Comportamento

Marcos Feliciano e os homossexuais – opinião espírita

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Morel Felipe Wilkon

Como espírita, divirjo do posicionamento do pastor deputado Marcos Feliciano em inúmeros aspectos. Isso não me impede de respeitar o seu ponto de vista, embora a maneira como o faça provoque reações. Alguns homossexuais sentem-se atingidos pela opinião ou pelas manifestações de Feliciano. Não seria melhor ignorá-lo? Será que acreditam que o farão mudar de ideia, ou que ele irá se retratar? Se houvesse tolerância de parte a parte tudo seria mais fácil… 

O fundamentalismo tem sua origem no protestantismo norte-americano, surgido na primeira metade do século XIX. Era o surgimento de uma tendência de os religiosos, tanto os teólogos como os pregadores e seus fiéis,  tomarem as palavras da Bíblia ao pé da letra.

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Feliciano sentiu-se afrontado…

Desde Lutero que o fundamento de tudo para a fé protestante se resume na Bíblia. Partem do princípio de que se Deus nos deu como sua revelação a Bíblia, então tudo o que está nela é sagrado. Para os fundamentalistas cada palavra, cada passagem é tida com verdadeira, literal e imutável. Nada de interpretações, nada de contextualização histórica, nada de hermenêutica. Não importa, para eles, que a Bíblia tenha sido escrita há alguns milhares de anos. Tentar buscar um sentido oculto por trás de passagens obscuras, para eles, é uma blasfêmia. Não adianta argumentar que a ciência demonstra coisas diferentes do que está exposto na Bíblia. Não adianta invocar a História. Só o que vale é o que está na bíblia.

Hoje, ainda, há quem sustente que o mundo foi criado em sete dias, e que Adão e Eva são os ancestrais de toda a Humanidade, e que Noé levou um casal de cada animal para a arca. Para eles, Jesus é o salvador, e quem não está com ele está contra ele, ou seja, com o diabo. São rigorosos nos aspectos que dizem respeito à sexualidade e à família, são intolerantes com os homossexuais.

A Igreja Católica também tem a sua ala fundamentalista, representada principalmente pelo papa Bento XVI. Se opõe à modernidade, às liberdades que acompanham a modernidade. Para eles a Igreja Católica é a única Igreja, é a verdadeira Igreja, é a Igreja de Cristo. “Fora da Igreja não há salvação”.

Há tempos que acompanho de longe as trocas de gentilezas entre o pastor deputado Marcos Feliciano e alguns homossexuais. Há exageros de ambos os lados. Uma guerrinha sem sentido. Ninguém sai ganhando com isso. Me chamou a atenção a manchete do Correio do Povo, de Porto Alegre:

Jovens são presas após se beijarem em culto de Feliciano

Duas estudantes, de 18 e 20 anos, foram presas na noite deste domingo, após se beijarem durante evento evangélico realizado em São Sebastião, litoral norte de São Paulo. O protesto foi realizado enquanto o pastor e deputado federal Marco Feliciano (PSC/SP) iniciava sua pregação a cerca de cerca de 2 mil fiéis.

O culto foi na rua, em local público, não numa Igreja. Não há nada que proíba duas pessoas de se beijarem em público. Beijos, em geral, não podem ser considerados como afronta, mas é preciso reconhecer que houve provocação por parte das meninas. Nada justifica a violência, e o fato delas se beijarem não é, de forma alguma, motivo para algemar e prender. Houve quem lembrasse do artigo 208 do Código Penal, que prevê pena de detenção de um mês a um ano ou multa ao cidadão que […] impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso.

Peço que você se manifeste, dê a sua opinião a respeito. Eu acho que foi um ato infantil e desnecessário por parte delas.  Por causa de atitudes como essa é que Feliciano se torna cada vez mais popular. Era isso que elas queriam? Certamente não. Mas é isso o que ocorre. Se elas se opõe a ele, deveriam saber que muitos aplaudem o posicionamento dele, e que a cada episódio como esse ele se fortalece com o seu público.

Será que é tão difícil diferenciar um homem da religião que ele representa? Mesmo que não concordem com determinada religião, é preciso respeitá-la. Enquanto estivermos no campo das ideias tudo merece respeito. Ao se beijarem num culto religioso, essas duas meninas não estão dando uma demonstração de amor, não estão conquistando a tolerância por parte de quem as condena ou o respeito por parte da sociedade. Estão afrontando uma religião e seus fiéis, quando sua intenção, provavelmente, era afrontar um único homem, Feliciano.

O fundamentalismo, que citei lá em cima, pode se enraizar profundamente no Brasil se seus líderes receberem tanta atenção como estão recebendo. Isso é combustível para a fogueira do fundamentalismo. 

Há pessoas e grupos de pessoas que não aprovam a homoafetividade. Não é por meio de provocações, nem de explicações, nem de forma alguma que se conseguirá fazer alguém assim mudar de opinião. Essas pessoas só vão mudar de opinião se perceberem que todas as pessoas são iguais em essência, e isso só pode acontecer por meio de comportamentos. É pelo exemplo que se convence. Não se convence ninguém na marra. 

Nunca discuto religião com pessoas de outra religião. Nunca vi, até hoje, uma pessoa convencer outra através de uma discussão. Mas conquisto o respeito de vários religiosos com o meu exemplo, com a minha conduta. Não há porque se incomodar com alguém que pense diferente do que pensamos. Quem não aprova a homoafetividade deve ser tolerante. É um dever de sociedade. Mas não há como fazê-lo gostar de homossexuais. Não por meio de provocações.

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