Quando eu tinha sete anos eu queria ter um chaveiro. Tinha uns chaveiros de metal que se prendia no ilhós da calça. Eu via alguns guris e gurias usando um chaveiro pendurado no ilhós da calça de brim e achava aquilo muito legal. Queria ter um também.
Não tinha como conseguir um. Não tinha ninguém que me conseguisse um chaveiro, e dinheiro pra comprar eu não tinha. Às vezes, logo que eu acordava, antes de me levantar da cama ficava imaginando coisas. Uma vez me imaginei com uma roupa de super-herói, podia ser do super-homem. Aos sete anos, eu pensava que se eu saísse na rua com uma roupa de super-homem, todo mundo ia pensar que eu era um super-herói. Talvez não pensassem isso, mas eu ia me sentir um super-herói, e era isso o que importava.
Mas uma roupa do super-homem era uma coisa muito, muito distante da realidade. Então eu sonhava com um chaveiro…
Não sei quando foi que um chaveiro daqueles deixou de ter importância pra mim. Não fiquei traumatizado por isso, claro que não.
Hoje quando peguei meu chaveiro vi que ele está muito gasto, e que qualquer hora vou ter que arranjar um chaveiro novo. Mas só isso. Sem pressa, sem importância. Afinal, é só um chaveiro.
Quantas coisas você já quis que hoje você não quer mais? Quantas coisas já significaram muito pra você e hoje já não lhe chamam a atenção?
Nós amadurecemos, e o que já foi nosso objeto de desejo deixa de ter importância para nós. Isso vale para coisas, para pessoas, para sentimentos e desejos. Você pode sofrer porque teve uma perda material, ou porque não conseguiu comprar o carro que você queria, ou porque se separou, ou porque alguém que você ama desencarnou cedo. Essas coisas também vão deixar de ter importância, no futuro. E quanto mais você se ocupar com outras coisas, quanto mais você valorizar o que você tem – suas coisas, seus entes queridos, seus sentimentos – mais rápido aquelas coisas perdem a importância.
Sei de pessoas que gostariam muito de se espiritualizar, de fazer a reforma íntima, de iniciar um novo caminho, mas têm dificuldade de abandonar os seus velhos hábitos. Os seus hábitos são prazerosos, e elas pensam que não vão conseguir viver sem eles.
A verdade é que, quando nos espiritualizamos, nossos velhos hábitos perdem a importância, já não são tão atrativos, parecem… parecem aquele chaveiro que eu queria aos sete anos.