A principal recomendação de Jesus aos seus apóstolos foi essa: – Ide e pregai o Evangelho a toda criatura. O Evangelho nos liberta dos erros. Conforme vamos incorporando os seus conceitos, praticando seus ensinos, vamos deixando para trás a nossa escravização à matéria. É nosso dever, como filhos de Deus, passar adiante os conhecimentos que vamos adquirindo.
Há uma passagem no Evangelho em que pedem a Jesus que lhes dê um sinal. Queriam um sinal de que Jesus fosse o messias, de que fosse o enviado de Deus que há tanto tempo eles esperavam. Havia inúmeras profecias no Antigo Testamento dando conta de que Deus enviaria um messias, o ungido de Deus, o escolhido de Deus para salvar o povo de Israel.
Quando Jesus apareceu, poucos o reconheceram como o messias, como o enviado, como o Cristo, a maioria duvidou. E dentre estes que duvidaram, numa ocasião pediram que ele lhes desse um sinal.
Ainda hoje é comum que as pessoas peçam sinais. Tem pessoas que confundem a divulgação do Evangelho, ou a divulgação dos princípios espíritas com a tentativa de converter ou convencer. Então, de vez em quando, aparece alguém dizendo, por exemplo, que se eu fizer um espírito se materializar na frente da pessoa, ela se converte ao Espiritismo.
Não é nossa intenção converter ninguém, o Espiritismo não precisa de prosélitos. E, mesmo, não seria possível nem para mim nem para ninguém fazer um espírito se materializar.
Espírito somos nós, nós somos espíritos, nós estamos encarnados, estamos num corpo de carne. Aqueles que morreram para a matéria são espíritos desencarnados, mas são seres individuais como nós, com livre arbítrio, e nós não temos poder nenhum sobre eles.
Mas o fato é que pediram um sinal a Jesus, e Jesus lhes disse que não daria sinal nenhum. O único sinal que ele daria seria o sinal de Jonas.
O que seria o sinal de Jonas?
O Evangelho de Lucas dá a entender que Jonas conseguiu converter as pessoas de um outro povo. Que, embora essas pessoas fossem de um outro povo, de uma outra cultura, de uma outra religião, foram convencidas por Jonas, e que aquelas pessoas próximas de Jesus, sendo que Jesus era mais importante que Jonas, não se deixavam convencer, eram incrédulas. Então, pela sua incredulidade, essas pessoas mais tarde seriam cobradas.
Já no Evangelho de Mateus, Jesus lembra que Jonas esteve durante três dias nas entranhas de uma baleia. Podemos entender com isso que o sinal de Jonas seria o fato de que Jesus ficaria três dias nas entranhas da terra e isso seria o sinal de Jonas, seria o sinal que Jesus daria a aquelas pessoas, seria o meio de convencer aquelas pessoas.
Lucas nos oferece uma ideia e Mateus nos oferece outra. Temos que concluir, então, que: ou Jesus falou muito mais a respeito desse assunto e cada um ficou com uma parte, cada um guardou apenas o sentido que julgou mais apropriado; ou que Jesus se referiu a Jonas de um modo geral – ao livro de Jonas, que é um dos livros da Bíblia, e cada evangelista deduziu por si mesmo qual seria o sinal a que Jesus estava se referindo.
Jonas foi um profeta, e essa história narrada no livro de Jonas conta que Deus designou Jonas a pregar ao povo de Nínive, que era uma cidade muito importante, capital da Síria. Aquele povo estava decadente, cometendo muitos erros, e Deus designa Jonas para converter aquele povo (ou para fazer aquele povo “se arrepender”) – a palavra é metanoia, que quer dizer “mudança de mente”, “reforma mental”.
Acontece que Jonas, como quase todos os israelitas, e como quase todos nós ainda hoje, aceitava pregar apenas para o seu povo, não queria se rebaixar pregando para um povo pagão, para um povo gentio, para um povo diferente do seu, então ele tenta fugir de Deus – entra num navio e pensa que com isso vai se esconder de Deus.
Deus manda uma forte tempestade contra o navio, e a tripulação do navio se dá conta de que aquela tempestade começou por causa de Jonas, e decide, então, jogar Jonas no mar.
A história conta – e claro que nós não precisamos acreditar nisso ao pé da letra – que uma baleia engoliu Jonas; Jonas ficou três dias dentro da baleia, então se arrependeu, orou a Deus, e a baleia devolveu Jonas à terra.
Jonas, então, depois de ter passado três dias dentro da baleia, resolve ir pregar aos ninivitas. Faz isso, e obtém muito sucesso. Eles acreditam na palavra de Jonas e se arrependem dos seus erros, mudam a sua mente, passam por uma transformação mental. Essa, resumidamente, é a história de Jonas.
Quando aquelas pessoas pedem um sinal pra Jesus, Jesus se refere a elas como uma geração incrédula. Jesus não está se referindo à geração de pessoas daquela época, ele se refere à geração de espíritos, a geração de espíritos da Terra, aos espíritos que foram confiados a ele – e que somos nós: nós somos a geração de espíritos sobre os quais compete a Jesus zelar, orientar, guiar para o caminho reto que leva a Deus.
Qual é o paralelo que há entre a história de Jonas e a história de Jesus?
Jonas, antes de ser engolido pela baleia, só queria pregar para o seu povo, a sua pregação ficava circunscrita ao seu povo. Jesus, antes de ficar três dias nas entranhas da terra, também teve a sua pregação circunscrita àquela região. Foi depois de Jesus ter ficado três dias nas entranhas da terra, e reaparecido, que a sua palavra, que o seu ensinamento, que a sua pregação passou a se propagar por toda a Terra, e é para isso que Jesus nos chama a atenção, que o seu ensinamento deve ser para todos e não para um pequeno grupo isolado.
Nós vemos hoje milhares de denominações religiosas que se dizem cristãs e cada uma delas diz ser a dona da verdade, cada uma delas oferece a salvação, como se as outras não fossem capazes de oferecer salvação.
Eu, particularmente, como espírita, acredito que a salvação se dê por nós mesmos. Jesus não veio salvar ninguém, Jesus veio nos ensinar o caminho da auto-salvação. Aliás, se não fosse assim, não haveria motivo para ele nos deixar o seu ensinamento moral, bastaria ter aparecido pela Terra, dizer que teríamos que acreditar nele, ou no nome dele, para sermos salvos, e não foi isso que aconteceu.
Então este é o sinal de Jonas, o ensinamento de Jesus se propagando pela Terra, sem grupismos, sem limitações impostas pelo preconceito dos homens. Aquelas pessoas que pediram um sinal a Jesus, os espíritos que animaram aquelas pessoas estão entre nós hoje, possivelmente muitos de nós sejamos aqueles espíritos que pediam sinais a Jesus, e hoje nós vivemos o sinal de Jonas, que é o seu ensinamento moral sendo propagado a todos. Passaram-se dois mil anos e o seu ensino está disponível para nós como nunca esteve antes.
Muitas pessoas se revoltam contra a Igreja Católica, principalmente pelo longo período da Idade Média, a que alguns historiadores chamam de Idade das Trevas, pelo fato de o conhecimento ter ficado muito limitado, muito restrito aos membros da Igreja. Mas é muito fácil constatar que foi justamente esse isolamento que permitiu que o ensinamento de Jesus chegasse até nós. O ensino de Jesus foi preservado graças a essa limitação que sofreu; se não fosse por isso, teria se perdido, já que nós não estávamos prontos para assimilá-lo naquele tempo.
Outros criticam a proliferação de igrejas que usam o nome de Jesus. É verdade que muitas dessas igrejas são empreendimentos comerciais como quaisquer outros, mas também há muitas pessoas capacitadas e bem intencionadas neste meio, e o que vai ficar de bom nisso tudo – e sempre temos que ver algo de positivo nas coisas que acontecem – é que o ensinamento de Jesus vai sendo propagado, vai sendo popularizado cada vez mais.
Hoje através da internet nós temos acesso ao conhecimento, temos acesso à informação como nunca tivemos antes, e as pessoas que vão percebendo que o ensinamento de Jesus propagado por movimentos religiosos ou pseudo-religiosos aproveitadores que o deturpam, têm a possibilidade de buscar o verdadeiro conhecimento, de estudar por si mesmas, sem dogmas, sem teologias, de conferir por si mesmas os Evangelhos, e concluir a partir do seu próprio raciocínio o que está de acordo com o que lhes foi ensinado e o que não está de acordo. O importante é que o ensino de Jesus está disponível a todos.
Jesus nos disse: “ide e pregai o evangelho a toda a criatura”. E isso está sendo feito hoje. Algumas pessoas estão mais receptivas a isso, outras menos receptivas, nem todas têm a mesma capacidade de entendimento, mas o fato é que o sinal de Jonas a que Jesus se referiu está se cumprindo. O chamado de Deus, o alerta de Deus está sendo ouvido por todos, pelo menos todos têm acesso a isso. Façamos a nossa parte.