O Espiritismo diz que a inteligência é um atributo essencial do espírito. Por que não acabamos com o sofrimento através da inteligência?
Se nos compararmos com um século ou dois atrás, não é preciso muito esforço para perceber o quanto evoluímos em conhecimentos. Nossa inteligência está muito mais desenvolvida do que estava num passado nem tão distante. Qualquer universitário meia-boca sabe mais que muito sábio da Idade Média.
Não podemos dizer a mesma coisa em relação ao aspecto moral. É inegável que melhoramos. Não há mais lugar para aberrações como a escravidão, o domínio da mulher pelo homem, perseguições religiosas. Mas a inteligência avançou bem mais que a moral. Alguns avanços morais são apenas aparentes. São controles impostos pela legislação, pelos novos hábitos da sociedade.
Algumas décadas atrás os avanços tecnológicos de hoje eram inimagináveis. A internet não estava nas cogitações nem dos mais visionários. Temos acesso, hoje, a praticamente toda informação de que precisamos. Se a solução de nossos problemas estivesse diretamente ligada ao nível de informação, estaríamos prestes a resolver as questões mais aflitivas.
Por que não acabamos com o sofrimento através da inteligência? Simples. O sofrimento é mais antigo. Bem mais antigo. Não vai desaparecer de uma hora pra outra. Nossa inteligência vem se aprimorando agora, não faz muito. Há alguns séculos era privilégio de uns poucos. A grande maioria dos espíritos vinculados à Terra não havia desenvolvido a inteligência como se desenvolve hoje, por meio do estudo metódico e do trabalho organizado.
O sofrimento, por outro lado, é muito antigo. Sentimentos como raiva, inveja, ciúme, acompanham o homem desde a pré-História. Em algum momento no Paleolítico, que vai de dois milhões de anos até dez mil anos atrás, os espíritos aqui encarnados começaram a formar agrupamentos familiares mais definidos, e um dia certamente homens e mulheres foram preteridos por outros e inauguraram o ciúme. E o despeito, e a traição, e a vingança. Claro que eram sentimentos primitivos, pouco mais que instintivos, mas essas coisas que sentimos hoje não são ainda instintivas?
O sofrimento é muito mais antigo que o desenvolvimento da inteligência. É impossível que de um momento pro outro passemos a racionalizar tudo e consigamos superar tantos milênios de sofrimento.
Foi preciso desenvolvermos a inteligência para compreendermos a importância do amor. Não fomos capazes de contrapor o amor à brutalidade dos nossos sentimentos primitivos. Podíamos ter descoberto e experimentado o amor há muito tempo. Há milênios que nos reunimos em grupos para nos proteger, há milênios precisamos uns dos outros para sobreviver, há milênios existem mães que amamentam e cuidam, há milênios homens e mulheres precisam uns dos outros para terem, no mínimo, aconchego, conforto físico, prazer. E a partir de um certo ponto da História, carinho, bem-estar, talvez amor.
Hoje temos a inteligência razoavelmente desenvolvida a nosso favor. Evoluir moralmente, hoje, já é uma questão de escolha bem definida. Não quer evoluir quem é burro. Pois sabemos que o Mal é fruto da ignorância, e não há mais desculpa para a ignorância hoje.