Eu publiquei um artigo chamado O que os espíritos ensinam? em que eu trato daquilo que os espíritos nos ensinam e daquilo que os espíritos não nos ensinam. A tialle, que é leitora do site Espírito Imortal, me fez a seguinte pergunta:
Amigo Morel, novamente vim beber nessa fonte de claridades que é esse site. Mas, eis que me deparo com uma fala sua que me causou muita estranheza :
“… para os servidores dos centros espíritas que já estejam ambientados com o trabalho envolvendo magia, envolvendo iniciados.”
Pois desconheço centro espírita (espírita) que desenvolva trabalhos de” magia” e onde seus trabalhadores sejam “iniciados”.
Pode ser um centro de oração, esotérico, místico, centro da luz, do Bem, do Amor … sei lá. Mas Centro Espírita?
A palavra magia , inclusive no dicionário , está atribuída ao sobrenatural, a poderes ocultos. Ideia que o Espiritismo sempre buscou desconstruir, tratando cientificamente de questões que popularmente seriam atribuídas à magia.
Se chamarmos agora os processos energéticos, magnestismo e manipulação dos fluidos de Magia, teremos de chamar reencarnação de ressurreição; desobsessão de exorcismo e espiritismo de espiritualismo.
Se eu estiver errada, me auxilie.
Abraço!!!
– Tialle, você pode ter razão no seu ponto de vista, mas a sua analogia não está correta: reencarnação e ressurreição são coisas claramente diferentes; desobsessão e exorcismo são coisas claramente diferentes; espiritismo e espiritualismo são coisas claramente diferentes.
Você associa a magia a processos energéticos, magnetismo e manipulação dos fluidos. Na verdade magia é mais do que isso, ou pelo menos envolve mais coisas do que isso.
As palavras reencarnação, desobsessão e espiritismo foram criadas porque não havia nenhuma palavra adequada para designar essas coisas. A reencarnação evidentemente já era conhecida, mas o conceito moderno de reencarnação precisava de um termo específico; desobsessão é uma prática recente, nascida dentro do centro espírita – era preciso uma palavra nova para designar essa prática; espiritismo é a Doutrina dos Espíritos, surgida em nosso plano em 1857, algo muito mais específico do que o espiritualismo.
Mas magia é magia. Nem processos energéticos, nem magnetismo, nem manipulação de fluidos descreve bem o que seja magia. A preocupação da Doutrina (e de Allan Kardec como o primeiro responsável, em nosso plano, pela Doutrina), como a Tialle lembrou muito bem, é de desconstruir conceitos arcaicos ou supersticiosos. Mas você tira o arcaísmo, tira a superstição e continua existindo magia.
Magia existiu, existe e vai continuar existindo. Eu concordo com que a magia pode ser atribuída ao sobrenatural, aos poderes ocultos. Mas o mesmo acontece com o Espiritismo – exatamente o mesmo. Milhões de pessoas no Brasil confundem Espiritismo com algo sobrenatural e a poderes ocultos. Vamos abandonar o nome espiritismo por isso?
O Waldo Vieira, antigo parceiro de Chico Xavier, que se afastou do Espiritismo para fundar a Conscienciologia, criou neologismos para tudo. A preocupação dele era exatamente essa: afastar qualquer conotação de sobrenatural, de místico, de ocultismo. Espírito encarnado, para a Conscienciologia, é conscin; espírito desencarnado é consciex – consc de consciência. Ele suprimiu a palavra espírito para não dar margem a confusão.
Outra coisa que a Tialle diz é que o Espiritismo trata cientificamente de questões que popularmente seriam atribuídas à magia.
Isso é meia verdade. O Espiritismo fez um grande esforço nesse sentido nas suas primeiras décadas, ainda na sua fase europeia. O Espiritismo que se pratica hoje tem muito pouco de científico. O próprio conceito de fluido, uma expressão muito utilizada por Allan Kardec, ficou perdido lá no século XIX. Na verdade o que nós fazemos hoje é buscar analogias com a ciência para explicar os fenômenos que são tratados pelo Espiritismo.
Quando nós falamos em fluido, magnetismo, energia, ondas, raios, frequência, sintonia, nós não estamos sendo científicos – nós estamos nos servindo de conceitos científicos para fazer analogias.
Eu usei a expressão “iniciados” neste artigo comentado pela Tialle para evitar a expressão “mago”. Para não dizer mago eu disse iniciado. Quem conhece magia é um iniciado. O espiritismo não acabou com a magia. O fato de a Doutrina nos explicar um pouco do funcionamento da mente e de nos incentivar ao estudo das coisas do espírito – isso não faz com que a magia tenha deixado de existir.
Essa minha frase sobre a magia que a Tialle comentou está se referindo à obra do Robson Pinheiro. O que eu disse foi o seguinte:
“Eu não posso fazer uma crítica à obra do Robson porque eu não conheço a sua obra. Muitas pessoas me indicam a sua obra. Acontece que eu tenho uma linha de trabalho e pesquisa bem definida, não dá para fugir muito disso. Eu conheço trechos de alguns livros do Robson. Sei que é insuficiente pra analisar.
Certamente é uma obra de grande valia para os trabalhadores experimentados, para os servidores dos centros espíritas que já estejam ambientados com o trabalho envolvendo magia, envolvendo iniciados. Mas não me parece que seja leitura indicada para o público em geral.”
O Robson Pinheiro (eu não estou indicando a obra dele para ninguém) trata de magia em alguns dos seus livros. Muitas pessoas que procuram atendimento espiritual no centro espírita são vítimas de magia – e isso muitas vezes não é detectado no trabalho de desobsessão – por falta de conhecimento e de prática dos trabalhadores. Isso não é uma crítica a esses trabalhadores, eu não sou melhor que nenhum deles, mas que magia existe, existe.
A quem se interessar pelo assunto, sugiro o artigo Magia negra numa visão espírita