Muitas pessoas me perguntam acerca das interpolações na Bíblia; das passagens que foram forjadas, inventadas para atender a interesses da Igreja. Esse é o tema deste vídeo. Se preferir, leia o texto logo abaixo.
Eu não posso falar com autoridade sobre o Antigo Testamento porque eu não conheço o hebraico, portanto não tenho acesso aos textos mais antigos. Mas acredito que o grau de certeza em relação à originalidade dos textos hebraicos seja menor.
Mas o Novo Testamento foi todo ele escrito em grego, os livros que compõe o Novo Testamento, que contam a História de Jesus e posterior a Jesus foram escritos em grego. E nós temos milhares de manuscritos à nossa disposição.
É verdade que a maior parte desses manuscritos ou são muito recentes, já da Alta Idade Média, e portanto sem grande valor comprobatório; ou são apenas fragmentos, são pedaços de papiro dos primeiros séculos. Mas a comparação entre todo o material que temos à disposição me permite afirmar com muita segurança que o texto que nós temos hoje é muito próximo do texto original.
Alguns historiadores falam que há milhares e milhares de diferenças entre um texto e outro. É verdade. Mas essas diferenças são erros de grafia, são palavras trocadas de lugar, não são diferenças que façam diferença.
Há algumas passagens que tudo indica que tenham sido acrescentadas. São poucas, eu abordo algumas delas nos meus estudos sobre o Evangelho de Lucas e o Evangelho de João. Mas mesmo elas não alteram o entendimento dos livros e muito menos o teor do ensino de Jesus.
Há estudiosos que têm se dedicado exclusivamente a tratar dessas passagens ditas polêmicas. Se a sua intenção é abalar a crença dos crentes, eles estão conseguindo. As pessoas que se acostumaram a crer na Bíblia ao pé da letra, quando vêem que a coisa não é bem assim, que não aconteceu tudo como elas aprenderam, elas vacilam e se tornam descrentes.
A crença só resiste quando ela vai além da crença, quando ela é fé – fé e crença são coisas diferentes.
A fé resiste, pois a fé pressupõe o entendimento do ensino proposto. E o ensinamento está além de questões teológicas.
O espírita de um modo geral não conhece a Bíblia. E aqueles que conhecem um pouco, que gostam do Evangelho, eles são muito influenciados pelo ensino dos espíritos. Emmanuel, por exemplo, fala muito a respeito do tempo de Jesus. Emmanuel tem algumas narrações históricas, como Paulo e Estevão. Mas há outros espíritos, há vários autores espirituais que pretendem recontar a História.
Eu repito aqui o que eu já disse em outras ocasiões: Eu respeito muito Emmanuel. Os seus ensinamentos baseados no Evangelho são de um valor incalculável. Mas eu não considero o ensino dos espíritos na minha análise dos textos do Evangelho ou da Bíblia de um modo geral.
Em primeiro lugar porque a Bíblia é o livro sagrado de muitos religiosos – ou pelo menos a referência de muitos religiosos – e para manter qualquer diálogo com eles nós temos que respeitar as suas crenças. Então eu não vou citar Emmanuel para um evangélico, por exemplo, porque Emmanuel não significa nada para o evangélico. Para dialogar com eles eu fico só com a Bíblia, e é mais do que suficiente.
E em segundo lugar, eu acredito que o trabalho de pesquisa e de entendimento dos livros que compõe a Bíblia, principalmente o Evangelho, isso compete a nós. Não podemos nos basear numa reescrita da História por parte dos espíritos. Mesmo que Emmanuel seja um ser elevado – e ele demonstra isso no seu ensino – nós não podemos criar para nós um novo sistema de crenças limitadoras.
Nós falamos muitas vezes dos católicos e evangélicos que acreditam na Bíblia ao pé da letra, mas nós acabamos fazendo a mesma coisa em relação aos espíritos. Isso para mim é inaceitável.
O Espiritismo surge como a fé raciocinada. Recair novamente num conjunto de crenças cegas é regredir – eu estou fora dessa.
Só com o uso da razão – e procurando desenvolver a intuição, que vai além da razão – é que nós conseguimos estabelecer uma base de crenças inabalável.
Se eu descubro que determinadas passagens do Evangelho são interpolações isso não abala a minha crença, porque a minha crença está fundamentada em bases mais sólidas. Se eu vejo divergências entre o que ensina a História e o que ensinam os espíritos, a minha crença não se abala, porque a minha crença não depende de fatores externos ou de opiniões externas para existir e se manter firme.
Cuidado com as suas crenças.