Quando li O Livro dos Espíritos pela primeira vez, lembro que as grandes dúvidas que eu tinha foram dissipadas. Achei tudo no Espiritismo muito coerente, racional, digno de credibilidade. Todas as minhas dúvidas da época foram esclarecidas. Todas menos uma. A questão dos animais. Nada ficou muito claro. Li outros livros, como os de André Luiz, que retratam algo diferente do que o que está posto no Livro dos Espíritos.
Não tenho interesse especial pelo assunto. Não sou ativista, não faço campanha em prol dos animais. Não os como, não os maltrato e respeito o seu espaço. Não pense que não gosto de animais; gosto, só não tenho paixão por eles.
Sei de livros que tratam do assunto. Mas já li tantas opiniões diferentes que, por um bom tempo, não quero mais saber de teorias. Minha visão sobre os animais é sob o ponto de vista da evolução e da Lei do progresso. Sou um espírito e os animais não são.
Algumas pessoas levam tão a sério a sua defesa dos animais que sem perceber acabam atribuindo a eles valores humanos. Humanizam os animais. Dizem que gostam mais de bicho do que de gente. Tudo bem, cada um gosta do que achar melhor. Mas os animais não são desafio à altura dos nossos sentimentos. Um cachorro perdoa sempre. Será por altruísmo e generosidade ou será porque o que prevalece em sua memória descontinuada é a parte boa do seu dono? Animais desenvolvem sentimentos junto aos humanos, qualquer um percebe isso. Somos seus irmãos mais velhos de evolução.
Animais não mudam suas ideias e seus ideais. Aliás, não os têm. Não oferecem a complexidade de um ser humano que nasce bebê, é criança, vira adolescente, adulto e velho. O animal não vai abandonar você não porque ama você, mas porque não tem ambição. Claro que ele gosta do seu dono. Mas os filhos também gostam dos pais e saem de casa.
Animais não têm ambição, e essa talvez seja a diferença mais marcante entre nós e eles. É a ambição que move o espírito. É a ambição que faz o espírito querer mais, estudar, imaginar, trabalhar, inventar, crear. Animais não sentem falta de nada além do seu conforto momentâneo. Não têm vontade de ser mais, ter mais, não têm livre-arbítrio, pois são movidos por instintos e sentimentos fragmentários. Não têm responsabilidades, nem remorsos, nem nada que dificulta e desafia o convívio entre humanos.
Quem se habitua com um animal de estimação sofre muito quando ele morre. Fica um vazio como se fosse uma pessoa que tivesse desencarnado. E fica estranho pensar que a separação é pra sempre. Pra quem conhece a reencarnação, é difícil admitir que o animal não é espírito, que não permanece indivíduo.
Acho complicado acreditar nisso. Nunca tive um animal de estimação por muito tempo. Mas há famílias que têm cachorro há treze, quatorze anos. Às vezes são mais velhos que os filhos adolescentes. Quando morrem, deve ser como ficar de luto. Mas também não posso conceber que o animal seja espírito, que desencarne e permaneça como ser individual. Não sei.
Costumo me ocupar com coisas que me dizem respeito no dia-a-dia, mas essa é uma questão sobre a qual muitas pessoas me questionam. Toda semana tem alguém inconsolável pela perda de um animalzinho de estimação. Querem saber se devem orar, se devem contar com uma futura reencarnação do cachorro ou do gato. Dá vontade de consolar, mas como vou dizer algo em que não acredito?
Essa eu acho que só desencarnando pra saber, e olhe lá…