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Não vos preocupeis com o dia de amanhã

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Não vos preocupeis com o dia de amanhã – ou: não fiqueis ansiosos com o dia de amanhã. Esta recomendação de Jesus é muitas vezes mal compreendida, como se Jesus estivesse nos orientando a deixar de lado quaisquer cuidados com o amanhã, qualquer planejamento. 

A verdade é que em mais de noventa por cento das vezes o objeto de nossas preocupações não tem chance de se concretizar. Desperdiçamos nossas energias ao nos ocuparmos antecipadamente com coisas que são, quase sempre, apenas imaginárias.

Este é o tema que abordo neste vídeo de apenas seis minutos. Se preferir, leia o texto logo abaixo.

Você costuma se preocupar? Costuma ficar preocupado com possíveis coisas que podem acontecer?

Um dos ensinamentos mais famosos de Jesus, que compõe o Sermão da Montanha, diz assim:

“Por isso vos digo: não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário?”

Essa parte que diz “não andeis cuidadosos quanto à vossa vida”, algumas traduções dizem “não vos preocupeis com a vossa vida ou “não andeis ansiosos com a vossa vida”.

Nós sabemos que o Evangelho foi escrito originalmente em grego, e a palavra grega traduzida como “andar cuidadoso”, “preocupar” ou “andar ansioso” é merimna, que quer dizer, originalmente, “separar do todo”. “Ficar preocupado com o dia de amanhã”, então, seria “separar do todo o dia de amanhã”.

O que é o todo?

O todo é Deus. Todo o tempo e todo o espaço pertence a Deus, então separar uma parte do todo seria separar essa parte de Deus. Ficarmos preocupados, ficarmos ansiosos pelo dia de amanhã seria como uma tentativa de vivermos antecipadamente o dia de amanhã. Todos os dias pertencem a Deus, e o nosso dever é vivermos dia após dia.

Sempre que nos preocupamos, nós vivemos antecipadamente um problema futuro que em mais de noventa dos casos não se concretiza. Nós tememos determinada coisa que pode vir a acontecer, e essa coisa, na grande maioria das vezes, não acontece, não existe nem chance disso acontecer.

Acontece que quando vivemos antecipadamente determinado fato, nós o sentimos, nós o imaginamos, nós vivenciamos internamente esse fato como se ele fosse real – então nosso possível sofrimento, a nossa possível angústia, o nosso gasto de energia é tão real quanto se nós estivéssemos vivendo realmente esse momento. E é nesse sentido que Jesus nos recomenda, nos orienta a não nos preocuparmos com o dia de amanhã, não anteciparmos o dia de amanhã, não separarmos do todo o dia de amanhã.

Claro que nós temos que planejar a nossa vida. Para que a nossa passagem pela Terra seja produtiva é necessário que nós desenvolvamos a disciplina, e isso requer planejamento – mas planejarmos a nossa vida é muito diferente de nos preocuparmos, de anteciparmos alguma coisa que talvez deva acontecer no futuro.

Nós agimos melhor sempre quando nos concentramos, quando concentramos as nossas energias no momento, naquilo que estamos fazendo no momento. Essa é uma das razões pelas quais Jesus nos orienta a orar e vigiar, estarmos sempre com o pensamento elevado e vigiando aquilo que sentimos, nos concentrando naquilo que estamos fazendo no momento. Então sempre antes de iniciarmos determinada atividade, é bom nos conectarmos com Deus.

Se durante o nosso dia nós fazemos 10, 15 ou 20 atividades diferentes, é bom que sempre antes de iniciar uma dessas atividades nós lembremos de Deus. Não precisamos de grandes orações – até porque a eficácia das orações não está nas palavras, a conexão se dá pelo pensamento e pelo sentimento.

Como orar corretamente e ter a oração atendida

Temos que evitar a preocupação para economizarmos as nossas energias. Nós como espíritos temos uma determinada cota de energias, energias que desenvolvemos até agora e estão à nossa disposição – porque na verdade não sabemos até onde vai a nossa força. Jesus disse que podemos fazer as mesmas coisas que ele e até maiores. É claro que ainda não estamos preparados para isso, mas já desenvolvemos, ao longo de inúmeras existências, milênio após milênio, uma determinada cota de energias. E quando nos preocupamos com determinada coisa nós estamos desperdiçando essas energias – e por causa desse desperdício de energias é que quase sempre nós temos alguma dificuldade em cumprir os nossos objetivos, alguma dificuldade em concretizar aquilo a que nos propomos.

Então, se nós temos raiva de determinada pessoa, se nutrimos raiva por alguém, seja lá por qual motivo for, e não perdoamos; se temos mágoa em relação a uma outra pessoa; se temos um descontentamento íntimo com alguma coisa que fizemos ou deixamos de fazer no passado; e se ainda por cima estamos preocupados com alguma coisa que possivelmente acontecerá no futuro, já são quatro fatores a consumir as nossas energias.

Então, em vez de concentrar as minhas energias naquilo que tenho para fazer naquele momento, em vez de concentrar as minhas energias para cumprir com os objetivos aos quais me propus, eu fico com quatro vazamentos de energia: um direcionado à raiva que sinto de alguém; outro à magoa que eu sinto em relação a alguém, não consigo perdoar; outro em relação ao descontentamento íntimo que eu possa ter comigo mesmo por qualquer motivo; e outro em relação à preocupação com o futuro, a antecipação de um fato que na grande maioria das vezes nem sequer iria se concretizar.

Nossa existência material é curta. Nós temos algumas décadas à nossa disposição para nos reajustarmos com seres com quem tivemos alguma diferença no passado, para aprendermos uma série de coisas e para realizarmos algumas coisas. Nós estamos aqui para realizar, estamos aqui para agir, se não fosse para agir não teríamos um corpo material propenso à atividade.

Então temos que evitar sempre a preocupação, a ocupação antecipada com algum fato real ou imaginário (quase sempre imaginário), concentrando as nossas energias na atividade de que estamos nos ocupando no momento, nos mantendo sempre conectados com Deus através da oração – como uma coisa íntima, não necessariamente em forma de palavras – e com a vigilância sobre os nossos pensamentos, porque o pensamento é criador.

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