, tem o seu nome, a sua imagem. O seu ego se identifica com o seu corpo, pois o Ego precisa de aparência, já que ele não É. Ele apenas ESTÁ. Apenas Deus É. Ele É, simplesmente. Nós não SOMOS, nós ESTAMOS. Somos transitórios em nossas formas, em nossas vontades, em nossos caprichos, em nossas ilusões.
Quando somos bons, quando somos altruístas, quando somos caridosos e benevolentes estamos fazendo a vontade de Deus. Estamos sendo instrumentos de Deus, permitindo que Ele se manifeste e aja através de nós. Quando somos bons e fazemos o que sabemos que deve ser feito, estamos passando por cima do nosso personalismo, estamos sufocando nosso Ego.
Quando fazemos o que temos vontade, sem nos preocuparmos com as consequências que isso pode gerar em relação aos outros, estamos obedecendo ao nosso Ego. Estamos seguindo aquela frase de Aleister Crowley, popularizada por Raul Seixas e cantada até hoje, na música “Sociedade Alternativa”: “Faze o que tu queres, pois é tudo da Lei”. Falarei mais sobre Raul Seixas amanhã.
Às vezes somos surpreendidos pela Vida e temos que decidir entre dois caminhos não muito claros. Não temos parâmetros em que basear nossas escolhas. Nos confundimos entre o certo e o errado, o Eu e o Ego. Falta de experiência, sinal de pouca maturidade espiritual. Ainda há muito que avançar…