Algumas partes do nosso passado de que não gostamos são como o lixo embaixo do tapete. Não aparece, mas você sabe que está lá. Não varra o lixo pra debaixo do tapete!
Todo mundo tem experiências que gostaria de esquecer, coisas que aconteceram que gostaria que fossem deletadas da memória.
A vida oferece momentos maravilhosos. São momentos de paz, ou de alegria, ou de prazer carnal, ou de confraternização, ou muitos outros. Se pensarmos bem, a vida tem muitos prazeres. Mas não são nesses momentos que realmente crescemos. Nos momentos de amor nós experimentamos o amor, provamos o amor, vivenciamos o amor. Mas não é aí que mais aprendemos.
São as experiências mais dolorosas que nos ensinam a perdoar, que nos mostram o caminho da compaixão. Essas experiências são bênçãos, são dádivas que devemos agradecer. Sem elas não seríamos o que somos. Elas nos ajudam a ver as coisas de modo totalmente diferente do que veríamos noutras circunstâncias. É claro que devemos estar afastados no tempo para nos darmos conta disso. Não adianta dizer isso para alguém que está atravessando um período especialmente difícil.
Todos guardamos dentro de nós mágoas antigas, erros dolorosos que cometemos, defeitos que não deixamos ninguém perceber. Tudo isso faz parte do que nós somos, pertence à nossa bagagem, queiramos ou não. Negamos essas partes de nós que não gostamos. São sujeiras do nosso passado que varremos pra debaixo do tapete, como se isso pudesse esconder esse lixo de nós mesmos.
Se você se esforça constantemente para melhorar a si mesmo, se você pratica com força e convicção a reforma íntima, talvez seja difícil se dar conta de que a sujeira continua debaixo do tapete. Você se vigia, se controla, domina seus impulsos, acaba criando uma proteção contra você próprio. Mas o que você viveu de triste, de doloroso, os males que você causou ou acha que causou, as maldades que fizeram com você, está tudo lá embaixo, escondido.
Essas coisas são como o que você publica na internet. Fica lá, não há como apagar. Você pode ficar muito tempo sem ver, mas sabe que está lá. Você não se livra delas, nem tampouco as transforma. A transformação não está nas coisas que aconteceram, a transformação está em você. Só o que você pode mudar é a sua visão a respeito dessas coisas. E quando você faz isso, tudo muda.
Quando você resolve finalmente aceitar que aquilo faz parte de você, que são dados da sua programação de vida, que pertencem à sua história pessoal, você está aceitando que esses fatos foram oportunidades de crescimento que você aproveitou. Você é o que é hoje graças às dificuldades enfrentadas. Você sabe o que sabe hoje graças às coisas ruins que aconteceram em sua vida.
Se você parar de fugir dos seus piores momentos, das coisas negativas que fizeram pra você, irá perceber que a capacidade de compaixão que você desenvolveu ao longo da vida se fortaleceu a partir desses fatos. Nada desenvolve tanto a compaixão como perdoar alguém que nos prejudicou gravemente. Você tem compaixão porque conheceu o sofrimento, senão seria muito difícil compreender o sentido desta palavra.
Seja grato às coisas ruins que lhe aconteceram, elas lhe ensinaram a perceber como as pessoas sofrem. Foram as grandes dificuldades que você atravessou que lhe ensinaram a perceber como as pessoas se escondem de si mesmas. É graças às atribulações que você viveu que você tem hoje a capacidade de notar o ponto vulnerável das pessoas, notar que no fundo elas são como você.
Você é espírito imortal, você é muito mais do que uma série de experiências desagradáveis. Assuma que elas aconteceram, assuma seus erros e defeitos, não os esconda. Você é muito maior que as dificuldades que conheceu. Assuma sua força, não banque o pequeno. Ser humilde não é ser pequeno, ser humilde é ser do tamanho que se é.