Artigo publicado originalmente em 15/11/2012
A Proclamação da República, que se comemora hoje, pode não ter nenhum sentido especial pra você, mas foi a partir deste fato histórico que teve início a liberdade religiosa, sendo legalizados os cultos religiosos no Brasil. Durante o período monárquico, a religião oficial do Brasil era o catolicismo. Até havia uma chamada liberdade de crença, mas não havia liberdade de culto.
Chega a ser engraçado falar em liberdade de crença. Será que se pode proibir alguém de crer? Claro que não. No pensamento alheio ninguém manda. Mas quem realmente sofria com a falta de liberdade religiosa eram os negros. Muitos eram proibidos de praticar suas religiões de origem. Alguns senhores de escravos, muito complacentes para os padrões da época, permitiam alguma manifestação religiosa, mas impunham que os negros se cristianizassem.
Foi assim que começou o sincretismo religioso; a mistura de santos católicos com orixás africanos. Com a abolição da escravatura e o fim da religião única, os negros passaram a se reunir em lugares mais discretos e afastados para viverem sua religiosidade. Mas houve muita perseguição sobre as religiões africanas, sob os mais variados pretextos.
Pais e mães de santo eram frequentemente acusados de abrigar foragidos da polícia, de provocar desordem, de fazer barulho excessivo… Com o surgimento da umbanda, em 1908, a perseguição aumenta. A maioria das casas de umbanda ou de religião de nação africana passa a se autodenominar de “centro espírita” ou “centro espírita de umbanda” como um meio de driblar a perseguição da polícia.
O resultado disso foi uma grande confusão e mistura de conceitos. Para muitas pessoas, até hoje, espiritismo, umbanda, batuque, candomblé, é tudo farinha do mesmo saco. Se quiser, leia aqui o artigo Espiritismo e umbanda. Conheço muitos espíritas que têm medo ou vergonha de assumir sua postura religiosa. Temem a reação da família, dos parentes, dos vizinhos, dos colegas. Como se a opinião dos outros tivesse alguma importância quando tratamos de nossas próprias crenças e convicções filosófico-religiosas.
É que ainda há muito preconceito, principalmente em lugares pequenos, onde todo mundo se conhece. Frequentei a umbanda e o batuque na infância e adolescência, e sei que o preconceito é forte. Alguns confrades espíritas se arrepiam só de ouvir falar de umbanda… Mas julgam sem conhecê-la.
Não tenho os dados do IBGE, mas sei que o número de espíritas aumenta cada vez mais. Não só em quantidade de adeptos. Muitos começam a se assumir como espíritas só agora. Muitos só agora criam coragem de declarar que são espíritas. Até pouco tempo atrás, frequentavam o espiritismo mas se declaravam de acordo com a religião em que foram batizados.
O Brasil é o maior país espírita do mundo, e os conceitos básicos do espiritismo vão se propagando rapidamente. Muitos adeptos de outras religiões acreditam em reencarnação e na possibilidade de comunicação entre encarnados e desencarnados. Conceitos importantes como A Lei de causa e efeito, que muitos chamam de carma, são difundidos entre religiosos de todos os matizes.
O Brasil está deixando de ser um país de analfabetos, a informatização vai se alastrando entre a população. Milhões e milhões de pessoas têm acesso a informações que há bem pouco tempo eram exclusividade de alguns poucos privilegiados. Vivemos um processo de ebulição nos costumes, na política, nas artes, nas comunicações e nas religiões. Observe a imensa propagação de diversas denominações religiosas nos meios de comunicação, principalmente a televisão. Note o crescimento fabuloso de algumas igrejas. O Brasil passa por uma revolução em sua trajetória. Quem preferir ver o lado negativo disso tudo terá muito o que olhar. Mas quem quiser ver o resultado benéfico que vai sair dessa efervescência terá diante dos olhos o cenário de uma profunda mudança de valores. O brasileiro vai perder o medo e o complexo de inferioridade. É crer para ver.
A liberdade que vivemos hoje não tem precedentes. Esta é provavelmente a sua primeira reencarnação com essa liberdade de escolha e de manifestação do pensamento. Valorize a liberdade religiosa, seja você espírita ou não.