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Judas traiu Jesus?

Por que Judas traiu Jesus?
A trajetória de Judas, o que traiu Jesus

ARTIGO DE AUTORIA DE RODRIGO PNT

Gosto muito de ler na narração dos evangelhos a trajetória de Judas, o que traiu Jesus, sua verdadeira história, aquela que muitos desconhecem e que notamos nas entrelinhas que seguem toda a narração do seu discipulado ao lado do mestre.

Judas era uma espécie de tesoureiro do ministério de Jesus, ele que levava a bolsa ( João 12:4 e 13:29). Nessa bolsa carregava-se toda a arrecadação que era colhida, as doações que em sua maioria era ofertada pelas mulheres, e era Judas quem guardava essa bolsa junto de si. Esses versículos dizem que ele tirava o que ali se colocava, por isso era tido como ladrão por João, outro discípulo. Nenhum outro evangelista, a não ser João, coloca Judas como sendo aquele que, entre os discípulos, cuidava da bolsa.

João o chama de ladrão (12,6). Como uma acusação grave como essa não foi feita por mais ninguém? Se Judas fosse realmente ladrão, por que motivo o deixaram tomando conta do dinheiro? Alguém colocaria um ladrão como seu administrador financeiro? Não seria, evidentemente, para colocar a honra desse discípulo em jogo, fórmula encontrada para se justificar que, por ser assim, ele não teria também nenhum escrúpulo em trair o seu próprio Mestre?

Ao narrar os acontecimentos durante a ceia, Mateus relata que Jesus, ao responder aos discípulos sobre quem o iria trair, teria dito:

Quem vai me trair é aquele que comigo põe a mão no prato. O Filho do Homem vai morrer, conforme a Escritura fala a respeito dele… (Mt 26,23-24).

Passagem relacionada ao salmo  41:10, onde Davi reclama sobre um amigo que o trai. O que nos leva a concluir que tal passagem não é uma profecia, assim, não poderia estar relacionada a Jesus, como querem os que buscam, nas Escrituras, apoio para seus dogmas. Davi foi traído por um amigo, seu próprio conselheiro, de nome Aquitofel, conforme narrativa em 2Sm 15:12-31. O final trágico da vida desse falso amigo foi enforcar-se (2Sm17:23), por isso querem, igualmente, atribuir esse mesmo destino a Judas.

Eu penso que Judas era quem mais amava Jesus, era aquele que era mais fiel ao Cristo, aquele que realmente cria no messianismo dele e que jamais o negaria por medo, como fez Simão Pedro. Porém, a sua crença em Jesus também estava sujeita à teologia da época. Sim, estava Judas totalmente entregue aos desvarios dos mestres e escribas judaicos do tempo do Cristo.

Os judeus sempre creram na vinda de um messias, um libertador secular, um homem que os libertaria do poder dos governos gentílicos. Naquele tempo Jerusalém estava cativa do Império Romano, sujeita ao seu imperador, e parecia o tempo propício para que se manifestasse o Ungido, um novo rei que os libertaria pela força da guerra, sim, da espada. Todos os judeus criam nisso piamente e Judas não era diferente. Judas era um ativista, já havia mostrado isso quando junto com os Zelotes, um grupo que também pretendia libertar Jerusalém pelo fio da espada. Só que quando ele conheceu Jesus teve a certeza que algo de especial havia naquele homem, ora, ele só podia ser o Messias ungido de Yavé para libertar o seu povo, por isso Judas juntou-se ao grupo e diz a bíblia que o próprio Jesus o escolheu. Ora, na certa que ele já sabia o que ia no coração de Judas.

Vou dizer o que eu acho, pela análise das escrituras dos evangelhos o que fica demonstrado é que Judas mantinha uma milícia armada escondida para o momento certo em que as autoridades tentassem prender Jesus. Então eles começariam a guerra para a libertação de Jerusalém, por isso tomava o dinheiro das contribuições e investia em armas e equipamentos. Armando essa milícia, pensava que no momento certo os chefes judaicos não aguentariam o ciúme que sentiam de Jesus e o tentariam prender, ou o mesmo Jesus reclamaria o seu trono de direito, e aí sim, seria a hora de lutar bravamente por Jesus.

Porém, como via o tempo passando e Jesus, sob a sua ótica, nada fazendo, pelo contrário, pregando o perdão dos inimigos e oferecendo a face para ferirem ele, Judas resolveu dar um empurrão e forçar Jesus a lutar. Certamente que Judas morreria por Jesus, porém em combate, porque ele não possuía compreensão da missão que o Cristo viera realizar na Terra. Ele não precisava do dinheiro que pegava e nem era um ladrão, porém aplicava todo o seu ser e as suas posses naquilo em que acreditava, ele foi um dos mais fiéis homens comuns que viveram naquela época, um verdadeiro religioso, um total ativista dentro daquilo que acreditava. Quando foi oferecer Jesus aos mestres judaicos, estes quiseram lhe dar dinheiro e ele aceitou; “Os quais se alegraram, e convieram em lhe dar dinheiro. E ele concordou…” Lucas 22: 5, 6. Mas depois, arrependido, devolveu.

“Então Judas, o traidor, ao ver que Jesus fora condenado, sentiu remorso, e foi devolver as trinta moedas de prata aos chefes dos sacerdotes e anciãos, dizendo: “Pequei, entregando à morte sangue inocente”. Eles responderam: “E o que temos nós com isso? O problema é seu”. Judas jogou as moedas no santuário, saiu, e foi enforcar-se. Recolhendo as moedas, os chefes dos sacerdotes disseram: “É contra a Lei colocá-las no tesouro do Templo, porque é preço de sangue”. Então discutiram em conselho, e as deram em troca pelo Campo do Oleiro, para aí fazer o cemitério dos estrangeiros. É por isso que esse campo até hoje é chamado de “Campo de Sangue”.” Mateus 27: 3-8.

Ficamos a pensar como se sentiu e como ainda pode estar se sentido Judas sobre tudo quanto lhe imputaram como procedimento. O pobre coitado ainda é julgado e condenado, ano após ano, pelos ditos “cristãos”, que, com certeza, não cumprem o “não julgueis os outros para não serdes julgados, porque com o julgamento com que julgardes, sereis julgados, e com a medida que medirdes sereis medidos” (Mt 7,1-2). Não bastasse isso, ainda é humilhado, malhado e, ao final, é espetacularmente “detonado”. Infelizmente esse nos parece ser o seu destino cruel, que se perpetua anualmente nas comemorações da Semana Santa realizadas por determinadas religiões cristãs de tradição.

Rodrigo PNT É presbítero evangélico e admirador e estudioso da Doutrina Espírita.

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