Segundo o espiritismo, o amor é o sentimento por excelência. Jesus promoveu o amor a lei maior ao resumir toda a lei e os profetas nesses dois mandamentos: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Somos partículas de Deus, então amar a Deus é deixar que Ele se manifeste através de nós. Quando isso acontece, sentimos o máximo amor à vida, nos amamos muito, amando a Deus. Quando amamos a Deus de todo o nosso coração amamos a nós mesmos.
Para amar o próximo como a nós mesmos, e para que esse amor seja considerável, é preciso que nos amemos. Quer dizer, esses dois mandamentos, os mais importantes de todos, o resumo de todo o ensinamento cristão, manda que você ame a você. Muito. Mas muito. Algum purista pode achar isso uma heresia. Por quê? Porque talvez interprete esse amor a si mesmo como algo puramente hedonista, o que não é o caso. Quando você sente que ama a Deus? Não é quando você acaba de dar o melhor de si em prol de uma causa digna? Não é quando valoriza as pequenas e grandes coisas da obra do Criador que outras tantas vezes passam despercebidas? Não é quando você ama, simplesmente ama? E amar só é possível quando se ama a si. O tamanho do amor que se tem para oferecer é o tamanho do amor que temos. Ninguém pode dar o que não tem.
Deus é dentro de nós, e nos deu o livre arbítrio para que tenhamos o poder de decisão. Decidimos se deixamos que Deus se manifeste ou não. Na maioria das vezes preferimos manifestar o personagem que criamos, este corpo a que atribuímos personalidade, caráter, mente, como se fosse tudo uma coisa só. Mas quando nos permitimos dar vazão à luz que jaz em nosso íntimo, a essa centelha divina permanentemente pronta a nos guiar, é Deus que se manifesta, e nós sentimos amor, e amamos a Deus, e amamos a nós mesmos. E amando a nós mesmos podemos amar nosso semelhante.
Aqui há uma distinção a fazer. Amar é uma coisa, gostar é outra. Uma das definições mais corriqueiras do amor diz que amar é gostar muito de algo ou alguém. Não é bem assim. Você ama seus inimigos? Jesus mandou. Claro que não quero comparar nossa qualidade de amor com a dele, mas você acha que mesmo ele amava seus inimigos com esse amor meloso e cor-de-rosa que alguns pregam da boca pra fora? Não é assim que os evangelhos o retratam. O que mais vemos é ele soltando o verbo pra cima dos fariseus e saduceus hipócritas.
Amar é desejar o bem, todo o bem possível, sem restrição. É perdoar de todo o coração, é querer a felicidade do próximo. Amar e gostar não são a mesma coisa. Como é que você vai gostar de um inimigo? Alguém com quem você não tem a mínima identificação, com quem você não concorda acerca de nenhum ponto de vista, com quem você não tem nada em comum. Sem falar que esse alguém pode ter lhe prejudicado terrivelmente. Que você perdoe, que deseje tudo de bom, que aprenda a conviver amistosamente se for necessário, mas gostar?!
Gostar é uma escolha, amar é obrigação. Devemos amar nossos semelhantes, e nos encaminhamos pra isso. Mas sempre iremos escolher do que ou de quem gostamos. Mesmo que vivêssemos já num mundo muito mais adiantado que o nosso, onde todas as pessoas fossem amáveis e reunidas conforme suas peculiaridades e anseios, haveria aqueles de quem realmente gostaríamos.
É claro que um dia, num futuro distante, num mundo hoje inimaginável, quando todas as atribulações atuais não forem mais que uma névoa no passado da memória, o amor reinará. Mas estou me dirigindo a você, e não à posteridade. Perdoemos e sejamos mais tolerantes, por enquanto já tá de bom tamanho. Não acha?