Como você define a palavra autoajuda? O que autoajuda quer dizer pra você? No Livro dos Espíritos os autores espirituais chamam a atenção de Allan Kardec, várias vezes, a respeito dos diferentes significados que damos às palavras.
Tem espírita que tem um calafrio na espinha só de ouvir falar em autoajuda. Eu, que nunca fui leitor de autoajuda, mas que aprendi que preconceito intelectual é medo de ter seu pouco-saber descoberto, acho que autoajuda quer dizer autoajuda. Isso mesmo, autoajuda é ajudar a si mesmo. Se há um sentido pejorativo nesta palavra que eu não saiba, aviso que nem quero saber.
Andam dizendo que escrevo autoajuda. Pra mim isso soa verdadeiro e aceito como um elogio. Quero que as pessoas ajudem a si mesmas, quero que elas se autoajudem. Mas dizem que Espiritismo não é autoajuda. Já li um bocado de Allan Kardec, e sei que o Espiritismo é uma doutrina filosófica, de base científica e consequência religiosa. E daí? Isso retira do Espiritismo o seu caráter de incentivador da reforma íntima, que, ao final das contas, é ajudar-se a si mesmo?
A reforma íntima é individual, não é um fenômeno social ou de grupo. Sua prática supõe autoconhecimento e a tentativa permanente de melhorar a si mesmo. Isso não é autoajuda? Como fazer a reforma íntima: Não será através do estudo e prática do Evangelho de Jesus? E para que isso seja realizado não é necessária uma boa dose de autoajuda?
Argumentam que a autoajuda não prevê a imortalidade, que é um processo voltado ao imediatismo. Não sei. Sei que para quem quer se evangelizar, para quem quer ter condições de fazer bem ao próximo, para quem quer aprender, se desenvolver, evoluir, crescer moralmente, é imprescindível que se ajude a si mesmo. O resto é má-vontade.
Não creio que qualquer coisa que eu escreva contrarie a doutrina. Minha primeira referência continua sendo Allan Kardec. Mas talvez seja o caso de dizer que não acho Allan Kardec infalível ou dono da verdade. Sou espírita. Mas sou cristão, não kardecista. Meu mestre é Jesus, não Allan Kardec. Kardec teve importância inestimável na codificação. Aconselho sempre que o estudo do Espiritismo comece pelo Livro dos Espíritos. Mas o ensinamento que sigo é de Jesus, não de Kardec.
Defendo que o Espiritismo requer, em sua prática vivencial, qualquer coisa semelhante à autoajuda. Aliás, a prática cotidiana da vivência espírita se ressente, e muito, de método para a reforma íntima. Só o conselho de Santo Agostinho não basta. Acredito que uma disciplina mais rígida surtiria efeitos mais imediatos e sólidos. O que mais ouço é que “cada um tem o seu tempo” e que “a natureza não dá saltos”. As duas afirmações são verdadeiras. Mas há um considerável contingente de pessoas que precisam apenas de “um empurrãozinho” para transformarem o homem velho no homem novo. Não encontrando o ritmo esperado no Espiritismo, acabam engrossando fileiras evangélicas, muito mais dinâmicas e vibrantes.
Esses que se arrepiam ao ouvir falar em autoajuda são os mesmos que matam as saudades da Inquisição e jogam a Zíbia Gasparetto na fogueira. Afinal ela comete a bruxaria de escrever o que chamam de autoajuda. Não levam em consideração que ela, sozinha, divulga mais o Espiritismo do que doze dúzias de ortodoxos juntos. O que ela escreve não é Espiritismo? Dependendo dos parâmetros, não. Mas milhares de espíritas entraram no Espiritismo pela porta dos fundos da autoajuda da Zíbia.
Os altos índices de natalidade do Brasil produzem jovens e mais jovens. Todos os anos são muitos milhares de jovens que começam a pensar, a se questionar, a iniciar sua busca filosófico-religiosa. O que temos oferecido a eles?
Não entenda mal; não estou defendendo que Espiritismo seja autoajuda. Não preciso de rótulos, mas sou muito próximo dos conservadores. Há espaço pra todos e todos são importantes para a propagação e o crescimento do Espiritismo. Apenas não me parece correto ficar batendo nas mesmas teclas de dor, sofrimento, carma, expiação, fatalidade. Nossa atitude perante a vida é uma questão de escolha. Nosso livre-arbítrio nos dá a chance de nos autoajudarmos com uma visão mais condizente com o ensinamento do cristo, que é alegria, paz e confiança.