Comportamento

Espiritismo de Chico e Divaldo

Chico e Divaldo

Existem blogs na internet criados exclusivamente para falar mal de Chico e Divaldo. Um deles, se não me engano do falecido Jorge Murta, chega a ter os dizeres: “aqui não tem chiquismo e divaldismo”.
 
É uma pena que nós cheguemos a esses extremos. Chico e Divaldo são excelentes trabalhadores, merecem todo o nosso respeito. As suas obras são de valor inestimável.
 
Mas eu quero chamar a atenção aqui para uma questão que é uma tendência – talvez uma tendência natural do ser humano, que é a formação de ídolos.
 
O Espiritismo surge como a Doutrina dos Espíritos. Não é a doutrina de um homem, de um espírito. É a Doutrina dos espíritos, que fala sobre os espíritos – e a Doutrina é dirigida aos espíritos – que somos nós.
 
Idolatria no Espiritismo é um contrassenso terrível. O Espiritismo como Doutrina libertadora, como fé raciocinada vem justamente nos libertar das amarras de dependência que nós criamos. Passamos séculos dependendo de líderes supostamente religiosos para todos os atos importantes da vida civil. Em praticamente todo o Ocidente, pelo menos até a Renascença, nós éramos dependentes da Igreja desde o nascimento (precisávamos ser batizados, senão estaríamos condenados por sermos pagãos) até a morte (precisávamos da extrema-unção para nos livrar dos pecados).
 
Hoje nós sabemos – ou pelo menos deveríamos saber – que a nossa salvação depende exclusivamente de nós mesmos.
 
E aqui temos que falar de Chico e Divaldo. Chico nunca se colocou como um líder. Pelo contrário. Era um exemplo de humildade, e se ele se sobressaiu, para muito além dos limites do Movimento Espírita, foi por conta do seu trabalho. Infelizmente Chico já não é lembrado, por grande parte do Movimento Espírita, como o grande trabalhador que foi. Chico é visto como uma figura lendária, acima do Bem e do Mal.
 
O Divaldo ainda está entre nós, mas já é encarado por muitos como um espécie de santo. Qualquer coisa que ele diga, qualquer declaração (às vezes coisas banais, corriqueiras) é motivo de celebração e idolatria.
 
Chico e Divaldo não são responsáveis por isso. Os responsáveis por isso são os seus admiradores mais fervorosos que extrapolam a condição de admiração e beiram a idolatria.
 
Não precisamos de ídolos. Não precisamos nem de modelos. Se você é espírita, deve ter sempre em mente a questão 625 de O Livro dos Espíritos:
“Qual é o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e de modelo?”
– “Vede Jesus”.
 
Jesus é o nosso modelo e guia. Não precisamos de outro.
 
Mas Chico e Divaldo são ótimos espíritos, são nossos contemporâneos, qual é o problema em ter eles como modelo?
 
O problema é que quando nós idolatramos alguém (e é isso que acontece) nós acatamos as opiniões pessoais dos nossos ídolos como se fossem verdades absolutas. Eles podem ser grandes espíritos, podem produzir excelentes obras, mas continuam sendo espíritos cheios de falhas de caráter assim como nós. Um pouco melhores, mas ainda em plena escalada evolutiva.
 
Além disso, a missão deles é a missão deles; algo bem particular, específico. Nós temos as nossas pequenas tarefas e o nosso foco deve ser o cumprimento das nossas tarefas a partir dos nossos próprios recursos.
 
Por que essa tendência de idolatrar pessoas?
Porque, no fundo, esperamos que elas façam por nós aquilo que nós mesmos devemos fazer. Os grandes líderes políticos de massa, por que eles são tão idolatrados? Porque o povo espera que eles resolvam os seus problemas; os líderes religiosos, por que são idolatrados? Por que os fiéis esperam que eles resolvam os seus problemas.
 
O espírita não é um ser melhor do que os outros só porque é espírita. Existe, sim, essa tendência à terceirização. Eu rezo pro Chico e o Chico vai resolver os meus problemas. Eu ouço uma palestra do Divaldo, ele diz um monte de coisas que eu quero ouvir, fecho os meus ouvidos pra duas ou três coisas que ele disser que eu não quero ouvir e assim eu faço “a minha reforma íntima”.
 
Faz nada!
 
Não faz coisa nenhuma!
 
Se você não percebeu ainda que nós somos seres com exatamente as mesmas possibilidade de Chico, Divaldo e qualquer outro, você não entendeu nada!
 
Qual é a real diferença deles para nós?
 
Eles se esforçam mais. São mais disciplinados, põe o dever acima da comodidade. O resto é apenas consequência da caminhada de cada um – o que realmente nos diferencia é isso.
 
Então não adianta se iludir formando santos e criando uma atmosfera de misticismo em torno dessas pessoas. Se queremos homenageá-los devemos trabalhar em benefício do próximo. Se queremos mostrar a eles o nosso reconhecimento temos que estudar para nos esclarecer cada vez mais e trabalhar em benefício do próximo. O resto é conversa pra boi dormir.
 
Nosso modelo e guia é Jesus, não é Chico nem Divaldo. As opiniões de Chico e Divaldo são apenas isso: opiniões. Merecem e devem ser analisadas. Assim como isso que eu estou dizendo aqui. Você tem todo o direito de não concordar. Mas de preferência use a razão; não venha com argumentos emocionais.
 
Você é o responsável pela sua evolução. Só você pode fazer de você mesmo um ser melhor. Não copiando alguém ou tomando as opiniões de alguém ao pé da letra. Mas desenvolvendo as suas melhores características, respeitando a sua maneira de ser, pensando com a sua própria cabeça.
 
Você tem que pensar com a sua cabeça. Você tem que ter a sua opinião, o seu entendimento. Não na base do “ouvi falar”, mas fazendo as suas próprias experiências.

Conheça meu canal no Youtube!

Artigo AnteriorPróximo Artigo