Artigo publicado originalmente em 03/10/2012
O que você acha da pena de morte? Você acredita que há casos em que a pena de morte deva ser aplicada? O espiritismo se opõe à pena de morte. Mas sempre que ocorre algum crime chocante, que ganha a simpatia da mídia por seu potencial de audiência, o assunto ressurge com força. E sempre tem alguém que usa um velho argumento: Você é contra a pena de morte porque não foi com você!
Essas pessoas acham que se a vítima fosse algum ente querido nosso, nós mudaríamos de ideia. Acho que não. Deve ser horrível se um filho, esposa, irmão ou pais são vitimados por uma desgraça bárbara como as que a televisão gosta de mostrar. Aliás, televisão adora sangue, ódio e baixaria. Mas isso já é outro assunto.
O fato é que não vivemos uma única vida. Reencarnamos inúmeras vezes, estamos há milênios evoluindo neste planeta, nesta Terra em que a dor é o principal instrumento de aprendizado. Ninguém é só vítima. Ninguém é só algoz. Ninguém. Se na vida atual a vítima de um crime bárbaro é inocente, honesta, de conduta irrepreensível, ou mesmo criança, sem ter tido tempo de fazer o bem ou o mal, devemos buscar a razão dessa aparente injustiça no passado do espírito imortal.
Os criminosos de hoje provavelmente serão as vítimas de amanhã. As vítimas de hoje provavelmente cometeram crimes no seu passado milenar. Na verdade, todos já cometemos crimes terríveis, não podemos nos iludir a respeito. O que nos diferencia uns dos outros é o que aprendemos após isso, é o tempo que decorreu desde o nosso arrependimento sincero.
Muitas vezes, quando me deparo com um crime brutal, principalmente crimes passionais, envolvendo vínculos familiares, me compadeço do criminoso. Sei que a vítima deve ter sofrido muito, que talvez continue sofrendo por muito tempo no plano astral. Sei que um crime pode afetar muitas pessoas. Os familiares e conhecidos da vítima e do criminoso sempre são atingidos, em maior ou menor grau.
Mas não posso deixar de me importar com o criminoso. Claro que há psicopatas que não estão preparados para sentir remorso, não sofrem as consequências morais de seus atos. Claro que há pessoas de uma maldade estarrecedora, que não conhecem bons sentimentos. Alguns espíritas os chamam de irmãozinhos sem luz, e entendo que não podemos julgar o próximo. Mas são maus; não despertam piedade.
Só que muitas tragédias familiares são desencadeadas em momentos de fraqueza e desespero. Grandes crimes do passado, graves envolvimentos criminosos entre algozes e vítimas vem à tona. Há muitos casos em que os personagens se revezam, uma encarnação após outra, nos papéis de vítimas e criminosos. É vingança após vingança, gastando dezenas de vidas num permanente desajuste. Esse processo só tem fim quando um dos envolvidos se decide a perdoar. Quando resolve perdoar e age firmemente neste sentido, cessa o círculo vicioso, cessa a perseguição, acabam os crimes.
Se o espírito não tem força moral suficiente, se seu propósito não é suficientemente firme, ele sucumbe num momento de fraqueza, num momento de maior dificuldade. E o crime acontece. Todo o ódio de séculos e milênios volta à superfície, a sede de vingança adormecida volta com fervor redobrado, e há uma explosão de raiva e crueldade.
Depois isso passa, mas aí já é tarde demais. E como o criminoso não tem acesso à sua memória espiritual, e por isso não entende o que aconteceu, daria qualquer coisa para voltar atrás e desfazer o que foi feito. Imagino o sofrimento de alguém que comete um crime contra alguém que ama. E não me diga que quem ama não faria uma coisa dessas. É uma meia verdade. Será que sabemos o que é amor? Quem comete um crime assim condena a si mesmo a fixar sua atenção ao crime, à cena do crime, à visão da vítima na hora do crime. Isso é muito pior que pena de morte. E é o que leva à recuperação. É o que pode fazer, um dia, com que o criminoso se arrependa profundamente e se comprometa a reparar todo o mal praticado.
Gostamos muito de julgar. É muito cômodo. É muito fácil. Mas é uma atitude simplista. Todos somos espíritos imortais em evolução. Por incrível que possa parecer, todos somos filhos de Deus, creados à sua imagem e semelhança, portanto, perfectíveis.