Desde o começo do surto de microcefalia muitas pessoas têm me perguntado a visão da Doutrina sobre este tema.
Eu não respondi ainda porque eu não sei o que essas pessoas esperam ouvir. É difícil saber qual o nível de conhecimento da Doutrina por parte dessas pessoas.
Por que a Doutrina não se pronuncia jamais sobre casos específicos. O que a Doutrina nos ensina – e isso é o básico do básico – é que nós somos responsáveis por nós mesmos. Nós comentemos determinados erros, esses erros ficam gravados em nós, e quando nós reencarnamos podemos formar um corpo imperfeito como conseqüência dos erros que estão gravados em nós.
É uma coisa óbvia que cada parte, cada região, cada órgão do nosso corpo está associado a determinada faculdade do espírito, determinada característica do espírito. Quando nós cometemos erros reiteradamente por intermédio desses órgãos, ou seja, quando determinadas características nossas são exercitadas no erro, nós lesamos nosso corpo astral na área associada a essa característica.
O corpo astral é o nosso modelo organizador biológico. É o corpo astral que molda o corpo físico. Quando o espírito está se preparando para reencarnar ele entra em sintonia, ou seja, ele escolhe automaticamente, ele escolhe inconscientemente o espermatozoide mais apropriado para o desenvolvimento das suas características. Um espírito muito equilibrado vai sintonizar com um espermatozoide de excelente qualidade; um espírito desequilibrado ou menos equilibrado vai sintonizar com um espermatozoide de qualidade inferior – essa a origem espiritual da herança genética.
O surto de microcefalia está associado a um vírus transmitido por um mosquito (embora outras causas não sejam descartadas). O mosquito pode picar milhares de pessoas, mas apenas algumas pessoas vão hospedar o vírus ou desenvolver a doença. Milhares de mães gestantes podem ser picadas pelo mosquito transmissor do vírus, mas apenas em alguns casos o feto vai desenvolver a doença.
Assim é com todas as doenças infecto-contagiosas – vírus, bactérias, fungos, estão por toda parte. Apenas algumas pessoas são contaminadas. Isso é associado à maior ou menor imunidade, e isso é verdade. Mas a causa de tudo, sempre, é o espírito. São as características desenvolvidas do espírito que vão determinar a sua maior ou menor imunidade a determinadas doenças.
Um ateu pode achar isso um absurdo, e ele tem todo o direito de achar isso um absurdo. Mas alguém que acredita em Deus, que acredita que existe uma causa primária de tudo e que essa causa é justa, que Deus é justo e que as Leis de Deus são justas, não pode colocar em dúvida o fato de que não há efeito sem causa.
Não se trata de julgar essas crianças ou as suas mães. Não é uma insensibilidade, pelo contrário: insensibilidade á atribuir tudo o que acontece à desgraça do mundo, porque tudo é injusto, porque a vida é uma bosta, porque Deus deve estar de férias. Não!
O Universo é perfeito, nós é que cometemos erros – e esses erros, por contrariar a harmonia do Universo, nos tornam temporariamente desarmoniosos.
Um exemplo muito simples: Você come uma comida estragada. O seu organismo, que funciona automaticamente, inconscientemente, vai trabalhar rapidamente para expurgar aquela impureza do seu corpo. Então muito provavelmente você apresentará os sintomas de vômito ou diarreia.
A doença é o vômito ou a diarreia do espírito. O espírito está impuro, por conta dos seus erros cometidos. Ele precisa expurgar essas impurezas. O modo dele expurgar essas impurezas é a doença.
O que o espírito aprende nessa situação, como a da microcefalia? Nós temos que entender que nós não temos só esse nível de consciência. Isso aqui é só a superfície, nós temos muitos níveis de consciência, alguns deles muito profundos. Esses níveis de consciência mais profundos não são afetados pela microcefalia, porque as regiões do cérebro associadas a esses níveis de consciência mais profundos não são afetadas pela microcefalia.
O espírito aprende e muito. Ele pode estar tendo a oportunidade de mergulhar de novo para dentro de si mesmo, contatar a sua natureza mais profunda, mais próxima de Deus e da verdade; ele pode desenvolver emoções profundas; ele pode voltar a sentir a vida profundamente, e não tão superficialmente como nós estamos acostumados a sentir.
O que o espírito fez para reencarnar com microcefalia?
Analisando o efeito, podemos avaliar que a causa deve ter sido o mau uso da inteligência. Se a inteligência é a característica mais atingida pela doença, a causa está ligada à inteligência.
Não podemos esquecer que nós não reencarnamos em determinado meio por acaso. Há uma razão para um espírito nascer como filho de um certo pai e uma certa mãe. Muito provavelmente os pais estão envolvidos num mesmo passado de erros. E a doença é a oportunidade de reajuste. Através do amor, do trabalho, da humildade, da abnegação.
Algumas pessoas acham que isso pode ser uma espécie de expiação coletiva. É possível, nós não temos como saber. O que parece claro é que a Vida se utiliza das oportunidades que têm à disposição para harmonizar todos os seres. Existe esse surto de doença, então a Vida providencia para que esses espíritos tenham a sua chance de reajuste.
Por outro lado, nós notamos que conforme a humanidade vai se tornando mais complexa, as doenças também vão se tornando mais complexas.
Algumas décadas atrás nós tínhamos muitos casos de deficiência física – hoje nós vemos mais doenças emocionais, doenças psíquicas – e agora esse surto de microcefalia. Nós vemos que o que está sendo atingido é a mente – a mente está expurgando as suas impurezas.
Eu sei que algumas pessoas ficam revoltadas com comentários como esse. Elas não admitem a ideia de que uma criança possa estar respondendo por um erro do passado. Temos que lembrar que o espírito que anima a criança é um espírito tão velho e endividado quanto qualquer um de nós. Quando Jesus curou o paralítico, no tanque de Betesda, dias depois ele encontrou o mesmo homem, agora um ex-paralítico e disse ao homem: “não tornes a pecar para que não te aconteça coisa pior”. Jesus está assinalando aqui que a doença daquele homem foi causada por ele mesmo, pelos seus pecados – pecado quer dizer erro.
Noutra ocasião Jesus curou um cego de nascença, e os seus discípulos perguntaram a ele quem havia pecado para que ele nascesse assim: ele ou os seus pais. Se ele era cego de nascença, ele não poderia ter pecado nessa existência, só numa existência anterior – o que demonstra que o conhecimento da reencarnação era comum entre os judeus no tempo de Jesus.
Se não considerarmos a reencarnação, aí realmente um caso de doença assim parece uma grande injustiça, e aí nós teríamos que reconhecer que Deus é injusto, pois ele escolhe alguém, aleatoriamente, para nascer doente. Mas nós sabemos que não existe acaso. A Vida é uma permanente continuidade, dividida em várias etapas, várias existências.