No Espiritismo há o famoso lema “fora da caridade não salvação”.
Chegará o dia em que faremos o bem naturalmente, como algo normal, indiscutível, praticaremos a caridade sem ao menos perceber que o que estivermos fazendo é caridade. A vontade de servir será a razão de nossa vidas, e nos doaremos ao próximo com prazer.
Qualquer pessoa sensata há de perceber que esse dia ainda está um pouquinho longe. O pouco que fazemos, quase sempre, é porque achamos que devemos fazer, seja por ética, por orientação moral cristã ou por dever de consciência. Mas quase sempre pensamos antes de fazer qualquer coisa em benefício do próximo.
É um longo aprendizado, mas estamos no caminho, e, por enquanto, é o que importa. Perceberemos, um dia, que sentenças como “é dando que recebemos” não são apenas frases bonitas, não são modos de falar, são o retrato de uma realidade universal, de uma Lei cósmica. Pois dar de si é amar, e o amor, estranhamente, quanto mais se dá, mais se tem.
Enquanto não alcançamos esse estágio evolutivo, temos que ser mais pragmáticos. Ficamos, por enquanto, com o sentido mais prático do ensinamento de Jesus de que “não saiba o mão esquerda o que fez a mão direita”.
Não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita
Procuremos não divulgar aos quatro ventos as poucas boas ações que fazemos, tentemos interiorizar a prática do bem com a ação discreta de pequenos atos corriqueiros.
Assim como nós, encarnados, os espíritos desencarnados que nos acompanham vivem, ainda, num patamar evolutivo que não suporta desprendimentos heroicos. Assim como nós nos esforçamos para nos tornarmos melhores e para sermos úteis ao nosso próximo, do mesmo modo os espíritos desencarnados, que acompanham nossa vida com algum interesse, estão construindo, pouco a pouco, os alicerces para uma evolução mais segura. Somos todos comprometidos uns com os outros, evoluímos em conjunto, cada um fazendo a sua parte e procurando ajudar o próximo a fazer a sua.
A proteção espiritual que recebemos é diretamente proporcional aos nossos atos. Ou seja, quanto mais praticamos a caridade, quanto mais fazemos o bem, quanto mais somos úteis, mais somos protegidos pela espiritualidade. Todos nós, encarnados e desencarnados, despertos para a realidade espiritual, estamos empenhados em nossa evolução. Sabendo que o caminho seguro para a escalada evolutiva é a caridade, é natural que se forme uma grande rede interessada em dinamizar o serviço em benefício do próximo.
O modo prático, então, de garantirmos uma maior proteção espiritual, tantas vezes reclamada e até exigida, como se tivéssemos direito a exigir qualquer coisa, é sermos úteis ao próximo. Muitos se queixam dos espíritos obsessores, sem aceitarem que são eles mesmos, com seus pensamentos, palavras e ações negativas, que atraem os espíritos obsessores. Outros, já conscientes de que o espírito obsessor só tem acesso a nós através da sintonia, ou seja, por meio da sua identificação com nossas próprias falhas de caráter, querem saber qual é o meio mais eficaz para evitar a influência espiritual negativa, para evitar a obsessão, para manter uma certa imunidade energética.
O melhor é sempre controlar os pensamentos. Havendo controle sobre o padrão de pensamentos, estaremos livres de interferências indesejadas. Como não chegamos, ainda, ao estágio de exercermos domínio permanente sobre os nossos pensamentos, precisamos de ações práticas. A caridade será, um dia, algo natural, espontâneo; a caridade é, hoje, dever moral; mas a caridade serve, mesmo para aqueles que ainda não se conscientizaram do seu princípio ético, um meio de garantir o interesse e a proteção dos espíritos trabalhadores.
Praticando a caridade, mesmo que, a princípio, como uma espécie de autoimposição, estaremos, pouco a pouco, formando amizades espirituais, despertando a simpatia de encarnados e desencarnados, nos imbuindo paulatinamente da natureza divina do “dar de si mesmo”.