Masturbação pode provocar vampirização de energias? O que o Espiritismo diz a respeito da masturbação?
Esses questionamentos são recorrentes. Reproduzo agora a pergunta do leitor João Henrique:
Gostaria de fazer as seguintes indagações ao Morel: – esperma decorrente de masturbação masculina pode atrair espíritos obsessores em face da liberação de ectoplasma? – masturbação masculina pode ser perpetrada todo dia ou tal prática é uma porta aberta para a entrada de seres/entidades desencarnadas sem elevação moral?
É preciso esclarecer, antes de mais nada, que a Doutrina não se pronuncia sobre a prática da masturbação. Por quê? Porque não é o objetivo da Doutrina formular códigos morais. A Doutrina nos ensina Leis, e dessas Leis nós depreendemos aquilo que estiver ao nosso alcance.
Não é o esperma, especificamente, que vai atrair espíritos. A linguagem universal dos espíritos é o pensamento. Todos nós, espíritos ligados à Terra, encarnados ou desencarnados, nos comunicamos o tempo todo por pensamento. É claro que normalmente nós não percebemos isso. Mas o fato é que nós influenciamos e somos influenciados o tempo inteiro.
Masturbação envolve desejo, imaginação e liberação de energia. O desejo, seja ele qual for, é uma característica do nosso estágio evolutivo. O principal ensinamento prático do budismo é a superação do desejo (não especificamente do desejo sexual, mas de todo e qualquer desejo). Quando não desejarmos mais nada não sofreremos e sentiremos a vida como ela é – mas isso já é outra conversa.
O desejo, sendo uma característica nossa, pode ser direcionado para qualquer área: dinheiro, comida, roupas, carro, álcool, drogas, carícias, descanso, leitura, jogo, sexo…
Temos sete centros de força (chacras) principais. Cada um deles é ligado a determinadas forças ou faixas de influência. O chacra sexual, o 1º na figura ao lado, fica lá embaixo, numa região associada às nossas necessidades mais orgânicas, primárias, animais.
Não há nada de errado com essas forças. Mas são forças fortemente ligadas à Terra, são forças que nos ligam a este plano denso, material, e que nos impedem a elevação. Quando Jesus disse que não se pode servir a dois senhores, foi a isso que ele se referiu: não podemos nos elevar espiritualmente se mantivermos o nosso foco nas coisas mais materiais.
Mas, quando alguém se masturba, raramente é movido apenas pelo desejo. Ele procura algum estímulo através de imagens. Até uns cem anos atrás (um pouco menos em alguns lugares) não existiam os estímulos pornográficos que conhecemos. O máximo que havia, nas grandes cidades, eram retratos de mulheres nuas, em poses que hoje não excitam ninguém. Não havia televisão, cinema, revistas, e, muito menos, internet. Hoje um homem vê em alguns minutos mais imagens pornográficas do que o seu avô ou bisavô viu em toda a sua vida.
Pornografia – opinião espírita
Mas, mesmo que alguém se masturbe sem o auxílio de imagens externas, ele forma imagens em sua mente, ou seja, ele usa a imaginação (imagem + ação). Podemos pensar, num primeiro momento, que não há nada de inconveniente nisso, pois, afinal, “é só imaginação”. Mas não é bem assim…
Falamos há pouco que a linguagem universal dos espíritos é o pensamento, não falamos? A imaginação se enquadra nisso. Você lembra da recomendação de Jesus para não desejar a mulher do próximo? A lei de Moisés proibia o adultério. Jesus acrescentou que o simples fato de desejar a mulher do próximo já constitui adultério.
Isso pode parecer duro demais, mas temos que entender que o ensino de Jesus é para o espírito. Jesus não veio nos ensinar bons modos. Veio nos ensinar como funcionam as coisas espiritualmente. O que vale, realmente, é o que somos em nosso íntimo. Podemos ser pessoas bem comportadas externamente mas, em nossa intimidade, alimentarmos coisas de que nos envergonharíamos se outras pessoas descobrissem.
E isso vale como critério para você saber se algo que você faz é certo ou errado – ou, como diria Paulo, se convém ou se não convém: você teria vergonha se alguém descobrisse o que você faz na intimidade? O que você pensaria de alguém que pensasse o que você pensa, que desejasse o que você deseja, que imaginasse o que você imagina?
Falamos sobre o desejo e falamos sobre a imaginação. Temos que falar sobre a liberação de energia. Quando falamos sobre o desejo, dissemos que ele pode ser direcionado para qualquer área. A área para onde direcionarmos o nosso desejo receberá a nossa energia. Nossa energia acompanha o nosso desejo. Se focarmos o desejo no sexo, nossa energia estará focada no sexo. E, quando acontece a masturbação liberamos essa cota de energia relacionada a esse desejo momentâneo através do orgasmo – e, no caso dos homens, da ejaculação.
Já disse Lavoisier que “na Natureza nada se crea, nada se perde, tudo se transforma”. A energia liberada através da masturbação não se perde. Para onde ela vai?
É aí que entra a possível participação de espíritos. Não há nada de sobrenatural nisso, pelo contrário. Nós somos espíritos e estamos temporariamente revestidos de um corpo de carne. Quando esse corpo de carne perecer, continuaremos sendo espíritos, exatamente os mesmos seres, com a mesma inteligência, as mesmas capacidades, os mesmos gostos, as mesmas qualidades, os mesmos vícios e desejos. Uma pessoa viciada em qualquer forma de sexo enquanto está encarnada não vai perder o seu desejo só porque desencarnou.
Os espíritas mais ortodoxos, geralmente desatentos da obra de Kardec, que tanto defendem, podem alegar que o desejo sexual está ligado ao corpo físico, e que, portanto, um desencarnado não tem desejo. Estão enganados. O desejo é do espírito, não é do corpo.
Esses espíritos viciados em sexo (como em qualquer outra coisa) buscam a companhia dos encarnados que compartilham dos seus desejos. Na verdade, nem poderíamos chamá-los de obsessores, pois eles estão apenas compartilhando de algo que nós também queremos. É uma espécie de parceria. Que, infelizmente, passa a ser prejudicial, pois a soma dos desejos vai fazer com que o encarnado sinta cada vez mais desejo e, consequentemente, busque saciar seus desejos se masturbando compulsivamente.
É preciso que fique bem claro que não há nada de errado com a masturbação. O equívoco, como em tudo, está no desequilíbrio. Imagine um homem ou uma mulher de um século atrás: a grande maioria da população era rural. As pessoas não tinham acesso a nenhum meio de comunicação e conheciam relativamente poucas pessoas. Não havia estímulos eróticos, não havia muitas conversas sobre sexo, não se tinha nem as informações nem a imaginação relacionados a sexo como temos hoje. Você acha que aquelas pessoas sentiam desejo de se masturbar como sentem hoje?
O desejo é alimentado artificialmente, todos os dias. Por isso ele se torna abusivo e pode se tornar num vício degradante e provocar obsessões renitentes.
Mas a masturbação, por si só, não pode ser considerada um erro. Não há nenhum argumento lógico que a torne proibitiva. Apenas não deveria ser uma prática recreativa. O sexo envolve energias criadoras do fundo do nosso ser. É uma pena desperdiçar tanta energia se masturbando. Por outro lado, algumas pessoas, principalmente jovens, têm um excesso de energia que não são direcionadas para fins mais úteis. Essa energia, se represada, pode representar sérios danos psíquicos. Melhor, então, usar da masturbação como uma válvula de escape do que ficar represando essa energia.
Além disso, é sabido desde Santo Agostinho, lá pelo ano 400, que segurar o desejo a qualquer custo, em nome de uma castidade que estamos longe de alcançar de fato, é uma coisa que nunca deu certo. Quem já se livrou de um vício (como o cigarro, por exemplo) sabe que, mesmo depois de ter parado com a vício há bastante tempo, sonha-se com ele.
Na verdade, isso não é sonho. Quando dormimos, o corpo físico fica repousando e nós vamos em busca daquilo que nós realmente queremos – essa é a hora da verdade! Por isso Jesus falou sobre o adultério em pensamento. Não adianta apenas deixar de praticar certas coisas no plano físico se ainda as praticamos em pensamento. No plano astral, que é para onde vamos quando dormimos e quando desencarnamos, colocamos em prática tudo o que está fortemente represado em nós.
Pessoas que se reprimem sexualmente costumam encontrar-se com espíritos dispostos a “esvaziar” (vampirizar) essas energias represadas.
Outra pergunta que o João Henrique faz é se a pessoa pode se masturbar todos os dias. O que ele quer saber é qual a frequência masturbatória que pode ser considerada como vício.
Evidentemente, não posso responder essa pergunta. Conheci pessoas viciadas em álcool, cigarro e cocaína que faziam uso dessas substâncias apenas aos finais de semana. No entanto, apesar da baixa periodicidade, eram dependentes. Não conseguiam vencer a compulsão de usar essas substâncias aos finais de semana. O que quero dizer com isso é que a questão de periodicidade varia de pessoa para pessoa. Não é isso que deve configurar a pessoa como viciada ou não viciada.
Não vejo mal nenhum em alguém masturbar-se eventualmente se estiver com um desejo incômodo, que lhe atrapalhe a atenção ou a concentração em determinada atividade. É melhor masturbar-se do que ficar alimentando desejo o tempo inteiro, gerando formas-pensamento das quais, depois, é difícil de se livrar.
Uma coisa que deve ser lembrada sempre que se fala em sexo relacionado a espiritualidade, é que o sentimento de culpa pode ser uma porta de entrada maior para companhias espirituais indesejadas do que o próprio ato em si. Esses assuntos devem ser abordados para que haja um maior esclarecimento, e, assim, possamos decidir sobre nossas atitudes com equilíbrio. Mas isso não pode despertar temores infundados ou sentimento de culpa.
Somos espíritos imortais imersos num vasto oceano de energias. No decorrer de nossa evolução, nos associamos a determinadas forças – algumas benéficas, outras nem tanto. Saibamos agir com critério, sem pretender grandes saltos para os quais ainda não estamos preparados, mas também sem o conformismo com a manutenção de velhas fraquezas.