O Espiritismo propõe insistentemente a reforma íntima. Mas para reformar-se é necessário autoconhecimento. Será que você é como parece ser? Você acha que sua imagem exterior corresponde à sua individualidade? Cada um de nós é uma individualidade, mas muitos de nós nunca tivemos acesso a essa individualidade.
A sua imagem exterior, a máscara que você mostra aos outros e muitas vezes a si mesmo, é apenas uma personagem interpretada por você. Você é espírito imortal, experiente mas ainda inconsciente do seu Eu. Alguns de nós estão apenas despertando para o Deus que habita em nós, para o nosso Cristo interno. Outros nem sonham com isso.
Essa personalidade que você apresenta, e que normalmente pensa ser você mesmo, é uma máscara passageira. Pode ter muito de você nessa personalidade, mas não é você. Se você nascesse em outro meio, com outros pais, outros costumes, outra cultura, outras condições, teria muito pouco do que você hoje atribui a características espirituais suas.
O espírito progride lentamente. A cada reencarnação adiciona uns poucos traços às suas características individuais. Para reconhecermos um pouco de nós mesmos é preciso muita sinceridade íntima, é preciso analisar profundamente a si mesmo. Porque a maior parte do que acreditamos serem nossos valores e crenças são apenas aspectos transitórios, que abandonaremos antes de assumirmos um novo papel na matéria, antes de reencarnarmos da próxima vez.
Recebo muitos relatos de pessoas que ficam confusas com suas atitudes durante os sonhos, mesmo que estes sonhos sejam lúcidos. Quando parcialmente libertos da matéria pelo sono físico, temos acesso a um pouco mais de nós mesmos, assumimos outros níveis de consciência a que não temos acesso no estado de vigília. Situação análoga ocorre em manifestações anímicas, quando o médium pensa que há espíritos se manifestando através dele quando na verdade ele está dando vazão a personalidades animadas por ele mesmo em outras vidas.
Poucas pessoas conhecem a si mesmas. Poucas são capazes de fazer uma análise fria e isenta a respeito do que se passa no seu íntimo. A maioria não liga pra isso. E dos que dão importância, só uma pequena parte escapa de iludir a si mesma com intenções e aparências. Você é capaz de perceber as próprias falhas de caráter? Você sabe o que são realmente princípios morais sólidos e o que são apenas fruto de crenças passageiras, convencionalismos e respeito às regras sociais?
Sabe quando você diz uma coisa e pensa outra? Sabe quando você responde uma coisa a uma pessoa e internamente, dentro da sua cabeça, você fala outra coisa? Você faz assim com você mesmo, também. Você se engana a si mesmo. Às vezes pensa que é bonzinho porque ora de vez em quando, porque contribui com alguma entidade assistencial, porque recolheu um gato abandonado ou ajudou uma velhinha a atravessar a rua, mas no fundo você é muito, muito diferente.
É por isso que a reforma íntima, proposta pelo Espiritismo, é íntima. Tem que atingir o íntimo, tem que ser resultado de Vontade, não de mera intenção. Mais da metade das pessoas que eu conheço boicotam a si mesmas. Pensam de uma maneira e agem de outra. Gostariam de fazer ou deixar de fazer determinadas coisas mas se submetem ao mais cômodo. Não conciliam vontade e ação. Ou não fazem coisas boas por medo ou preguiça ou não fazem coisas más por temor ou conscientização.
Precisamos conciliar, harmonizar vontade e ação. Temos que desenvolver vontades boas, temos que desenvolver boa vontade. E agir de acordo. Assim começaremos, pouco a pouco, a sermos nós mesmos.