Muitas pessoas estranham o fato de que Jesus não tenha revogado costumes. Hoje, com a conscientização das pessoas em relação à alimentação animal, por exemplo, alguns defensores dos animais se revoltam porque Jesus não proibiu a alimentação animal. Outros tentam encontrar, nas palavras de Jesus, argumentos a favor de suas causas. O “não matarás”, que nem é de Jesus (é de Moisés) incluiria os animais. Ou então, quando Jesus nos manda amar uns aos outros, o amor aos animais estaria implícito aí.
Não vem ao caso discutirmos o alcance das palavras citadas de Moisés e de Jesus. Estamos aprendendo a amar, seja a humanos ou a animais. Mas o fato é que Jesus não veio impor novos costumes. Jesus não aboliu os sacrifícios animais, hábito que hoje nos parece selvagem. Jesus não só não o aboliu como recomendava o seu cumprimento. É verdade que Jesus desrespeitou normas anacrônicas, como a obediência cega ao sábado. Também descumpriu regras preconceituosas, como o desrespeito à mulher: Jesus foi o primeiro a tratar a mulher como igual ao homem. Mas Jesus seguiu a religião judaica, comeu o que se comia, bebeu o que se bebia, vestiu o que se vestia na época.
Jesus veio nos auxiliar em nosso processo de conscientização. Veio nos mostrar o caminho. Mas quem deve trilhar o caminho somos nós, com nossos próprios pés. Os costumes que temos que mudar somos nós que devemos mudá-los por nossa conta e risco, sem que alguém precise nos determinar isso como um “mandamento”. Não adianta enchermo-nos de regras de conduta. Os fariseus, no tempo de Jesus, eram cheios de regras de conduta, e Jesus os combateu fervorosamente. Pois as regras nós as cumprimos exteriormente, mas a consciência nós a obedecemos interiormente. E, uma vez esclarecida a consciência, logo a obedecemos; e obedecendo à consciência, inexoravelmente modificamos nossos hábitos.
Se Jesus tivesse implantado novos hábitos, nós provavelmente os seguiríamos. Mas continuaríamos indefinidamente podres por dentro, como os fariseus, comparados por Jesus a “sepulcros caiados”: adornados por fora, mas cheios de podridão por dentro.
O aprendizado é importante, não há dúvida. Mas o processo de aprendizado, para se consolidar, deve partir do íntimo. A palavra “educar”, do latim educare, tem este sentido de “trazer para fora”. Educare vem de ex, “para fora”, mais “ducere”, “guiar, conduzir”. Educar é um processo íntimo. Quando alguém nos ensina algo estamos sendo instruídos, o que também é importante. Mas a educação parte de dentro, é o processo pelo qual nós conduzimos para fora de nós mesmos as verdades já consolidadas em nós. Estas verdades podem ser informações do subconsciente, onde estão armazenados os dados de todas as nossas existências, ou podem ser verdades cósmicas que trazemos essencialmente conosco em nossa própria natureza de filhos de Deus, creados à imagem e semelhança de Deus, portanto, perfectíveis.
Se somos creados por Deus, mesmo que “simples e ignorantes”, trazemos em nosso íntimo as verdades cósmicas. Um filho herda a natureza de seu pai. Não seria crível que nós, creaturas de Deus, não herdássemos de Sua essência. Nossa educação espiritual, então, é trazer à tona da nossa consciência as verdades embrionárias ou adormecidas que fazem parte do nosso ser. E isso compete exclusivamente a nós mesmos. Nem Jesus, mestre dos mestres, pôde educar quem não se dispôs a educar-se. Conscientizamo-nos com o Evangelho de Jesus e, a partir daí, iniciamos o nosso processo de educação, de eduzir de nosso íntimo as grandes verdades cósmicas, válidas em todos os lugares e em todos os tempos.