O Espiritismo define o nosso estado, quando fomos creados por Deus, como “simples e ignorantes”. Simples; sem dúvidas ou questionamentos, sem preocupações, sem indagações íntimas de qualquer espécie. Precisávamos comer, o resto era secundário. Ignorantes; sem sabermos e sem nos questionarmos sobre quem éramos, o que estávamos fazendo ali, para onde iríamos depois.
Muitos milênios se passaram até que conseguíssemos descobrir algo dentro de nós a que chamamos “consciência”. E, mesmo depois de termos percebido a consciência, muitos séculos foram precisos para amadurecê-la.
Esse amadurecimento não quer dizer, de forma alguma, que já sabemos ouvir e obedecer a consciência. Estamos na fase de esforço para isso. Por enquanto a maioria das pessoas percebe a consciência apenas como geradora da dor da culpa.
O sentimento de culpa atinge quase todos. Recebo relatos de pessoas que sofrem muito com suas culpas, às vezes originadas de situações graves, às vezes surgidas a partir de coisas aparentemente banais. Mas muitos se culpam por muitas coisas, e a culpa os paralisa.
É da consciência que nasce a culpa, mas não é essa a função da consciência. Ao percebermos que cometemos um erro, devíamos passar diretamente para o estágio do arrependimento – a necessidade íntima de desfazer o que foi feito, de tentar consertar, remendar, reajustar, ou, se isso não for mais possível, pelo menos compensar de alguma forma.
Mas às vezes a consciência estaciona no sentimento de culpa. O sentimento de culpa é o colapso da consciência. A consciência culpada esgota, num período de tempo mais ou menos longo, as possibilidades de reação, de achar uma saída para o estado de autoacusação depressiva.
Embora a culpa exerça o seu papel de depurar os sentimentos, ela não é, de modo algum, necessária. Podemos nos arrepender, sentir a dor inevitável pelo erro que cometemos, mas agir imediatamente para buscar a recuperação emocional. Sem ação tudo parece difícil. O arrependimento pressupõe ação, pois é o ímpeto de cometer ação contrária à que ocasionou sua tristeza.
O arrependimento é a dor sentida pela dor causada. Por isso o arrependido desenvolve o firme propósito de não repetir o erro, de reparar o dano causado ou de compensar o erro com acertos.
O espírito arrependido está em processo de autocura. Sabe da gravidade do seu erro, sabe que não deve repeti-lo e sabe que deve caminhar na direção contrária à que gerou o erro. É o arrependimento que nos leva a nos comprometermos com o reajuste em relação a outros espíritos. É o arrependimento que norteia os rumos parcialmente traçados antes de nosso reencarne.
Nem sempre nos mantemos firmes nas resoluções tomadas antes de reencarnarmos. Sem a lembrança viva de nossos erros passados, sem a imagem clara do arrependimento que os desvios do passado causaram, podemos deixar de cumprir o que nos propusemos ou até mesmo repetir os mesmos erros que viemos compensar.
Por isso a importância de prestarmos atenção aos nossos pontos fracos. Se analisarmos com cuidado, não são muitos. As falhas de caráter que realmente nos fragilizam são poucas, mas são as mesmas há séculos e séculos. É sobre elas que devemos concentrar nossos esforços, direcionar nossas energias e transformar essa superação em força e entusiasmo pela Vida.